O escritor Percival Puggina listou, na noite chuvosa da sexta-feira, 19.08, algumas das ideias que paralisam o Brasil, para uma plateia basicamente formada por estudantes de Passo Fundo e região. Podemos colocar essa palestra entre as que surpreendem, por reunir estudantes interessados em política. Reforça-se o sentimento de surpresa visto que o palestrante é confessadamente um cristão conservador. Essa palestra é – junto com a do deputado Marcel Van Hattem e com o seminário de 2015 que reuniu nomes como o do próprio Van Hattem, Rodrigo Constantino e Hélio Beltrão, entre outros – como um sopro de mudança no debate ideológico local, visto que as três ocorreram em ambientes acadêmicos (Puggina esteve na Imed e os outros dois eventos ocorreram na UPF), espaços antes dominados quase que exclusivamente por ideias de esquerda. Méritos para o Clube Planalto, seção local dos Estudantes Pela Liberdade, promotor dos três encontros. Esse grupo vem abrindo espaço para discussão de pensamentos liberais e conservadores, quebrando a hegemonia da esquerda e, muitas vezes, apresentando algumas novidades para muita gente. Sem dúvida foi o que ocorreu para aquele estudante de 15 anos, que ainda está no ensino médio e que talvez fosse o mais jovem na plateia presente na palestra. Corajosamente, disse que é malvisto por alguns colegas e professores por tentar escapar do filtro de esquerda nas lições escolares e não engolir tudo o que lhe falam em sala de aula.
Transcreverei abaixo a rápida entrevista com Percival Puggina, mas antes referencio dois momentos da palestra. Com a categoria que lhe é peculiar, o escritor listou alguns – e somente alguns, pela limitação de tempo – problemas que param o Brasil. Entre eles figura a destruição dos valores, feita de forma intencional em nosso país, segundo o palestrante. Sem referenciais verdadeiros, as pessoas caem na ditadura do relativismo e a partir daí, nada é certo ou errado; têm-se justificativa para tudo. Bem, o desastre da adoção desse ponto de vista se observa em grande e pequena escala – desde a desvalorização das relações humanas mais cotidianas até os roubos de bilhões dos cofres públicos, tudo justificado pela “causa”.
Ele também narrou um fato que demonstra claramente uma prática de algumas das empresas jornalísticas no Brasil: contou que amigos seus ligam para Zero Hora, jornal em que Percival escreve, reclamando da falta de pluralidade de opiniões, visto que encontram em maioria autores com viés de esquerda; a resposta padrão é “mas temos o Puggina!”. Bem humorado, concluiu: “eu sou a pluralidade da Zero Hora”. Bem, vamos ao que nos contou o palestrante.
Mídia Vero: Sua palestra foi sobre as ideias que param o Brasil. Quais são essas ideias e quais são as consequências?
Percival Puggina: Isso é praticamente toda a palestra (risos). Mas comecei falando sobre a ideia de que a igualdade é por si só um bem e a desigualdade, um mal, o que é absolutamente falso. Se nós aceitarmos isso como verdadeiro, estaremos eliminando a disputa, a competição, o aprimoramento, o empenho pessoal, o reconhecimento do mérito, o desenvolvimento, o investimento, e isso contaminando como vem contaminando o sistema de ensino é um “Deus nossa acuda”. Outro fator que contém com força o desenvolvimento do Brasil é o desarranjo moral que se instalou no país a partir do momento em que o relativismo moral tomou conta das avaliações. Questões morais hoje no Brasil são definidas individualmente na base no “eu acho”. Esse “eu acho” de alguém sobre alguma questão a respeito do que seja o bem e a verdade exige para si reverências, que não são mais tributadas à própria verdade nem àqueles que a buscam com dedicação. Enquanto isso, a sociedade vai se desorganizando, a família vai se desfazendo, as pessoas perdem o seu rumo, perdem o norte, ficando desorientadas, pois a melhor orientação que existe é para o bem e para a verdade. Outra ideia é a das parcerias do Brasil. O Brasil, infelizmente, rompeu seus laços com a Europa e orientou-se em direção aos EUA. Agora, com esse governo (do PT), praticamente deixou de ser um país ocidental para unir-se ao grupo bolivariano, junto a uma verdadeira rafoagem de governantes demagogos de formação marxista-socialista ou, simplesmente, aproveitadores. Outra pauta que levantei é a questão da perda do espírito de competição que originou os resultados fracos para os atletas brasileiros nos Jogos Olímpicos. Se esse espírito não é cultivado dentro da sala de aula, se não se estimula os alunos a desenvolverem os seus talentos, está se cometendo um pecado grave contra a natureza humana e contra os dons que Deus atribui a cada um dos seres humanos. Outro fator é a confusão que estabelecemos entre Estado, Governo e Administração, permitindo o aparelhamento completo da máquina pública, levando partidos políticos para onde não tem que entrar e praticamente desfazendo dentro da Administração aquilo que o Congresso Nacional decide, como tantas vezes acontece.
Mídia Vero – O que fazer para superar esses problemas?
Percival Puggina – Primeiro é fortalecer a consciência política. Segundo é uma determinação de enfrentar politicamente os “construtores de versão”, que são esses que infestam os meios de comunicação, os parlamentos, fazendo um jogo político fraudulento e fracassado, que jogou o país na situação em que está por absoluta incompetência e irresponsabilidade. O povo nas ruas foi muito bom. Se o povo continuar nas ruas cobrando outras coisas, será muito melhor. Este é um trabalho que precisa ser feito, pois senão vamos nos contentar com um remendo sem acertar as causas institucionais daquilo que está produzindo este permanente ciclo de crises políticas no Brasil, que se prolonga desde a proclamação da República.
Mídia Vero – O que lhe ocorre ao ver tantos jovens interessados pela política, como podemos verificar nesta noite?
Percival Puggina – Isso para mim foi uma emoção e algo que muito me impressionou. Não esperava encontrar tanta gente interessada na palestra e no seu conteúdo, tanta atenção, tantas perguntas e interesse. Isso é um grande sinal para Passo Fundo e região que há aqui uma juventude com essa mentalidade. Deus seja louvado por esse fenômeno.