Empresa de Minas Gerais coloca um computador fazendo ligações para números de todo o país, perguntando quem é o melhor vereador. Os mais votados ganham um “diploma” e a opção de comprar uma medalha. É sério!
Políticos adoram premiações, isto é fato. Aqui no Lócus, o assunto já foi tema de postagens que renderam muitos debates na comunidade. De olho neste filão, uma empresa da cidade de Viçosa, em Minas Gerais, resolveu fornecer honrarias com uma ajudinha da tecnologia, em volumes nacionais.
O Instituto Tiradentes criou uma enquete onde um sistema de telemarketing liga para números cadastrados em uma base de dados, pedindo que o “cadastrado” responda – através do teclado telefônico – quem é o “vereador mais atuante do seu município”. Depois de uma mensagem de boas vindas, começa o disque 1 para fulano, 2 para ciclano, até a opção 21 no caso de Passo Fundo.
Uma premiação chamada “Medalha Alferes Tiradentes” agracia os 3 mais votados no telemarketing e manda certificados via correio para a Câmara da cidade, avisando que a medalha é “conferida apenas aos políticos que obtiveram aprovação na mencionada enquete e que possuam ilibada idoneidade moral e relevantes serviços prestados em prol da comunidade”.
Nós ligamos para o Instituto Tiradentes, no número anunciado em sua página do facebook (o endereço tem 2420 curtidas) e conversamos com uma atendente. Indagada sobre a dinâmica da premiação, a funcionária repetiu o que já estava disponível no site e na rede social, mas revelou que as ligações para Passo Fundo foram realizadas entre os dias 10 e 21 de outubro, mas que não sabe a quantidade de números discados. Esta informação teria que ser encontrada pelo interessado, ao somar os votos divulgados em gráficos estilo pizza, enviados para os agraciados juntamente com o certificado. O site do Instituto não publica esses dados. Não é por nada que todas as divulgações, de vereadores pelas redes sociais mostram “fotos de um papel”.
Sobre a qualificação do público, não há qualquer dado. O sistema não sabe se no outro lado está uma senhora preparando o almoço e votando na primeira opção, um cabo eleitoral de algum vereador ou uma criança. É uma contagem, uma enquete sem valor científico que tem a pretensão de medir o valor, a honra e a relevância dos serviços de vereadores de Tio Hugo, de Passo Fundo ou de alguma cidade do Maranhão.
Aparentemente, o negócio do Instituto está mesmo na promoção de eventos. Dezenas deles são realizados pela empresa em diversas cidades do país. Para colocar as mãos na medalha, os vereadores mais votados precisarão de um deslocamento, no dia 7 de dezembro, até o 122º Seminário Brasileiro (respirem) de prefeitos, vice-prefeitos, procuradores jurídicos, controladores internos, secretários e assessores municipais, em Porto Alegre. O custo do evento: R$ 578,00 antecipado ou R$ 750,00 após 30/11.
É importante frisar que o vereador não leva o prêmio sem pagamento. Terá que se contentar com o certificado já enviado pelo Correio e com o buzz gerado pela premiação, se fechar a mão.
O telefone dos passo-fundenses já recebeu as ligações desta empresa em anos anteriores e os agraciados fizeram o devido auê na internet. Na edição de 2017, foram considerados destacados, ilibados e autores de relevantes serviços os vereadores Patric Cavalcanti, Mateus Wesp e Ronaldo Rosa (os votos começaram em 476 para o Patric, até ínfimos 6 – seis – para o vereador identificado apenas como “21”).
Em 2016, o campeão foi Marcio Patussi. Cerca de 3500 ligações são realizadas para a cidade a cada ano. E tomara que a ordem dos edis seja aleatória em cada ligação, sob pena do número 21 ser esquecido até pela criança.
Prêmios, prêmios e mais prêmios: daqui a pouco, poderemos fornecer certificados de relevância até por sorteio, para estes políticos tri-legais.
Os políticos deveriam medir as consequências destas avaliações sem critérios adequados. Se não controlam a vontade e a ação dos agentes desses esquemas, que pelo menos desprezem tais “conquistas” e continuem tentando, na tribuna, mostrar o valor de suas ações, sem chance para dúvidas. Deixem que o eleitor faça esta medida, na próxima eleição.