Nem tudo é luz na Operação Lava Jato. Há muita treva também. E talvez isso tenha ficado claro pela primeira vez com o escandaloso acordo de delação premiada que o Ministério Público firmou com Joesley Batista, o proprietário da JBS, um dos maiores grupos empresariais do país.
Não, não é de hoje que os delatores vem sendo tratados como verdadeiros marajás, cumprindo penas microscópicas nas propriedades que adquiriram com dinheiro oriundo da pilhagem do erário. É comum ver gente que cometeu graves delitos pegando dois, três anos de pena. Tudo em troca de informação.
Vejam o caso de Alberto Yousseff. Condenado originalmente a mais de 120 anos de prisão, obteve, com seu acordo, o cumprimento em regime fechado de apenas três. Paulo Roberto Costa, por sua vez, condenado a 128 anos, já cumpre pena no regime aberto. São dois entre inúmeros casos.
Agora as coisas degringolaram de vez. Joesley ganhou imunidade total, se mandando para os EUA com uma montanha de dinheiro advinda de uma operação financeira de compra de Dólares suspeitíssima. Enquanto o Brasil derretia, com o Presidente da República tendo de se explicar sobre uma gravação comprometedora eivada de cortes e interrupções, o delator andava tranquilamente pelas ruas de Nova York. Tudo sob o beneplácito do MPF, cujo sonho de consumo não é bem combater a corrupção, mas “mudar nosso sistema político”.
No Confronto, programa que ancoro na Rádio Sonora, discuti muito essa situação. Eu e a minha amiga, a advogada Francieli Campos, temos questionado reiteradamente essa obsessão pelas delações que tomou a Lava Jato de refém. Se notarem bem, o único modo de descobrirmos coisas novas sobre os esquemas de corrupção é com a colaboração dos próprios envolvidos. Não há outro tipo de ferramenta que possa ser utilizada? É um escárnio que o MP não tenha alternativas para apurar sem a necessidade de alcaguetes. Investigando por outros meios, é possível botar na cadeia tanto os que são alvo de potenciais delações como os potenciais delatores.
O Brasil vive um deslumbramento coletivo com a Lava Jato, que se tornou o assunto fiador de todas as conversas de bar, de todos os desígnios da nação. Tudo o que dela sai é tratado como bom, justo e moral. O país ajoelhou ante o altar de Rodrigo Janot, ignorando os erros, as imprudências e os excessos que foram e vem sendo praticados. Quem tem a agradecer são tipos como Joesley Batista, que se aproveitam do contexto para lucrar em cima da impunidade celebrada como revolução ética.
Artigo originalmente publicado no Jornal Informante em 26 de maio de 2017