De todos os processos que Lula responde na Justiça, aquele que mais o ameaça é o que corre no Supremo Tribunal Federal, onde responde por formação de quadrilha. Lembra do Power Point correto mas inoportuno apresentado pelo ansioso procurador Deltan Dallagnol? Pois então.
Ao contrário da acusação envolvendo o triplex do Guarujá, onde a materialidade é bem mais difícil de ser obtida em vista da natureza do crime, esse possui todo um arcabouço de testemunhos e provas que evidenciam a centralidade e o poder decisório que Lula tinha em todos os aspectos do Petrolão. Em outras palavras: Ele era o Capo di tutti capi no esquema.
Neste final de semana, a revista Época veio com uma matéria que contraria a história que todos nós conhecemos até aqui. Uma entrevista com Joesley Batista, onde o proprietário da JBS e mais novo delator-bomba da República afirma que “Temer é o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil”. As palavras estamparam a capa da publicação com letras garrafais, com direito a Joesley pintado de vermelho.
É a primeira vez, desde o início da Operação Lava Jato, que a autoridade de Lula na cadeia de comando criminosa é colocada em dúvida. Até aqui, delatores das mais variadas procedências confirmaram em uníssono que ninguém mais do que ele mandava na coisa toda. De diretores da Petrobras, passando por empreiteiros, até chegar em ex-colegas de partido. Todos os que prestaram depoimentos e informações, apontaram o dedo para Lula. Não é à toa, os apelidos atribuídos a ele ressaltam sua importância e predominância: “Chefe”, “Nine” e “Brahma”, para ficar apenas com os mais notórios.
Em maio, Renato Duque, ex-diretor de Serviços da Petrobras, em depoimento prestado em Curitiba, afirmou que “o presidente Lula era conhecido como o chefe, era chamado como grande chefe, nine”. Por sua vez, Delcídio do Amaral, aliado de primeira hora do ex-presidente, afirmou, em entrevista para a Revista Veja, que Lula era o comandante: “O Lula negociou diretamente com as bancadas as indicações para as diretorias da Petrobras e tinha pleno conhecimento do uso que os partidos faziam das diretorias, principalmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas. O Lula comandava o esquema”.
João Santana, responsável pelo marketing do governo e das campanhas petistas, atribuiu a Lula a última palava no que dizia respeito aos pagamentos de Caixa 2. Em delação premiada, afirmou que tais decisões dependiam da “palavra final do chefe”.
Mas não é só isso. Os depoimentos dos empreiteiros, como Léo Pinheiro, da OAS, mostram uma relação de subserviência dos empresários em relação ao ex-presidente. Um dos trechos mais bombásticos da fala de Pinheiro se deu quando revelou que Lula havia ordenado a destruição de potenciais provas de corrupção. Havia uma hierarquia, portanto. E em seu topo não estava um empresário ganancioso ou um político fisiológico.
De modo que o surgimento de Michel Temer como novo grande líder de quadrilha não faz o menor sentido. Fosse assim, tal liderança também se mostraria por meio dos relatos de outras testemunhas. Mas nem Marcelo Odebrecht, nem Emílio Odebrecht, nem os já citados Léo Pinheiro, Delcídio do Amaral e João Santana, falaram nada que pudesse levar a tal conclusão.
Fica a impressão de que há um esforço para se distorcer a realidade, substituindo-a por uma narrativa desconexa, onde Temer assumiria um protagonismo que jamais foi comprovado nos autos. Querem depor Lula do comando do Petrolão. Ai sim é golpe.