Invasões de imóveis e guerrilha urbana: Passo Fundo está na rota dos movimentos revolucionários

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“Vamos tirar os ratos daí e vamos colocar vida. O pobre que vai comandar este país. É o povo que vai comandar este estado e construir uma outra sociedade, destruir o sistema capitalista e construir o poder popular e o socialismo”.

 

Trecho do discurso de rua de Priscila Voigt, coordenadora do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), nos protestos contra a reintegração de posse em frente ao Palácio Piratini.

 

Desocupado no dia 14 de junho, um prédio público na região central de Porto Alegre teve a reintegração de posse garantida pelo uso da força da Brigada Militar. Com o tradicional roteiro “daqui não saio”, uma mistura de militantes e supostos moradores sem teto saiu da invasão após muita resistência, berros, discursos políticos de ocasião e até dança indígena. O que aconteceu depois deste episódio merece a atenção de qualquer pessoa interessada em política ou no estado de espírito dos nossos tempos. O grupo formado por invasores, ativistas e políticos foi batizado de “Ocupação Lanceiros Negros” era coordenado pelo Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas (MLB).

O movimento, até então desconhecido do grande público, ganhou páginas de sites, minutos preciosos nas emissoras de rádio e TV além de atenção nas redes sociais. Os políticos do núcleo PT-PSOL do Rio Grande do Sul também embarcaram no ato, com o deputado estadual petista Jeferson Fernandes à frente dos protestos e de diversas fotos nas notícias.

Nestes 50 tons de vermelho, os partidos de esquerda adotam discursos de acordo com o tamanho, posição no cenário político e pretensões futuras. Das promessas de destruição do capitalismo na voz da coordenadora Priscila Voigt (sem partido, mas coordenando o movimento que quer criar o UPpS – Unidade Popular pelo Socialismo) até o discurso emocional dos petistas sobre a truculência da PM, uma enorme narrativa vai criando força e ganhando apoio da sinergia entre jornalismo militante e políticos oportunistas.

O MLB também atua em Passo Fundo. As pequenas casas construídas no espaço entre o “barranco” do Sétimo Céu e os trilhos do trem, no bairro Petrópolis foram se multiplicando, com pequenas invasões, até ganharem o status de coletivo. Agora é chamada de “Ocupação Pinheirinho Toledo”. Por pinheirinho, leia-se a vegetação abundante no local, de propriedade da América Latina Logística (ALL). Já o “Toledo” do nome é uma homenagem ao terrorista Joaquim Câmara Ferreira, vulgo Toledo, nascido em 1913 e integrante do Partido Comunista Brasileiro. O terrorista integrou a ALN – Ação Libertadora Nacional, organização que fundou juntamente com Carlos Marighella por discordar da atuação pacífica do PCB no Brasil.

 

 

Material apreendido pela polícia no prédio público em Porto Alegre: bombas, foguetes, coquetéis molotov e literatura de guerrilha.

 

Todos os partidos envolvidos no evento de Porto Alegre (e outros da esquerda) replicam o modo de operação aqui na cidade. Os discursos contra o capitalismo, o apelo para o sentimentalismo e o fomento do confronto rico X pobre são constantes. Uma reintegração de posse também está em andamento na justiça para esta área em Passo Fundo. Uma comitiva integrada pelo então vice-prefeito de Passo Fundo, o comunista Juliano Roso, foi até a sede da ALL em Curitiba, em 2013. Atualmente, o vereador Rudi, do mesmo partido, é o nome na Câmara quando o assunto é invasão de propriedades. Ele mesmo já incluiu no grande expediente da casa a questão por várias vezes, com muita luta de classes e pronunciamentos acompanhados de perto por integrantes de movimentos.

 

Promessa de resistência em caso de desocupação na área invadida em Passo Fundo, postada na página do grupo que representa a ação na cidade. Publicada em 9 de março, na URL https://www.facebook.com/PinheirinhoToledoMLB/posts/196339887518556.

 

Entidades de Passo Fundo se unem ao grupo e dão suporte intelectual aos invasores destas áreas. O CDHPF (Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo) já publicou em seu site textos completos sobre a questão e tem posição ideológica bem definida. Na publicação “Nasce a ocupação Pinheirinho Toledo em Passo Fundo”, disponível em http://cdhpf.org.br/noticias/nasce-ocupacao-pinheirinho-toledo-em-passo-fundo/ – encerra o texto com o lembrete de que “não vai ter despejo, vai ter luta”. Recentemente, o CDHPF produziu um evento em parceria com a UPF, o VII Colóquio Nacional de Direitos Humanos, com o mote “Direitos sociais são direitos humanos, nenhum direito a menos”. A lista de entidades participantes inclui Ifibe – Filosofia Berthier, Colégio Notre Dame, Itepa Faculdades, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tec Tecnologia, UFFS e UFRGS.

Muito além da moradia

Estes movimentos urbanos replicam o MST na questão da reforma agrária. Não estão apenas buscando terra para quem planta ou casa para quem precisa. São construídos núcleos ideológicos como massas de manobra, no campo e na cidade, sempre com o apoio irrestrito dos companheiros, dentro e fora da esfera pública. Cada invasão chamada insistentemente de “ocupação” é uma bandeira fincada em um território com mentes conquistadas, sejam elas de oportunistas que viram a chance de ganhar alguma vantagem ou novos intelectuais com a oportunidade de aglutinar discursos e ações com seus rivais. Também participam pessoas comuns, levadas pelo discurso do “mundo melhor contra tudo o que está aí”.

 

Pontos a ponderar

A facilidade. Anos de dinheiro público jorrando nas mãos de grupos de esquerda, em quase todas as atividades humanas neste país, de sindicatos a ONGs e de blogueiros sujos até grandes emissoras, construíram uma rede de influência gigante, atuante em qualquer lugar do território nacional. A capacidade de reação destes grupos na desocupação em Porto Alegre, juntando deputados e demais figuras importantes em poucas horas, é admirável.

A mídia cativa. A mesma mídia chamada de golpista, defensora dos banqueiros e amiga dos  empresários, é retratada em milhares de charges por aí, mesmo estando repleta de jornalistas esquerdistas engajados, que chamam especialistas engajados para depoimentos e escolhem a dedo o povo que dá testemunhos em reportagens. O tom das chamadas e a repetição de textos com o mesmo tema é visível.

 

7 a 1. A quantidade de políticos eleitos no espectro “mais à direita” no RS que estão denunciando abertamente a atividade destes grupos e a verdadeira história das invasões é de se contar nos dedos, mas de uma única mão.

 

Marketing. O talento para associar o nome de terroristas de esquerda e defensores de causas totalitárias com “coisas boas” é vista no mundo todo, mas no Brasil a coisa passa dos limites e um grupo consegue batizar com o nome de um terrorista uma área invadida.

Socialismo de iPhone. Os grupos, em arrombos de sinceridade nos discursos, afirmam categoricamente que querem acabar com o capitalismo. E conseguem atrair jovens interessados em engrossar as fileiras, sem abrir mão das roupas de marca e do iPhone 7.

Além de todos os pontos anteriores, os movimentos juntam invasores, sindicatos, crianças, professores, índios (naturais ou autodeclarados), agricultores, ativistas LGBT e o que você imaginar nas esquinas da Avenida Brasil para protestar contra a reforma da previdência. E uma parcela considerável da população e empresários pensa que tudo é normal, que não existe este negócio de socialismo e o comunismo já morreu. Que estes descrentes considerem que prédios antigos no centro de Porto Alegre e de propriedade do governo ou trechos de terrenos empresariais em Passo Fundo invadidos não são exemplos tangíveis de enormes problemas institucionais, tudo bem; mas que não gritem de pavor e espanto quando o problema bater a foice na porta. Nós avisamos.

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