Ensino superior, ética duvidosa

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Mais um vestibular de inverno promete jogar centenas de adolescentes em nossas salas de aula. Se a tradicional barreira de entrada no ensino superior exige o máximo do aluno, o próprio curso impõe enormes desafios também aos pais e responsáveis.

Segundo o site da Universidade de Passo Fundo, o vestibular de inverno realizado no sábado, 10 de junho, atraiu mais de 6000 candidatos. Com forte procura pelos cursos de Medicina, Odontologia, Medicina Veterinária, Agronomia, Direito, Engenharia Civil, Estética e Cosmética e Psicologia. Cursos bem diferentes em custos, conteúdos e métodos de ensino. Ampliando este cenário para as outras instituições de ensino da cidade, com certames também no verão, chega-se em um bom número, com milhares de novos alunos.

Uma expressiva parcela destes novos alunos está na adolescência, recém saídos de escolas públicas e privadas da cidade ou dos municípios da região. Nossos vizinhos  vivem a aventura do rompimento com os vínculos familiares para a moradia solitária ou em pequenos grupos. De segunda a sexta, a meta será é o estudo, a autoridade será o professor e uma nova visão de mundo, muitas vezes diferente da cultuada em casa, será apresentada em sala de aula.

No início da vida acadêmica, dá-se o encontro da sociologia com as mais diversas áreas do conhecimento. De forma genérica, alunos de cursos bem diferentes compartilham as mesmas considerações sobre Marx, verdades vermelhas de Cartas Capitais e Globonews e a supervisão atenta de verdadeiros cientistas sociais que capturam cada nuance do aluno, avaliando as respostas e comportamentos, ou a falta destas respostas e o desprezo, ameaçado por notas baixas. Interaja ou morra.

Seu filho não está mais no Kansas, Tapejara ou Não-me-toque. As lições da mesa do almoço farão toda a diferença.

E o que dizer do “máfia das horas”, com inacreditáveis cifras  de tempo que fazem os alunos correrem para garantir a presença em palestras e eventos. A exigência destes períodos durante toda a vida acadêmica, para a emissão do diploma, é algo discutível, com palestras muitas vezes carecendo de uma real ligação com o curso do aluno ou, quando da área, sem uma autêntica verificação da qualidade. Estas atividades deveriam ser gravadas e publicadas nos sites das instituições que exigem estas participações, juntamente com a lista de presença. Um “log” audiovisual disponível até mesmo para futuros empregadores. Sério que você assistiu duas horas da palestra “Aspectos sobre o golpe na presidenta Dilma e a ascensão da onda conservadora” para ganhar um diploma*?

Novas formas de financiamentos e bolsas do governo federal tornaram o ambiente universitário bem mais diverso socialmente, sendo estas matrículas sustentadas por dinheiro público uma parcela importante do faturamento das instituições de ensino superior no Brasil. No ano de 2016, só a Anhanguera Educacional recebeu mais de 1 bilhão de reais em recursos do FIES e auxílios financeiros para estudantes. Entre todos os pagamentos do Governo Federal para empresas, ficou atrás apenas do laboratório Glaxo-Smithkline. Os outros 3 no topo são os pagamentos da dívida externa, o fundo de garantia do crédito educativo e transferências para o Banco Central.

Se a relação financeira entre governos e instituições de ensino é benéfica (melhor um sistema similar aos vouchers educativos do que aplicado em uma escola de propriedade do governo), o vínculo paterno parece prevalecer em certos alinhamentos acompanhados com vista grossa por parte dos gestores que, para o bem do país, não seja um temor da perda ou atraso destes recursos em caso de reação ou puxões de orelha em doutrinadores esquerdistas.

É triste fazer uso da palavra “doutrinadores” quando se analisa a situação do ensino superior, mas a crescente imaturidade de muitos jovens nesta etapa da vida, aliada a – quando muito – razoáveis escolas no ensino médio, é possível sim afirmar que entram pelas portas das salas de aula fileiras de vítimas em potencial. Por doutrinação ou mediação, o aluno passa acreditar em socialismo, feminismo militante, fadas e duendes. Poucos passam ao largo deste processo conseguindo manter um bom desempenho acadêmico, visto que este relacionamento ideológico acontece até em disciplinas não ligadas diretamente ao assunto.

Muitos professores dão o melhor de si e são verdadeiras “instituições dentro da instituição”. São as maçãs boas nesta cesta e frequentadores assíduos das cerimônias de formatura, ocupando os mais altos postos de destaque, escolhidos pelos próprios formandos.

Antes de esperar por universidades que mantenham um melhor controle da própria tradição, sem confundir pluralidade de ideias com ideias plurais concebidas em laboratório, ou que ao menos joguem limpo ao seguir a própria visão e missão oferecidas no panfleto do vestibular, os pais devem manter um diálogo forte com os filhos. Para a família que é bombardeada com contrapontos e citações de autores que nunca serão lidos e movimentos que não merecem um minuto de atenção, só resta a firmeza de propósitos, a força do exemplo e a união.

* Título fictício para uma palestra ou evento que certamente será promovido em uma das faculdades de Passo Fundo, que seu filho precisará assistir para ganhar o diploma.

 

 

 

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