Parafraseando Shakespeare: há mais balas perdidas, assassinatos e assaltos entre as lágrimas de Gisele Bündchen e as páginas policiais do que sonha nosso vão show business. A operação do Exército que cercou a favela da Rocinha não deixa margem para dúvidas. Enquanto a elite artística e cultural do país se reunia na área VIP do Rock In Rio para curtir e idealizar o mundo perfeitinho onde todos um dia serão gentis, inclusivos e pacíficos, as forças de segurança se encarregavam de lidar com a realidade, caçando bandidos de alto calibre no caos urbano dos morros cariocas. Não que o público não tenha direito de se divertir. Não é a isso que me refiro, e sim ao sentimentalismo comportado e inconsequente das celebridades ávidas por tornar seus shows em comícios políticos.
Segundo informa o Portal G1, até agora a ação já contabiliza a apreensão de 22 fuzis, 2 bombas, 8 granadas, 84 carregadores e mais de 2 mil munições. Além disso, foram registrados 3 mortes e 16 prisões. Ressalta-se que tudo isso se passou em apenas uma das centenas de favelas do Rio de Janeiro. Não há porque imaginar que a situação seria diferente no Morro do Alemão, no Rebu ou na Candelária.
Só os desavisados e idiotas úteis se surpreendem com a descoberta de verdadeiros exércitos do crime organizado encrustados nas áreas mais pobres da Cidade Maravilhosa. Durante muito tempo tentou-se vender a farsa de que a política de pacificação, implementada durante o governo do hoje preso Sérgio Cabral, havia de fato restaurado a ordem nessas localidades. Quem não se lembra das impressionantes imagens de 2010 quando dezenas de bandidos fugiram da Vila Cruzeiro como consequência de uma ocupação da polícia? Na época, com apoio entusiasmado dos grandes veículos de imprensa, incluindo a própria Rede Globo, tudo foi vendido como uma espetacular mobilização contra o crime organizado e o tráfico de drogas. José Mariano Beltrame, então Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, tornou-se um herói nacional e um exemplo a ser seguido. Na campanha presidencial daquele ano, a candidata Dilma Rousseff chegou até a prometer espalhar o modelo do Rio de Janeiro pelo país inteiro.
A ideia de pacificação é uma vigarice influente na política, na mídia e no mundo artístico, isso porque trabalha tendo como base o constructo social das “comunidades”, a palavra que o pensamento de esquerda impôs para designar o que na verdade são mocambos oriundos de invasões ilegais. A idealização da miséria pelo progressismo levou a uma série de políticas de tolerância que solidificaram nessas áreas verdadeiros territórios paralelos, onde quem verdadeiramente governa são os traficantes.
Até hoje, mesmo com a violência campeando, operações de segurança em favelas não são bem vistas. Cantores de rap, professores de Direito Penal, especialistas em segurança da Globo News, jornalistas lacradores e outros tipos ainda mais pernósticos sempre apontam para eventuais “excessos”, como se a polícia fosse um risco maior para os moradores do que os criminosos. A base argumentativa de todos eles é a mesma: a polícia seria uma instituição de força a serviço da burguesia. Assim, todas as iniciativas por ela empreendidas teriam como objetivo oculto o amassamento e a opressão dos mais pobres. A teoria da luta de classes não deixa de ser mãe da guerra civil que se verifica não apenas nos morros do Rio, mas nas ruas do país inteiro.
Ao contrário do que os politicamente corretos tentam fazer crer, são os mais pobres as grandes vítimas do crime. Nas favelas, são eles que vivem permanentemente sitiados pelos narco-estados que se formam pela ausência do tão celebrado Estado de Direito. São os pobres, e não os playboys e patricinhas do Leblon, da Vila Madalena, da Cidade Baixa ou do Projac aqueles mais suscetíveis a serem assassinados em pontos de ônibus ou nos becos escuros. Pobres não têm dinheiro para cercas eletrônicas, carros blindados ou seguranças particulares. Isso é privilégio apenas para Lucianos Hucks e Marcelos Freixos da vida. Negros, pardos e brancos pobres, que constituem o grosso da população, precisam se virar com o que têm. Quando muito, com a agilidade das pernas para fugir do fogo cruzado entre facções rivais.
Ainda que com a mobilização de milhares de homens, é pouco provável que o cerco do Exército na Rocinha vá produzir um efeito de longo prazo. Trata-se de uma operação claramente pontual como tantas outras já executadas ao longo do tempo. Não é a primeira nem a última vez que veremos militares atuando como policiais. Assim como nas ocupações de 2010, observa-se muito alarido e pouco resultado. A grande maioria dos criminosos já se espalhou por outras favelas, e aguardarão o momento mais oportuno para retomar a iniciativa. De preferência quando alguma celebridade bem apessoada recitar “Imagine” para audiências endinheiradas e descoladas.
Dom Beltrand, numa palestra em Caçapava/SP, em 1992, à Fundação Nacional do Tropeirismo, falou de estudos que mostram os efeitos nocivos da democracia para a população têm o mesmo efeito daqueles sobre os filhos que são criados em núcleos familiares instáveis, com brigas, insultos, violência. A alternância democrática, a cada quatro anos, causa feridas que, logo quando sanadas, voltam a se formar.
Quando assisti ao vídeo acima, poucos anos atrás, esse argumento pareceu bastante sensato. Em 2018, por exemplo, quantos foram aqueles que, aos prantos, ficaram horrorizados com a vitória de Bolsonaro: homossexuais diziam que seriam perseguidos, feministas temiam o recrudescimento da violência contra a mulher, corruptos apavorados com presas. Por todos os lados, uma choradeira democrática sem precedentes. Todos esses temores, obviamente, não se confirmaram.
Agora, o cenário é outro. Lula candidato é como aquele sujeito que vai a uma festa somente para importunar aqueles que querem se divertir. Sua presença nas eleições é sinônimo de algazarra. A esquerda gosta dessa bagunça, da agitação, da insegurança, do terror. Lula visita traficantes, justifica pequenos furtos de delinquentes, promete abertamente caçar os seus opositores, se restar vitorioso. A direita e os conservadores que se preparem.
Numa recente entrevista de Leonardo Boff, um esquerdista da velha guarda que se posta como líder espiritual, afirmou com todas as letras que conversa seguidamente com Lula e que o discurso do descondenado é moderado. Sim, “moderado”. Se ele vencer, de acordo com Boff, o bicho vai pegar. Eles falam isso abertamente e muita gente custa acreditar.
A democracia nos custa, a cada dois anos (levando em consideração as eleições municipais), muitas noites de sono. Ponto para Dom Beltrand. Mesmo que Lula perca, a dor de cabeça foi muito grande.
Já se passou o tempo em que defender ex-presidiários era sinal de imoralidade. Eva Lorenzato é uma amostra destes tempos
Lula esteve na Europa recentemente. A agenda incluiu o presidente da França, Emmanuel Macron, o futuro chanceler alemão Olaf Schulz, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que disputará as eleições presidenciais francesas, o ex-premiê da Espanha José Luís Zapatero e o prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz. Na Espanha, com o atual premiê espanhol, Pedro Sánchez.
Em Madri, Lula participou na quinta, 18, da abertura de um seminário de cooperação multilateral e recuperação em um cenário pós-Covid-19. Na ocasião, defendeu a quebra de patentes de vacinas para ampliar a igualdade no acesso aos imunizantes.
Em Paris, o ex-presidente foi recebido no Palácio do Eliseu com honras de chefe de Estado por Macron, um desafeto de Bolsonaro. Ao francês, Lula defendeu uma nova governança global e discutiu ameaças à democracia e aos direitos humanos. E por aí vai…
Eva Lorenzato (PT) não perdeu a oportunidade de enaltecer a participação do ex-presidente no cenário europeu. Para ela, o mundo inteiro reconhece o trabalho do Partido dos Trabalhadores e do PT: “Muito orgulho nós temos do estadista que Lula está sendo”. Veja:
Tchequinho (PSC), que não poupa críticas para se referir ao ex-presidente: “Ficou 16 anos saqueando o Brasil, e agora fica dando palestra dizendo que vai resolver os problemas do país”. Veja:
Durante o 9.º Fórum Jurídico de Lisboa, o ex-presidente do Supremo afirmou que hoje o Brasil vive um “semipresidencialismo com um controle de poder moderador que hoje é exercido pelo Supremo Tribunal Federal. Basta verificar todo esse período da pandemia”. O evento foi organizado pelo supremo magistrado Gilmar Mendes.
Para Candeia, essa afirmação é o mesmo que dizer que houve uma mudança constitucional sem a participação do Congresso Nacional. Veja: