Passo Fundo

Manitowoc, a amigona dos socialistas gaúchos que virou um problemão

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Empresa de guindastes continua causando transtornos aos pagadores de impostos, revelando uma das maiores mazelas da atualidade: o capitalismo de compadrio.

A Manitowoc é uma centenária empresa americana que tem sede na cidade de mesmo nome, no estado de Wisconsin. É uma potência mundial na área de guindastes pesados e viu no Brasil uma chance, lá em 2006, de lucrar com o suposto “boom econômico” provocado pelo modo petista de governar, juntamente com a perspectiva de grandes obras a serem realizadas no país por conta da Copa do Mundo e das Olimpíadas.

Em janeiro de 2016, a empresa anunciou para o mundo o fim das operações em Passo Fundo, enterrando as promessas mútuas de sucesso, pujança e empregos.

A inauguração da Manitowoc em Passo Fundo ocorreu em 31 de março de 2012, após um longo namoro que deixou para trás outras pretendentes, entre elas as cidades de Araraquara (SP) e Fortaleza(CE). O dote oferecido pelos políticos foi decisivo para a escolha da capital do Planalto Médio: terreno de 45 hectares, serviços de terraplanagem, energia elétrica, água, esgoto, descontos em impostos municipais e estaduais (paralelamente, muita grana do BNDES). Ainda falando em RS, o FUNDOPEM entrou com 75 milhões em forma de “alívio” no pagamento de ICMS ao longo de 8 anos.

Tarso Genro e Airton Dipp, felizes no guindaste com os executivos da Manitowoc.

As benesses municipais oferecidas viraram a Lei Municipal 4769/2011. As contrapartidas e medidas compensatórias em caso de problemas ganharam algumas linhas, mas parece bem claro que a Manitowoc deve devolver tudo, de porteira fechada, em caso de desistência.

Em 2012, vivíamos o famoso alinhamento das estrelas, com Airton Dipp (PDT) na prefeitura de Passo Fundo, Tarso Genro (PT) no governo do estado e a petista Dilma Rousseff em Brasília. Este castelo socialista começou a ruir com a crise financeira e a operação Lava Jato, que desmoronou o mercado das grandes obras no país, maior cliente da Manitowoc. Estão nesta lista nomes como Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez, Petrobrás, Vale, Valefert, Braskem, Techint, Suzano Pulp & Paper, Alstom e Technip.

Enquanto esteve ativa, a empresa vendeu cerca de 130 guindastes, 30 deles para a Odebrecht e 27 para o consórcio que construiu a usina de Belo Monte, no Pará. Até 2015, um faturamento de 170 milhões de reais nestas operações.

Este é o cenário sombrio: uma empresa que recebe enormes incentivos fiscais e patrimônio através do governo (recurso oriundo dos pagadores de impostos) que tem como público alvo – majoritariamente – outras empresas ainda maiores que dependem da mesma forma do governo, em esferas maiores. Quando tudo deu errado, esta cadeia de poder do capitalismo de compadrio desceu morro abaixo, até parar na mão dos cidadãos, na forma de prejuízo financeiro e moral.

São empresas eleitas como amigas do governo, em detrimento da livre concorrência, da inovação e de um ambiente sadio para a concorrência. Além de competirem com prejuízo no mercado quando colocados lado a lado com os ungidos, muitas empresas que tentam a via independente ainda encontram mais problemas no dia a dia através de regulações, impostos e falta de estrutura e segurança.

2011: máquinas da prefeitura trabalhavam até mesmo nos finais de semana, no terreno de 45 hectares doado para a Manitowoc.

A prefeitura de Passo Fundo falhou miseravelmente na entrada e na saída. A primeira falha, ao apostar milhões de reais em um empreendimento em face de todos os então potenciais problemas já listados neste artigo, sempre em troca da promessa de retorno de impostos e empregos,  mantendo a mão do governo como “motor do progresso”.

Agora, no momento de arrumar a casa da forma mais correta, a prefeitura atua de maneira estranha: no dia 24 de novembro, larga uma notícia no site de forma peremptória: resolvemos o impasse, a Comercial Zaffari assumirá a área da Manitowoc, pagando 8 milhões de reais. Simples assim. Não fala em tratativas, planejamento ou possibilidades. O destino está traçado apenas pela vontade do Executivo, sem passar pela Câmara de Vereadores mesmo com uma negociação deste tamanho, de uma área de 45 hectares que agora com benfeitorias pode beirar os 50 milhões.

Página da prefeitura no Facebook: tudo resolvido!

Para o bem da comunidade, o melhor destino desta área seria um leilão, reunindo todos os interessados pela compra do imóvel. Que o dinheiro arrecadado vire caixa nos cofres da prefeitura de Passo Fundo, acalmando quem sabe um futuro aumento no IPTU, garantindo uma obra necessária em nossas estradas ou a construção de edificações para diminuir o gastômetro municipal no pagamento de aluguéis (eles são muitos).

Em 1962, o satélite Sputnik 4, da defunta União Soviética, se estabacou em uma rua da cidade de Manitowoc, depois de orbitar o planeta de forma errante por dois anos, fruto de uma explosão em seu lançamento. O local ganhou uma placa marcando a efeméride e uma réplica do destroço espacial está em um museu da cidade.

Em 2012, em Passo Fundo, uma empresa de Manitowoc pousou calmamente, orientada por políticos inspirados pela defunta União Soviética e seu estado gigante e totalitário. Depois de orbitar o poder público de forma errante por 5 anos, o empreendimento naufragou. A comunidade espera que este tipo de política vire coisa de museu.

 

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