Legado, palhaçadas e cachorradas: eleições 2016 em Passo Fundo

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Mateus Wesp (PSDB), filho de Daltro Wesp – um dos mais famosos radialistas de Passo Fundo e grande expoente da direita local dos anos 90 – foi eleito vereador neste domingo, com a maior votação entre os cerca de 260 candidatos que disputaram as 21 vagas na Câmara. Foram 2710 votos. Mateus foi seguido de perto por Gleison “Palhaço Uhu” (PSB) com 2687 e Rafael Colussi (DEM), com 2657 votos.

Wesp (filho) corrigiu os erros da campanha de 2012, onde não entrou por cerca de duas dúzias de votos e apostou em uma aproximação mais acessível aos eleitores. Trocou os textos enormes publicados no site pessoal e a rigidez de um paletó e gravata para um candidato tão jovem, por textos mais curtos, vídeos e um visual mais moderno. Vale lembrar que Mateus teve passagem pela prefeitura como cargo de confiança da atual administração (e isso ajuda muito). O legado de Daltro Wesp está na Câmara. Se a linguagem do grande expediente será muito distante daquela usada pelo pai nas manhãs da Rádio Planalto, só saberemos em janeiro. Mateus é advogado e tem mestrado e doutorado em Direito Público. Sua bio no facebook destaca “Advogado, professor universitário, federalista, parlamentarista e temente a Deus”.

Sobre o Palhaço Uhu: Um animador de festas infantis muito querido pelas crianças. Um personagem folclórico do centro de Passo Fundo que grita (adivinhem) U-hu! aos transeuntes da avenida Brasil, como suporte ao marketing de lojas de rua. Foi o segundo mais votado do pleito de 2012, na ocasião pelo PT, com 2949 votos. Na passagem pela Câmara, apresentou projetos de lei para avisar gestantes e idosos internados sobre direito a acompanhante, “Olimpíadas” para jovens, obrigatoriedade de desconto em restaurantes para pessoas que realizaram cirurgia bariátrica e instituição do “dia do técnico em enfermagem”. Na vida real, Gleison é formado em educação física e professor em escolas de educação infantil.

Cães e política, uma parceria de sucesso. Rafael Colussi foi levado para a Câmara por um cachorro gigante chamado “Cãolussi”, recebendo o reforço de um filhote que atende pelo indefectível nome de “Cãolussinho” durante o processo, finalizando na contratação de última hora do “Gatussi”. Para os não-iniciados no processo eleitoral passo-fundense, são 3 adultos vestidos em fantasias de animais, pedindo votos para o candidato. Sorte deles que a eleição teve dias frios, na maioria.

Colussi, seus assessores e personagens, receberam o apoio de muitos protetores de animais na cidade. De qualquer forma, já era conhecido por ser coordenador na Secretaria Municipal do Meio Ambiente, presidente da AMAC (Associação dos Moradores do Centro) e teve experiência em 2012 quando concorreu pelo PMDB, onde recebeu 883 votos. Desta vez, seu desempenho dentro do Democratas foi superior ao do companheiro de partido, o reeleito Patric Cavalcanti, com 459 votos de diferença.

Os 3 vereadores mais votados são da base do governo. Melhor dizendo, 18 dos 21 vereadores eleitos ou reeleitos são da “base do governo”, em um arranjo que une na mesma cesta DEM e PCdoB. De “oposição” ao socialismo do PSB no executivo, teremos dois vereadores do PDT e um do PP. Estamos bem.

São muitos os caminhos que levam uma pessoa para a vida pública. Passa por momento da vida, situação familiar, “clout” entre grupos sociais e poder dentro de determinado partido. Enquanto na mídia tradicional são discutidos temas como renovação dos parlamentos e quantas mulheres foram eleitas, o jogo político é desprezado e passa ao largo das pessoas. Todo o cuidado é pouco; O “novo que não entrou” pode ser simplesmente o projeto não aprovado pela maioria da população. Já as mulheres, não entram na política por falta de vontade ou voto das próprias mulheres. Partidos e coligações realizam um enorme esforço para encontrar candidatas dispostas a colocar o nome, só para completar a cota prevista em lei.

 

Dos 9 vereadores reeleitos, apenas Tchequinho (PSB) teve uma votação superior em 2016, quase dobrando o resultado (de 992 em 2012 para 1953 em 2016). Os demais perderam, na maioria, muitos votos. Esta tendência deve acender o sinal vermelho nas estratégias destes políticos para o futuro. Rufa foi o campeão da perda de votos, deixando para trás 852 eleitores, depois de ficar em primeiro lugar em 2012.

Agora é 40

Luciano Azevedo (PSB) deu um passeio na concorrência, fazendo 85505 votos (76,22%). Osvaldo Gomes (PP), em um distante segundo lugar, conseguiu o voto de 19907 eleitores (17,75%). Com um tempo de TV muito superior, um exército de vereadores cabos eleitorais e o conforto de estar sentado no controle da máquina municipal, Luciano venceu, sem problemas. E venceu duas pessoas; O PP lutava juntamente com o vice, Alcindo Roque (PR), que revezava no diminuto horário eleitoral da coligação, fazendo denúncias e propostas. O vice de Luciano não teve papel de destaque na estratégia. Vamos dar duas linhas para o PT de Rui Lorenzato, com 5440 votos, Professor Antônio (PSTU) com 700 e Celso Dalberto (PSOL) com 627 votos. O PT ainda reservou parte do tempo da propaganda com o roteiro do movimento nacional e a inacreditável defesa da presidente que sofreu impeachment. PSOL E PSTU aproveitaram a ocasião para marcar presença e divulgar as ideias de seus partidos, desprezadas até no chão de fábrica, dados os números. Todos os candidatos, exceto Rui Lorenzato, deram entrevistas para a Locus, confiram no Facebook e no Youtube.

Agora é Locus

2017 será um desafio para os políticos e um grande ano para a Locus. Com um governo municipal que deve seguir ainda mais forte em seu populismo malufista com mesclas de petismo (intensivas demonstrações das benesses oferecidas ao povo e uma filosofia “nunca antes neste país”), uma Câmara prá lá de canhota e a aproximação do pleito nacional, os arranjos locais devem render boas emoções, ações que merecem uma visão diferenciada e o sempre garantido alerta vermelho em qualquer projeto ou ação de governo fora do normal.

Bônus

2016 deixou uma mensagem clara sobre muitos adeptos do anti-petismo fácil e do “minha bandeira jamais será vermelha” de ocasião. Muitas pessoas que foram para a rua nas diversas manifestações em Passo Fundo, levando estas duas bandeiras, fizeram rasgadas declarações de amor ao projeto socialista apresentado e aprovado neste pleito. Um fenômeno.

 

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