Não há limitação de pista para o voo lotado do oportunismo: o tema “reforma do aeroporto” serve de palco para dezenas de políticos e burocratas ganharem espaço na mídia.
Não se fala em outra coisa: a reforma do Aeroporto Lauro Kortz está movimentando como nunca o cenário político, reunindo integrantes de todas as matrizes políticas em encontros, entrevistas, atos oficiais para assinaturas de papéis e infindáveis declarações em redes sociais, pessoais ou institucionais.
O tema já foi abordado aqui no site em fevereiro de 2017. No texto “Passo Fundo e a interminável novela do aeroporto Lauro Kortz“, mostramos os fatos em torno da licença ambiental para as obras de ampliação e as limitações que não seriam corrigidas por essa reforma. A leitura do material de fevereiro é vital para o entendimento deste complemento.
Dez meses depois do texto, voltamos a falar do Lauro Kortz em um momento no qual a prefeitura de Passo Fundo paga um comercial na RBS TV para dizer que está empenhada na reforma do aeroporto, em uma peça com requintes de produção, atores e o incrível voo de um avião que nunca tocará o solo destas paragens. A licença poética mistura elementos da comunicação institucional (identidade visual oficial) com frases e nuances já usadas na campanha eleitoral do prefeito Luciano Azevedo.
Cenas do comercial da Prefeitura na RBS TV: dramatização, arte de agência e avião incompatível com o aeroporto de Passo Fundo.
A demonstração em TV aberta do empenho da Prefeitura em dizer que está trabalhando para que o aeroporto estadual seja ampliado custou caro ao pagador de impostos passo-fundense: quase R$ 16 mil para a produção e R$ 21 mil para a exibição do vídeo na RBS – 36 vezes durante o mês de dezembro – com a versão em áudio na Gaúcha AM/FM. As informações foram repassadas de forma oficial pela Prefeitura, em 15 de dezembro.
Curiosamente, o comercial exibido na RBS não foi publicado na página oficial da Prefeitura no Facebook, ainda que o “assunto aeroporto” seja frequente nas postagens.
Vídeos mais recentes da Prefeitura no Facebook: nada de aeroporto.
Um aspecto importante de toda esta campanha de marketing sincronizado entre políticos é a enxurrada de hipérboles sobre a ampliação do aeroporto. Tudo será maravilhoso, a obra vai impulsionar o desenvolvimento e era o que faltava para a cidade decolar. Paralelamente, pouco se fala de concreto sobre o que será feito e o que isto resultará em melhoria.
Assinatura do “termo de compromisso”: inúmeros políticos e assessores reunidos em Porto Alegre no último dia 7 de dezembro. Tudo isso para uma assinatura de papel que promete seguir com a elaboração de editais e licitação das obras do aeroporto. Saiba mais, aqui.
A situação do aeroporto nos últimos anos
Questionamos em novembro o governo gaúcho sobre a situação do aeroporto. A resposta foi demorada, com sucessivos atrasos em todos os prazos legais para o retorno. Os responsáveis alegaram a falta de estrutura e coleta manual de informações para a resposta.
Sobre o faturamento, as principais fontes de receita são as tarifas aeroportuárias e as concessões. Os valores são os seguintes:
O aeroporto faturou pouco mais de 1 milhão em 2015 e teve um acréscimo de 30% em 2016. Nós solicitamos o faturamento mensal, mas a Casa Civil retornou nesta forma: o somatório no ano por tipo de receita.
Os gastos para manter a estrutura são elevados. Para o mês de outubro de 2017, foram R$ 6.497,57 para energia elétrica (RGE), R$ 164,13 para a telefonia, R$ 9.185,12 para manutenção dos equipamentos de proteção e auxílio ao voo (TELEAR) e o maior gasto com a terceirização dos serviços de inspeção de bagagem e passageiros com a empresa Águia Serviços de Transporte Aéreo, no valor de R$ 116.191,15. Há uma única funcionária do Estado trabalhando no aeroporto, com salário bruto de cerca de 6 mil reais.
Notem que o aeroporto opera no vermelho: tomando por base o mês de outubro, o custo no ano chega em R$ 1,6 milhão.
Não há espaço disponível para instalação de quiosques e também não existe contrato de publicidade com qualquer empresa.
O estacionamento não tem uso remunerado. A empresa de locação de veículos tem contrato de ocupação de uma área dentro do terminal, nada além.
Plano Diretor do Aeroporto de Passo Fundo
Lançado em abril de 2017 pelo LABTRANS (Laboratório de Transportes e Logística da Universidade Federal de Santa Catarina), o Plano Diretor é um documento que mostra, em detalhes, a situação atual do aeroporto e todas as mudanças previstas. Estes são os dados que vão orientar a elaboração do edital para as obras e o destino para a tão falada verba de R$ 45 milhões do Governo Federal (que até a contratação já valerá 10% menos):
Resumo das modificações previstas, segundo o plano diretor para o Aeroporto de Passo Fundo.
Os dois itens mais importantes deste projeto são a construção de um novo terminal de passageiros e pátio de aeronaves. De resto, construção de pista de táxi (taxiway) e modificações na pista, que continuará com a mesma largura de 30 metros e perderá 20 metros no comprimento, ficando com 1680 metros. O corte será na cabeceira que fica ao lado da BR-285. O pavimento deverá ser melhorado e a pista receberá áreas de segurança nas cabeceiras. As vagas de estacionamento que hoje são 80 passarão a ser 78 (sim, vamos perder duas vagas).
Quando se fala em capacidade para receber aviões maiores, nada muda. O aeroporto continua com a classe 3C, sendo a aeronave crítica para a operação o Airbus A319.
A aeronave crítica do aeroporto de Passo Fundo versus diversos modelos em uso no país e no mundo.
Imagem do atual aeroporto com marcações das alterações previstas: notem o destaque para o novo pátio de aeronaves (com nova pista de taxiamento) e o novo terminal de passageiros.
O início das obras no Lauro Kortz ainda está distante “um processo licitatório” e algumas questões poderão mudar no percurso. Só depois da publicação do edital será possível saber se os itens exigidos batem com as modificações propostas no plano diretor.
É correto querer o melhor para Passo Fundo, mas o diálogo entre as autoridades e a população carece de realidade e exagera no discurso carregado. Se a reforma realmente proporcionar novas tecnologias para pousos e decolagens das linhas já existentes e trouxer maior conforto para os usuários, ótimo. Mas é preciso pé no chão e assumir que este ainda será um aeroporto de perfil regional, sem grandes possibilidades de expansão, nestes termos. E que forças ainda discutem questões ambientais e estratégicas sobre o transporte aéreo em nossa região.
Questões-chave na discussão:
Novas linhas: o aeroporto reformado realmente trará novas linhas para Passo Fundo? Não podemos esquecer as limitações da pista e as novas estratégias como a da Avianca, com o A320neo que não pousará aqui, mesmo depois da obra. Ele exige uma pista com 45 metros de largura.
Transporte de cargas: hoje o limite para as cargas individuais no aeroporto está em 70 kg, em um volume com altura de até 80 cm e largura máxima de 70 cm (pela Azul Cargo). Na prática, é aproveitado o espaço dos bagageiros das aeronaves convencionais. Há possibilidade do uso de aviões cargueiros na cidade, como os da líder de mercado no Brasil, a LATAM Cargo?
Estacionamento: será possível que o estacionamento ficará ainda menor dentro da área patrimonial do aeroporto? É o que indica o plano diretor e nós torcemos por esta correção, visto que a falta de espaço um dos problemas recorrentes.
A medida estava sendo amplamente criticada pelos setores da sociedade. Na dicotomia “salvar o sistema público de transporte” e “controle dos gastos públicos”, prevaleceu o segundo
A pandemia veio como uma avalanche sobre a economia brasileira. O “fique em casa, a economia a gente vê depois” mostrou ser mais um jargão politiqueiro do que uma solução para a crise que se instalava não só na saúde, como nas finanças como um todo: empresas fechadas, setores com baixa demanda, demissões em massa. Isso sem contar naqueles que, amparados pela força estatal, submeteram empresários a prisões forçadas ou vendo seus negócios lacrados por agentes de saúde. Um fiasco.
Consequentemente, a conta um dia viria. Sobre o setor de transporte público, é evidente que seu uso depende de que o resto esteja em pleno funcionamento. A pandemia diminuiu consideravelmente os números do setor. Com restrições, as pessoas se obrigaram a valer de outras formas de locomoção. Com muitos desempregados, o Uber e outros aplicativos se tornaram opção para muitos. Uma corrida de Uber, em muitos casos, estava “pau a pau” com uma passagem de circular urbano, o que prejudicou ainda mais as finanças de empresas como a Coleurb e a Codepas, de Passo Fundo.
Na Câmara de Vereadores de Passo Fundo, em regime de urgência, de autoria do Poder Executivo Municipal, o PL 107/2022 queria garantir cerca de R$ 8 milhões para as duas empresas municipais. Para uns, a medida não implicava “apoio às empresas”, mas a “salvação do setor público de transporte urbano” – muitos já não caem nessa conversa. Para outros, a pandemia afetou quase que a totalidade dos empresários e setores da economia, sendo injusto o destino de tanto subsídio concentrado em duas empresas. E as demais, como ficam?
Por 11 votos contrários a 9 favoráveis, o subsídio foi reprovado.
Estes três adjetivos deram o tom da entrevista coletiva concedida pelos vereadores da oposição em Passo Fundo, sobre o Projeto de Lei que quer subsidiar a Coleurb e a Codepas
Os vereadores da oposição chamaram a imprensa de Passo Fundo para uma coletiva nesta quarta, 7 de dezembro. A apresentação foi liderada pela vereadora trabalhista Professora Regina, que conduziu com maestria o evento responsável por esclarecer a posição dos oposicionistas sobre o PL 107/2022 e escancarar o amadorismo do Executivo no envio do pobríssimo texto para a casa, em regime de urgência.
Também participaram da coletiva os vereadores Ada Munaretto (PL), Rufa (PP), Ernesto dos Santos (PDT), Eva Valéria Lorenzato (PT), Tchequinho (PSC), Gleison Consalter (PDT), Rodinei Candeia (Republicanos) e Sargento Trindade (PDT).
Existem dois grupos distintos de vereadores contrários ao subsídio entre os oposicionistas: os que não querem dinheiro público na mão de empresas privadas de qualquer maneira e os que não querem liberar os valores sem uma melhor transparência e garantia de contrapartidas, como prestação de contas e manutenção dos empregos. No primeiro grupo, destacam-se Ada, Tchequinho e Candeia.
“Ridículo e horrível” foi a definição dada pelo vereador Gleison Consalter para o projeto, destacando que várias empresas foram afetadas pela pandemia, não apenas as de transporte. “Vergonhoso” ficou a cargo de Tchequinho, que lembrou das dificuldades habitacionais na cidade, como nas ocupações na região do Bourbon, e agora “querem dar dinheiro para a Coleurb”.
Nota-se que o prefeito está queimado com este grupo de vereadores. O chefe do executivo mandou um projeto ruim para a Câmara, o que gerou a elaboração de diversas emendas na casa que agora recebe insinuações de má-vontade, de estar “trancando a pauta” e até usando o caso para objetivos eleitorais de olho em 2024. Insinuações repudiadas com veemência e pronunciamentos inflamados de Ada e Candeia.
Coleurb e Codepas provavelmente receberão este dinheiro, mas não será tão fácil como pretendia a prefeitura e o grupo político que comanda a cidade desde 2013. O povo de Passo Fundo terá que sofrer mais um pouco até o segundo capítulo desta novela, com a licitação do transporte público de fato. Este, só Deus sabe quando sai.
O evento está previsto para o próximo dia 6, às 19h, na sede do Sindicato Rural
Na sua 4ª edição, o evento “O Despertar da Direita” contará com a palestra “Para onde o STF está levando o Brasil“, do vereador Rodinei Candeia (Republicanos), no Sindicato Rural, em Passo Fundo.
A seguir, é possível ver o texto de divulgação pelos organizadores do evento, além de link para inscrição. No card, logo abaixo, é possível visualizar mais informações sobre horário e endereço do local.
A Constituição Federal não foi rasgada.
Foi rasgada, pisada, queimada… E agora está sendo reescrita.
O Supremo Tribunal Federal (STF), que deveria servir ao povo, revelou-se uma quadrilha que, a cada canetada, coloca mais uma algema nos punhos da população.
Onde isso vai parar? Que Brasil estamos deixando para as próximas gerações?
Após 3 anos em silêncio, O Despertar da Direita está de volta. Para ajudar a lançar luz em um momento tão obscuro, faremos o primeiro de muitos encontros. Neste, teremos uma palestra sobre o tema Para onde o STF está levando o Brasil?, com o convidado Rodinei Candeia.
Sua entrada é 100% gratuita, mas pedimos que confirme sua presença entrando no grupo oficial do evento, tocando no link: