O jornal O Globo produziu uma interessante reportagem sobre um executivo desempregado, que agora faz do Aeroporto Santos Dumont seu “escritório móvel”, enquanto dorme nas ruas à noite.
Vilmar Mendonça, de 58 anos, está desempregado desde 2015 e “bate ponto” no terminal desde o ano passado, fazendo uso da internet, do banheiro e do que há de infraestrutura disponível no local.
Segundo dados do IBGE, a taxa de desemprego fica em 13,7% no 1º trimestre de 2017 e atinge 14,2 milhões de pessoas. Trata-se da maior taxa da série do indicador, iniciada em 2012. Em 3 anos, número de desempregados mais que dobrou no país. Vilmar diz-se também vítima da crise econômica.
Ortega y Gasset, escritor espanhol, bem anotou na introdução ao livro “Meditaciones del Quixote”: “Eu sou eu e a minha circunstância e se não a salvo, não salvo a mim mesmo”. Vilmar saiu ainda adolescente da sua cidade natal para alcançar outros voos Brasil afora. Muitos anos depois, o pensamento de Gasset lhe cai como uma luva.
Numa faculdade onde eu lecionava, muitos professores reclamavam das condições salariais. Não foram poucas as vezes que se reuniram com a direção para discutir a possibilidade de aumento. Eu batia na mesma tecla: a situação financeira dos professores não vai mudar pelas próximas décadas. Se a ideia for a de ter um salário maior, será preciso buscar outras fontes de renda. Conheci alguns colegas que deixaram suas habituais cátedras para se dedicar ao comércio ou a uma prestação de serviço qualquer e se deram muito bem: trocaram de carro, pagaram enfim o financiamento da casa, colocaram os filhos na universidade. Professor goza sim de algum prestígio: trata-se de uma profissão para se orgulhar, pois ensinar é tão prazeroso quanto aprender. Portanto, aos meus colegas professores, é bom pensar com carinho na situação: mesmo que o salário dobre, ainda assim não será uma renda para se viver dignamente.
As pessoas que sempre foram empregadas são as que mais estão sujeitas às forças do mercado: muitas vezes, para salvar as contas, a empresa se obriga a demitir muitos funcionários. A demissão é triste: coloca-se em risco não apenas a situação financeira de um empregado, mas a de uma família toda que pode depender daquela renda. Às vezes, é preciso optar por o que é “menos pior”: demite-se um para evitar que toda uma empresa, com talvez muitos outros funcionários, acabe fechando as portas.
Um amigo contador reclamava recentemente que no seu escritório, com apenas oito funcionários, apenas três tinham por hábito cumprir integralmente a jornada de trabalho. No entanto, na hora de bater o ponto, não importa se um trabalho está pela metade: desliga-se o computador e deixa para o dia seguinte. Quem é profissional liberal ou empresário sabe que isso nem sempre é possível: as demandas dos clientes estão cada vez mais urgentes, não sendo possível se dar ao luxo de deixar o trabalho para o dia seguinte. O funcionário, entretanto, sabe que o seu pagamento está garantido. Há, por assim dizer, uma tendência ao comodismo de uma maneira geral: a motivação é, na maior parte das vezes, um fluxo constante de gás inicial, uma máquina funcionando a pleno vapor – mas é preciso levar em consideração o desgaste em função do tempo.
Os funcionários já perderam o hábito de cumprir horário. Ainda pior: há aqueles que passam o dia com os olhos voltados para o celular ao invés de se dedicar integralmente às funções da empresa. Isto é uma realidade.
Toda essa displicência tem um efeito direto sobre a vida das pessoas: estas estão cada vez mais sujeitas às circunstâncias (da vida e do mercado de trabalho). Aquele que menos se dedica é o primeiro a ser demitido: os primeiros a sair serão os menos produtivos.
Por mais atento e dedicado que seja um empregado, ele precisa se manter atento e fazer o possível para não baixar a sua produtividade: sujeitos proativos e com capacidade de liderança são fundamentais para qualquer atividade de mercado.
Muitas pessoas só se mantêm motivadas quando os benefícios são crescentes: salário melhor, folgas, bônus, brindes, regalias. Mas nem sempre é possível para o empregador oferecer todas essas regalias. Já fui aluno da faculdade de Economia de universidade federal, onde o lucro é verdadeiramente demonizado. Mal sabem tais sujeitos que para uma empresa dar um por cento de lucro é necessário um esforço monstruoso. Mal sabem também que é com o lucro que se permite investir nas melhorias do negócio.
É importante que, pelo menos como experiência, as pessoas montem um pequeno negócio ou que sejam autônomas, que vendam alguns produtos ou que prestem um serviço com qualidade: isso permite o desenvolvimento necessário para se ajustarem em tempos difíceis, em tempos de crise, em tempos de baixa. O próprio Josemaria Escrivá falava da santificação da vida por meio do trabalho.
Toda a solidariedade com o seu Vilmar, atingido em cheio pela maré baixa da economia. É muito difícil para uma pessoa acima dos cinquenta anos se recolocar no mercado de trabalho, sobretudo na função que exercia nos tempos de bonança. Mesmo assim, isso pode acontecer com todos aqueles que dependem de “empregos” para se colocar no mercado. Há muitas outras coisas para se fazer por aí. As gerações vindouras podem tê-lo como exemplo, cientes também que nem tudo se resume a estudar para concurso público.
Ps.: Seu Vilmar, após a repercussão da reportagem d’O Globo, conseguiu a tão sonhada vaga. Toda a sorte nessa nova jornada, seu Vilmar!
Críticas à PMG de Passo Fundo acaba em discussão na Câmara. Petismo ataca novamente
Na Sessão Plenária do dia 18 de maio de 2022, Regina dos Santos (PDT) discutir recente projeto de autoria do Poder Executivo Municipal sobre a alteração do plano de carreira dos professores municipais.
Aproveitando a deixa, o petista Nicolau Neri Grando (PT) tira o foco do tema para tecer críticas à Procuradoria Geral do Município. De acordo com o parlamentar, os processos que passam pelas mãos da Procuradoria acabam atrasando o andamento: É um atraso em todos os processos que passam pela PGM”.
Wilson Lill (PSB), em seguida, manifestou o equívoco na fala de Gomes, pois apontou que em todos os processos a Procuradoria avalia o melhor caminho e busca encontrar soluções. Para ele, não é um debate de minutos, mas uma construção de diálogo que muitas vezes demandam meses de debates e alterações.
Nharam (União Brasil) pontuou: “A PGM não é um time invasor de terras lá do MST”. Janaína Portella (MDB), que em outra oportunidade já fez parte da PGM, disse que a análise segura dos pareceres jurídicos emitidos pela Procuradoria são imprescindíveis para a tomada de decisão dos gestores públicos. Nharam segue: “O senhor me envergonha com essas colocações. Acha que está falando do STF?!?”
Permitindo aparte, Gomes manifestou a intenção da sua fala referente à PGM:
Fake News se tornou um verbete comum no cenário político desde que Donald Trump o proferiu em alto em bom som, bem na cara da imprensa norte-americana. De lá para cá, como tudo que o ex-presidente americano faz ganha repercussão, esse ponto não ficaria para trás. Fake News são informações falsas com a intenção de enganar. Não é um engano culposo, mas doloso. Há intenção de enganar o público, apenas para marcar a narrativa.
Quando nos deparamos com as redes sociais de muitos políticos pelo Brasil afora, podemos ter a falsa impressão de que eles estão, de fato, resolvendo uma série de problemas da nossa sociedade, fazendo pautas importantes avançarem. Não é bem por aí…
“Encaminhamos um pedido de providência”
Vamos dar um exemplo do que ocorre em Passo Fundo. Ao ler “Encaminhamos um pedido de providências a respeito de…”, é comum ao leitor pensar que o problema está (ou num curto espaço de tempo estará) resolvido.
Um pedido de providência não passa de um encaminhamento, na maioria das vezes realizado pelos gabinetes dos vereadores, solicitando que o Poder Executivo Municipal realize determinada obra ou demanda de uma comunidade.
Se procurar, os pedidos de providência vão de trocas de lâmpadas até paz mundial (ok, estamos exagerando). Asfalto, pintura, limpeza de praças… por aí vai. Um vereador, neste ponto, acaba refém das próprias limitações que a lei lhe impõe. A execução de obras, enfim, é atividade do Executivo. Vereador legisla e fiscaliza (ou deveria fiscalizar).
Pedido de providência é um tipo de publicidade enganosa
Sobre pedidos de providência, muitos vereadores fazem a festa. Não queremos citar ninguém em especial. Infelizmente, poucos escapam dessa publicidade (enganosa) nas redes sociais.
Não estamos querendo dizer que o público está sendo dolosamente enganado: na verdade, o vereador faz o que a lei permite. Os pedidos, portanto, são realmente encaminhados.
O que dá a entender, por outro lado, é que o assunto está resolvido. Na maioria das vezes não está.
“Aprovamos um projeto”
Quando um político afirma “Aprovamos um projeto de minha autoria”, todo cuidado também é pouco. É difícil estimar precisamente, mas a falta de eficácia das leis no Brasil não é assunto para amadores. Talvez a vocação nacional seja descumprir leis. Não é de todo culpa do nosso povo: o nosso universo legislativo é um oceano inabarcável de normas.
Nesse sentido, uma parte considerável das leis aprovadas são “leis pra inglês ver”: elas existem no papel, mas não mudam a vida da população em nada (ou muito pouco). Lei aprovada, entendam, é papel; sua execução, é outra coisa.
Ao longo dos anos de trabalho na Lócus, foram inúmeras as referências que fizemos nesse sentido. Quase toda semana um vereador sobe na tribuna e reclama da falta de cumprimento de leis aprovadas. Para citar um único exemplo, da legislatura passada:
Toson abriu seu Grande Expediente fazendo uma críticas às cobranças recebidas pelos parlamentares sobre o número de leis propostas. Para o vereador, trata-se de uma distorção realizada sobre o trabalho legislativo.
No Brasil, conforme dados apresentados, há mais de 5 milhões de leis em vigor, segundo um estudo da Fiesp. Para Toson, há uma ideia de que, ao se criar uma lei, magicamente o problema estará resolvido no dia seguinte. Isto prova que, para a resolução de um problema da sociedade, a lei é apenas uma etapa, não o processo completo.
Para o parlamentar, a lei acaba sendo uma espécie de abstração para se criar uma ilusão que o problema está sendo solucionado, o que é muito distante da realidade. De acordo com um dos exemplos citados, há a lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas de Passo Fundo. O projeto havia sido proposto como forma de coibir as constantes denúncias de algazarras nas ruas do Município. O problema, no entanto, permanece.
Projetos em andamento: o marketing político desnecessário
Projetos em andamento também podem causar uma série de enganos no público. Veja, a seguir, recente postagem do deputado estadual Mateus Wesp (PSDB):
O que significa dizer que “um projeto foi aprovado numa comissão”? Nada além de que a pauta está tramitando, mas o caminho pode ser ainda longo (isso se for aprovado, é claro).
Nessa postagem de Wesp, o público percebe a notícia de outra forma, como se parte do problema já estivesse resolvido, mas não está.
Provavelmente esse projeto nem seja aprovado nesta legislatura. Pode ser que Wesp nem se reeleja deputado estadual. Pode ser que esse projeto reste engavetado. Pode ser que esse projeto seja esquecido. Pode ser que seja submetido à votação: pode ser aprovado ou não. Se for aprovado, pode ser que o Governador vete. Se vetar, os deputados poderão ou não derrubar o veto. Conseguem perceber parte do problema?
Por isso, não sejam enganados por postagens de políticos nas redes sociais. A palavra “lei”, no Brasil, está banalizada desde que éramos uma monarquia. Faça um favor a si mesmo e pare de ser enganado por esse tipo de postagem. E sobretudo pare de ser enganado por alguém com cara de bom moço, que fala bonito e que não tira o terço do pulso.
A petista segue a cartilha que ganhou coro nos últimos meses Brasil afora, falando em “pobreza menstrual”
A vereadora Eva Lorenzato (PT) protocolou duas emendas impositivas ao orçamento municipal para compra de absorventes para distribuição à população mais carente da cidade, além da promoção de uma campanha de conscientização quanto ao problema da pobreza menstrual. De acordo com a parlamentar:
“Com a renda per capita do povo pobre sendo de até R$ 87 por mês, se você é mãe, vai optar entre comprar um pacote de absorvente por R$ 15 ou comprar leite para seus filhos?”