Um retrato do eleitorado de Passo Fundo que será disputado pelos candidatos nas eleições municipais deste ano
Com a aproximação de mais um pleito, os partidos começam a bater cabeças atrás de candidatos ao cargo de vereador. Fazem somas complicadíssimas em busca de coligações e traçam o apoio mútuo para a majoritária, ou seja, quem será o postulante ao cargo de prefeito apoiado pela sigla, quando esta não tiver o próprio.
Parece que em Passo Fundo tudo ficará entre o atual prefeito, Luciano Azevedo (PSB) e o veterano Osvaldo Gomes (PP). Os dois concorrentes são mais conhecidos e com histórico de grandes votações no passado.
O tempo de TV é um bem muito disputado entre as coligações. Partidos com maior representatividade na Câmara dos Deputados lá em Brasília, levam na mala um latifúndio em forma de segundos e minutos. E qualquer um com mais de 30 segundos já pode fazer a corte e receber propostas de associação, quase sempre desvinculadas de qualquer lógica ideológica.
Mas, afinal, vale a pena tanta comoção por tempo de TV? Que parcela do eleitorado toma como principal meio para conhecer os candidatos aquele programinha de TV chamado de propaganda eleitoral gratuita?
Com as novas regras eleitorais, os candidatos a prefeito de cada coligação vão repartir dois programas diários, de 10 minutos cada, de segunda a sábado (das 13h às 13h10 e das 20h30 às 20h40). Candidatos a vereador ganham pequenas inserções ao longo do dia, juntamente com os prefeitos (60% do tempo para prefeito e 40% para vereador). PMDB e PT são os únicos partidos com mais de um minuto garantidos no blocão para prefeito, com 1’08”e 1’07”, respectivamente. PSB tem 36” e PP 40”. Veja mais sobre tempo de TV neste site.
Distribuição: o eleitorado de Passo Fundo por idade e bônus
O TSE divulgou recentemente dados sobre o eleitorado brasileiro. Passo Fundo tem 142329 eleitores aptos. O maior grupo é o da faixa entre 30 e 34 anos, com 16069 cadastros (11,29%). Sabe aquele adolescente com “sede de democracia”, que corre para o Cartório Eleitoral com 16 anos para fazer o título? São apenas 287 na cidade. Os de 17 são 761 e 18 (primeiro voto obrigatório) 2024. Os votos “18 e abaixo” então somam 3072, quase a mesma quantidade de votos dados ao Rufa (PMDB), vereador mais votado de 2012, com 3024 “confirmas”.
Um número impossível de precisar é o de eleitores que votarão pela primeira vez para prefeito em Passo Fundo. De qualquer maneira, pode chegar a 12000 votos de primeira viagem. É muita gente.
Sobre sexo
O eleitorado de Passo Fundo é predominantemente feminino. São 76.590 mulheres contra 65.739 homens. No grau de instrução, analfabetos são cerca de 2%, “lê e escreve” 3%, fundamental incompleto 29,3%, fundamental completo 9,2%, médio incompleto 24,4%, superior incompleto 6,7% e superior completo 8,1%.
Redes Sociais
Colocamos em um gráfico a distribuição de eleitores de Passo Fundo, lado a lado com a quantidade de pessoas que usam Facebook (na mesma idade ou faixa) que declaram morar na cidade. No total, de 16 anos para cima, a ferramenta de marketing da rede social aponta 130 mil usuários em Passo Fundo.
Quase todas as idades e faixas apresentam grandes diferenças entre o número de eleitores (verde) e usuários no Facebook (azul). Na idade 16 são 287 eleitores contra 3200 usuários. Nestas diferenças abaixo dos 18, existe a questão opcional da confecção do título. Em todas as outras, além do óbvio “vota mas não usa Facebook”. Existe também o eleitor que mora na cidade, mas não transferiu o título, não está mais entre os obrigatórios ou falecido. A faixa de 30 até 39 é a mais parecida entre as duas fontes de dados. Vale lembrar que o Facebook só mede até a idade “65 e acima”.
Minutos na TV, 24 horas diárias na internet
Muitos políticos usam uma abordagem anacrônica em relação à internet. A montagem desesperada de coligações em busca de tempo de TV, em paralelo com o frequente desprezo das redes sociais, indica uma falta de conhecimento, coragem ou vontade de abandonar velhos paradigmas e estratégias puramente de broadcasting.
Existe uma “verdade absoluta” sobre a TV atingir tudo e todos, contra o risco e caráter “experimental” das redes sociais. O brasileiro usa quase que diariamente as redes sociais desde os primeiros passos do Orkut, na década passada. Lá se vão 12 anos. Está na hora de pensar melhor.
Tentando comparar TV com Internet
A tarefa é quase impossível. Testar teorias, complicado. A TV está presente em quase 100% dos lares passo-fundenses, mas aferições de audiência são feitas apenas por questionários e pesquisas de rua, sem qualquer meio direto, mais técnico.
Todos os programas exibidos na grade da Rede Globo são classificados e vendidos pelo próprio nome ou “Novela III”, por exemplo. O bloco de propaganda eleitoral do início da tarde fica próximo de “Jornal Hoje”, 10º lugar em audiência local. O da noite, bem mais importante, deve sair entre “Novela II”, (3º lugar) e “Jornal Nacional”, o campeão de audiência.
Telespectadores em potencial versus audiência
A Rede Globo trabalha com o número de 199 milhões de telespectadores em potencial para a cobertura nacional. O Jornal Nacional tem cerca de 26 milhões de pessoas assistindo cada edição. Se esta realidade for transportada para Passo Fundo, teremos uma audiência de 26 mil pessoas na cidade, durante este período. Com o bloco da tarde, usando a mesma equivalência, seriam 12 mil pessoas. E tudo isso ainda em um perfil bem diverso de audiência, com cerca da metade destas pessoas, durante o dia ou noite, com 50 anos ou mais de idade.
Vamos afirmar novamente: estes números são estimados, não existe confirmação e podem ser menores. E mais: eles não valem apenas para o período eleitoral, obviamente. A audiência da TV é um mistério decrescente e as grandes emissoras sabem deste problema. No entanto, nem todas executaram as ações corretas na década passada, época crucial para “fincar o pé” no mercado digital, na forma de produzir conteúdo e, bem mais importante, vender espaços.
Facebook versus TV
Até pouco tempo atrás, o mundo das páginas de Facebook era restrito a consultores e agências, juntamente com os números de audiência destes canais que, de forma peculiar, contabilizam as visualizações de conteúdo, coisa que perfis de pessoas físicas em geral não registram. Mesmo assim, várias empresas ainda cometem o erro básico de manter perfis na rede.
Com a popularização da rede social, qualquer dono de pequeno negócio começou a pilotar a própria página e os números para casos de sucesso na rede já são culturais; as pessoas sabem o que “bombou” na rede local. Claro que, para aproveitar ao máximo o rendimento das páginas, as empresas ainda devem contratar profissionais de marketing ou agências. Os erros da rede estão aí, pipocando diariamente para comprovar esta necessidade.
É possível, com um bom trabalho na página do Facebook do candidato, atingir algo entre 3000 e 10000 pessoas, só de Passo Fundo, em um único dia. Mandar uma mensagem e ainda receber interação das mesmas. Em uma estratégia completa de internet, com outras redes sociais, e-mail, site e aplicativos, este número vai muito além. É fato, quem trabalha com internet, sabe destes números.
O público da TV é bem diferente da internet e não atinge os mais jovens, o que pode ser observado na tabela a seguir:
* Audiência estimada diária de Jornal Hoje + Jornal Nacional na cidade.
** Eleitorado de Passo Fundo, apto para 2016.
*** Usuários do Facebook que declaram morar em Passo Fundo, segundo a ferramenta Audiences, da própria rede.
Considerações finais
Além de não atingir os mais jovens, todas as estimativas de público para TV apresentam um público total bem menor que o eleitorado e usuários de Facebook. Claro que não podemos garantir que 130 mil pessoas estão diariamente disponíveis na rede, todo santo dia. Mas podemos ver em relatórios o resultado diário de visualizações. E detalhes de cada pessoa que são inimagináveis para uma estratégia de TV. É possível até mesmo traçar perfis econômicos baseados em dispositivos usados para acessar o site do candidato, por exemplo.
Um usuário de internet vale mais. Usa o smartphone, interage com o conteúdo e socializa as emoções. Um telespectador tem uma experiência limitada ao círculo familiar e socializa esta experiência, via de regra, na rede. São pesos diferentes. No dia da votação, o tradicional indeciso que olha para o chão e vasculha números de santinhos espalhados, desta vez anda com o celular no bolso. Já possuía em 2012, mas agora tem o 3G/4G e Wi-fi bem mais populares.
O mistério do WhatsApp. Em recente pesquisa feita com manifestantes que participaram dos eventos contra o governo federal na cidade, 30% deles declararam não possuir conta no Facebook e usar unicamente o aplicativo de mensagens no mundo digital. Para os profissionais de marketing digital, o app pode ser um pesadelo. Não existe forma fácil de monitoramento e contagem de visualizações nos diferentes grupos criados diariamente, além da identificação especial de cada link publicado, nos canais controlados pelas equipes dos candidatos. Fora destes locais, nada feito.
Desconsideramos, por questões técnicas, os efeitos das inserções ao longo da programação, por ser impossível medir o resultado.
Devemos lembrar também que as estimativas de audiência para a TV são para os programas que ocupam a grade no momento da exibição do horário eleitoral. E horário eleitoral não é Jornal Nacional, obviamente.
O candidato que busca equilíbrio na disputa pelo tempo de TV e despreza a internet, está cometendo um erro. O eleitor deve estar atento à estratégia de comunicação dos políticos neste pleito. Nunca foi tão fácil comunicar em uma campanha eleitoral.
Números sobre audiência na grade da Rede Globo: aqui.