Grande parte da esquerda passo-fundense está reunida em agenda única para “realizar ações conjuntas” e defender o #ForaTemer e eleições diretas. E isso não é por acaso, mesmo que os próprios integrantes dos partidos unidos no discurso não saibam o que estão fazendo. Recentemente, a imprensa local divulgou a realização de um encontro na Câmara de Vereadores para alinhar as forças na cidade.
O Foro de São Paulo é uma organização de fundada em 1990, por Lula e Fidel Castro, para coordenar as ações estratégicas da esquerda na América Latina. Existe amplo material na internet explicando todo o funcionamento deste clube que reúne partidos e instituições de vários países. Do Brasil, participam PDT, PCdoB, PCB, PPL, PPS, PSB e, obviamente, PT.
Vamos denominar o encontro da esquerda local como Forito de São Paulo e Amigos, por conta do diminuto grupo de líderes do PT, PDT, PSOL e PCdoB reunidos pela causa e traçando estratégias para divulgar em Passo Fundo as ordens de cima ou, de forma mais educada, a agenda nacional definida pelos partidos. Do grupo, só o PSOL não faz parte do Foro de São Paulo por não aceitar uma posição à reboque do PT (palavras da Luciana Genro).
O leitor deve lembrar muito bem da eleição passada, onde estes partidos estavam separados na disputa pela prefeitura de Passo Fundo. O PT tinha Rui Lorenzato, PDT na chapa de Osvaldo Gomes, PSOL com o candidato próprio Celso Dalberto e o PCdoB coligado com o PSB do prefeito Luciano Azevedo (e ainda foi vice na eleição anterior). Sete meses depois do pleito, os concorrentes estão unidos novamente e o passado é passado. Mas vamos reforçar: esta esquerda unida esteve em todas as chapas de 2016, na disputa pela Prefeitura de Passo Fundo, dos míseros 627 votos do PSOL até a vitória avassaladora do PSB, com 85505 eleitores apertando 40 e confirma.
Nem tudo são flores nestas composições e alguns militantes mais apaixonados e menos pragmáticos torcem o nariz nas coligações, mas a ordem de cima é quase sempre respeitada e, no máximo, o sinal de rebeldia vem através do tremular mais tímido das bandeiras nos canteiros da Avenida Brasil, durante as campanhas eleitorais. Nas camadas superiores, estes partidos possuem muitos pontos em comum e sabem muito bem unir as bases, cada um ao seu modo, estilo e limites das ações.
Nesta união local, a narrativa do “Fora Temer” e o clamor por eleições diretas imediatas, através de manobras na Constituição Federal que talvez nem todos saibam explicar, é a narrativa que vem de cima, das instâncias superiores dos socialistas e comunistas brasileiros. Reagrupar e recarregar as armas socialistas para tentar emplacar uma solução que salve o Brasil dos problemas criados por décadas de… socialismo, com tons de Diretas Já e anistia ampla, geral e irrestrita (será que ainda tem recall?).
Diferentes partidos, um mesmo Fidel
A esquerda brasileira junta forças no Foro de São Paulo, mas outra organização de tamanho considerável e parceira do Foro existe na América Latina. A CSL (Coordinación Socialista Latinoamericana) tem como secretário geral o ex-deputado federal Beto Albuquerque e é definida como uma “organização socialista internacional, a nível latino-americano e um espaço de debate para temas latino-americanos comuns, articulando iniciativas para fortalecer a tendência socialista através de conferências e relatorias internacionais”. Atuante desde os anos 80, a CSL “troca figurinhas” com diversas organizações de esquerda do mundo inteiro, até dos EUA, passando por Cuba e chegando na Palestina.
Acima: seção “Sobre” da página da CSL no facebook: o marxista Salvador Allende como líder máximo e telefone de contato do PSB em Brasília. Abaixo, detalhe do site oficial do PSB.
No site da CSL (em espanhol) ou no facebook oficial, o telefone de contato da entidade é o mesmo da assessoria nacional do PSB em Brasília.
Entidades e abordagens diferentes para um mesmo propósito: a defesa mundial do socialismo. Se aos olhos do eleitor comum PSB e PT são antagônicos, nos bastidores ideológicos continuam primos nesta família com ramos em todos os países. Com a morte de Fidel Castro, vários políticos de destaque na esquerda publicaram notas de pesar. Com Beto Albuquerque, não foi diferente. A página da CSL exibe com pesar a nota de seu secretário geral, publicamente:
Mesmo sendo bem popular a estima de outros líderes da esquerda brasileira pelo ditador Fidel Castro, vamos lembrar da recente convenção do PT gaúcho, com esta imagem extraída do facebook do deputado federal Marco Maia:
Congresso estadual do PT no Rio Grande do Sul e a homenagem ao ditador Fidel Castro.
Vale lembrar que o até pouco tempo atrás presidente do PT de Passo Fundo, Neri Gomes, é assessor do deputado federal Marco Maia. Neri é um combativo defensor das narrativas petistas nas redes sociais e participa ativamente em comentários nas páginas dos jornais e emissoras de rádio locais.
PSOL e partidos menores são exímios agitadores e atuam na linha estudantil e operária, muitas vezes dividindo espaço nas ruas com sindicatos (especialmente o CPERS) e também com a UJS, braço juvenil do PCdoB. Este, por sua vez, ocupa diversos cargos de confiança na administração Luciano Azevedo.
A praga do voto em “pessoas” e não em “partidos”.
Todo este cenário explicado até aqui faz parte do jogo político. O cidadão comum, sem conhecer como as coisas funcionam, acaba escolhendo por empatia certos nomes da política na hora do voto, sem visualizar o prejuízo político. O ruim da política, no imaginário, está distante, em outra realidade, ou é culpa de todos. O socialismo, por sua vez, aparece apenas como a marca de pessoas que querem o bem, justiça para todos e uma vida melhor, lutando contra as desigualdades. O sistema se mantém com vários matizes, mas com o mesmo princípio ativo.
O cidadão bem informado deve refletir sobre as siglas partidárias, suas associações e ações de seus representantes. Muitas delas, ainda que pequenas e apenas na esfera municipal, são parte de uma agenda maior, combinada em algum convescote latino-americano para a manutenção do poder e propaganda.