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Como a esquerda instrumentaliza a tragédia

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Hoje pela manhã, preferi escutar, calado, o discurso emocionado e pró-desarmamento de um cliente. A experiência foi surreal, pois, enquanto ele falava, eu olhava para minha 9mm escondida sob a mesa. Não posso negar que ser conservador no Estado da Califórnia é uma experiência bastante interessante.

Respostas emotivas à tragédia em Las Vegas devem ser, até certo ponto, compreendidas e toleradas. Afinal, as pessoas estão sensibilizadas. Eu também estou. Não somente porque descobri que uma professora do distrito escolar onde resido foi uma das feridas, mas também porque estive em Las Vegas há menos de quatro semanas. Um dos lugares que visitei foi, precisamente, o Mandalay Bay, hotel-cassino em que o atirador se hospedou e de onde disparou contra a multidão em um show de música country. Como no ataque terrorista de San Bernardino, em 2015, em um prédio que minha família e eu havíamos frequentado alguns meses antes, outra vez vi uma tragédia acontecer bem perto de mim, sabendo que, se tivesse visitado esses lugares algumas semanas mais tarde, eu mesmo ou alguém de minha família poderia ter sido uma das vítimas.

(Avião Presidencial, Air Force One, voando por trás do Hotel Mandalay, em Las Vegas. No detalhe, as janelas quebradas de onde Stephen Paddock atirou contra uma multidão em um show de música country.)

Creio firme e fervorosamente no espírito da Segunda Emenda da Constituição americana (que garante ao cidadão comum o direito constitucional de possuir uma arma de fogo). Tenho plena convicção de que nenhuma lei de “controle de armas” (eufemismo da esquerda americana para “desarmamento”) teria impedido a tragédia de Las Vegas. Também entendo que não há evidências que sustentem a teoria esquerdista de que “menos armas, menos violência”.  Reconheço, porém, que este não é o momento ideal para tentar ensinar história e estatística às pessoas à minha volta. Creio que este é um tempo de luto em que, como nação, choramos, oramos pelas vítimas e nos empenhamos em ajudar nossa sociedade a superar a dor e a destruição. Afinal, o país foi devastado por uma série de tragédias nas últimas semanas. Quando mal havíamos enterrado as vítimas de 3 furacões monstros – Harvey, Irma e Maria – que mataram e desabrigaram várias pessoas nos EUA, agora choramos pelas vítimas de Las Vegas. Momentos como esse deveriam servir para unir a nação na promoção do bem comum, assim como foi no atentado de 11 de setembro, quando todos os americanos – de diferentes raças, credos e filiações partidárias – esqueceram suas diferenças e deram as mãos para juntos salvar vidas e reconstruir o que foi destruído. Infelizmente, esses tempos ficaram para trás. Nos dias atuais, oportunistas de plantão se utilizam da tragédia para colher dividendos políticos, utilizando-se da morte e da devastação para alavancar seu projeto de poder.

Dois terços das mortes por armas de fogo nos EUA se dão por suicídios. Entre o terço restante, muitos assassinatos são cometidos por armas obtidas ilegalmente. Mais leis de controle de armas nada fariam para impedir esses casos. Entretanto, em tempos nos quais uma parcela razoável da população americana se informa pelo Comedy Central e derivados, coisas como história, lógica e estatísticas acerca da relação entre a posse de armas e homicídios são extremamente ofensivas. Normalmente, um tuíte de Hillary Clinton com 140 caracteres ou um discurso emocionado de Jimmy Kimmel sobre assuntos complexos – como Obamacare e desarmamento civil – já são suficientes para que uma opinião seja formada (sim, Kimmel, o mesmo que, recentemente, contratou mais seguranças armados para a sua escolta pessoal). Conscientes disso, não demorou muito, após o ocorrido em Las Vegas, para que militantes desarmamentistas promovessem uma enxurrada de apelos ao “controle de armas” na TV, nos jornais e nas mídias sociais. O mais novo slogan dos militantes é “Não ore pelas vítimas! Faça algo!”, uma convocação para que as massas apoiem a causa desarmamentista. Do alto de suas mansões fortificadas, escoltados por seus seguranças armados, os arautos do desarmamento, em Washington e Hollywood, uma vez mais exigem que o cidadão comum abra mão de sua arma de fogo.

(Congressista Steve Calise (R – Louisiana) após o atentado que quase lhe roubou a vida:
“Minha experiência fortaleceu minha crença nos princípios da Segunda Emenda”.)

Steve Calise, congressista republicano pela Louisiana na Casa dos Representantes, é provavelmente o sobrevivente de um atentado à mão armada mais famoso da atualidade. No dia 14 de junho de 2017, Calise treinava para uma partida beneficente de beisebol, juntamente com outros congressistas republicanos, quando foi alvejado com um tiro de rifle por James Hodgkinson, militante de extrema-esquerda e ex-voluntário na campanha presidencial de Bernie Sanders. O atirador foi ferido e dominado pela Polícia do Capitólio, responsável pela segurança dos congressistas. Hodgkinson veio a falecer naquele mesmo dia, enquanto Calise e um membro da força policial, também ferida, eram operados. No dia 28 de setembro – após passar por diversas cirurgias e uma grave infecção – Calise retornou ao Congresso e foi ovacionado por seus colegas. Visivelmente mais magro e caminhando com a ajuda de uma muleta, Calise foi indagado por uma jornalista se sua experiência de quase-morte, somada à tragédia de Las Vegas, haviam mudado sua opinião a respeito da Segunda Emenda. De forma sóbria e consciente, Scalise demonstrou que a bala que penetrou seu quadril não abalou os seus princípios: o parlamentar declarou que, não fosse pela presença de homens armados naquele campo de beisebol, ele não estaria vivo para dar aquela entrevista. Scalise também reconheceu que, ao contrário dele, que conta com seguranças armados, a única defesa do cidadão comum contra um criminoso é, muitas vezes, sua própria arma de fogo. Curiosamente, quase nenhum destaque foi dado na grande mídia ao relato de Calise. Testemunhos que apelem à razão, e não explorem as emoções do público, não servem à causa desarmamentista.

Quase uma semana após a tragédia, a motivação de Stephen Paddock, o atirador de Las Vegas, ainda é desconhecida pelas autoridades. Até o momento, não se sabe se Paddock era doente mental ou adepto de alguma ideologia extremista. Entretanto, menos de 24 horas após o atentado, membros da imprensa militante já se entrincheiravam em outro front da batalha cultural – a cruzada anti-homem branco, cisgênero e cristão – municiando suas penas e mobilizando uma legião de justiceiros sociais que agora se preocupam mais com a raça do atirador do que com suas vítimas. A revista Newsweek, entre outras, publicou um artigo enfatizando que o atirador era “um homem branco e cristão” – como se isso tivesse o mesmo nível de relevância de quando um muçulmano grita “Allahu Akbar” antes de disparar ou jogar um caminhão contra uma multidão de inocentes.

(Fãs de música country à procura de abrigo depois que Stephen Paddock atirou contra a multidão.
As motivações do atirador ainda são desconhecidas.)

Poderosos grupos de interesse, através da mídia, instrumentalizam tragédias cometidas por atiradores de origem anglo-saxã, como Paddock, para relativizar e minimizar a ameaça do radicalismo islâmico nos EUA, no intuito de validar mais uma de suas falsas narrativas: “o terrorismo de homens brancos de extrema-direita é uma ameaça maior do que o terrorismo islâmico”. Mas a tentativa desesperada de se estabelecer uma equivalência moral entre crimes cometidos por cristãos nominais brancos e árabes jihadistas é um insulto à inteligência. Não há hoje uma ideologia ou grupos extremistas de cristãos que pregam a opressão sistemática das mulheres, o extermínio de homossexuais, o assassinato de infiéis, a destruição do Ocidente e a implantação de um Califado. Estas posições são adotadas pelo Islã e seus convertidos, que são, em sua maioria, de origem árabe, e não anglo-saxã. Se de fato for confirmado que Paddock era de origem cristã, seu transfundo religioso será apenas uma casualidade, tão relevante neste caso quanto à possibilidade de ele ter sido gay ou vegetariano. O mesmo não pode ser dito se for confirmado que Paddock era um novo convertido do Islã, como alega o Estado Islâmico.

Lamentavelmente, este é o grau de oportunismo das elites progressistas, compostas pelos “iluminados” que se aproveitam da vulnerabilidade das almas aflitas para empurrar seu pseudo-evangelho goela abaixo da população – seja o controle de armas, seja a promoção da ideologia identitária. O mesmo modus operandi pôde ser observado semanas atrás: enquanto Harvey, Irma e Maria castigavam Texas, Flórida e Porto Rico, respectivamente, uma multidão de alarmistas surgia para culpar a “mudança climática” pela intensidade e frequência dos furacões, isso sem apresentar nenhuma evidência científica que estabeleça a correlação entre uma coisa e outra.

Quanto ruído inútil em meio a tanta tragédia! Quem realmente se preocupa com os mortos? A esquerda não chora por eles, somente saliva sobre seus corpos. Neste abominável jogo de narrativas, a tragédia é uma oportunidade e as suas vítimas são meros troféus, instrumentalizadas como peões a serem sacrificados em prol de um possível “xeque-mate”, segundo a jogada de poderosos indivíduos e grupos de interesse que movem as peças do tabuleiro. A dor e a devastação são irrelevantes e fatos são pequenos detalhes, perdidos de vista na amplitude de uma narrativa construída para avançar um projeto político. Enquanto os mortos se decompõem, os vermes fazem a festa.

Que Deus nos proteja de terroristas e de furacões, mas também dos inescrupulosos que instrumentalizam a tragédia para promover propaganda. Amém.

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