De um dia para o outro, Eduardo Bolsonaro mudou seu posicionamento sobre o déficit previdenciário. No dia 3 de dezembro, foi taxativo: “a previdência não é deficitária”:
Hoje, depois de virar alvo nas redes sociais e ser contestado por inúmeras pessoas, afirmou o inverso do que havia escrito na véspera: “há deficit sim da previdência”:
Afinal, em qual Eduardo Bolsonaro acreditar? Naquele que diz peremptoriamente não existir déficit ou no outro que tenta se explicar dizendo que queria falar outra coisa? Tendo a desconfiar deste segundo Eduardo Bolsonaro. Não porque duvide que pessoas possam mudar de ideia, mas porque é difícil achar alguém que mude de ideia tão rápido.
No início do ano, quando se começava a falar da Reforma da Previdência, Eduardo publicou um vídeo nas redes sociais com seu posicionamento. Se manifestava contra a Reforma em termos que, novamente, caberiam na boca de um sindicalista da CUT:
“Queria registrar aqui e antecipar o meu voto contrário a Reforma da Previdência. Eu fundamento isso basicamente num pilar: o de que, primeiro, é necessário que nós cobremos dos grandes devedores. (…) Eu não vi esforço do Governo pra cobrar. (…) São aqueles que mais devem a Previdência Social. Enquanto isso não for feito, não haverá moral para que o Congresso analise essa proposta. (…) Além disso, é necessário também ressaltar que a nossa Previdência, ela é superavitária, ou seja: ela não dá prejuízo.”
https://www.youtube.com/watch?v=RQ1OVpLirrI
Não é diferente do que diz Ciro Gomes:
https://www.youtube.com/watch?v=V8G5yZ2endw
Também não é diferente do que diz o senador Paulo Paim, do PT. Assim como Bolsonaro, ele nega o rombo e ataca devedores: “Setores do patronato arrecadam, por ano, em torno de R$25 bilhões do bolso do trabalhador e não repassam à Previdência.”
Encerro este post compartilhando o trecho de um texto no qual o economista Alan Nader Ghani desmonta as mistificações de Bolsonaro, Ciro e Paim:
“Outra mentira espalhada por aí é que não existe déficit da Previdência Social porque a Seguridade Social é superavitária. Só para entendermos, a Previdência Social faz parte da Seguridade Social. A Seguridade Social é composta por Previdência Social, Assistência Social e Saúde. Bom, primeiro que os números da Previdência Social e do Tesouro são públicos. Basta checá-los para comprovar que o rombo de 150 bilhões de reais existe. Como bem observou o Procurador do Estado do Rio de Janeiro, Felipe Derbli, em um ótimo e didático artigo sobre o tema (aqui), “o financiamento das despesas previdenciárias estritamente com as receitas previdenciárias é inviável – se assim não fosse, não seria necessário tributar toda a sociedade.” Aliás, os gastos com a previdência representam 58% dos gastos da Seguridade Social, mostrando o óbvio: a Previdência é altamente deficitária! Como também precisamente observou o economista do IPEA especializado em Previdência, Paulo Tafner, “eles [os contrários à reforma] querem subtrair os recursos da Saúde e da Assistência para fechar as contas da Previdência, em vez de corrigir os problemas da Previdência.
(…)
É evidente que as empresas devem arcar com as suas dívidas com o governo; mas, novamente, o pagamento resolveria o problema por 3 anos e não garantiria para os próximos anos à sobrevivência do sistema. Parece haver uma confusão enorme entre dívida (variável estoque) e déficit (variável fluxo). O rombo da previdência é de 150 bilhões por ano. Em outras palavras, o governo tributa e pega dinheiro emprestado da sociedade para cobrir o roubo da previdência todo ano. O déficit constante da previdência aumenta anualmente a dívida pública, a qual segue trajetória insustentável.”
Em tempo: o paper mencionado por Eduardo Bolsonaro no Twitter tem o título de “Poupança Individual de Aposentadoria – PIÁ” e foi publicado na “Revista Brasileira de Previdência”.
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Dom Beltrand, numa palestra em Caçapava/SP, em 1992, à Fundação Nacional do Tropeirismo, falou de estudos que mostram os efeitos nocivos da democracia para a população têm o mesmo efeito daqueles sobre os filhos que são criados em núcleos familiares instáveis, com brigas, insultos, violência. A alternância democrática, a cada quatro anos, causa feridas que, logo quando sanadas, voltam a se formar.
Quando assisti ao vídeo acima, poucos anos atrás, esse argumento pareceu bastante sensato. Em 2018, por exemplo, quantos foram aqueles que, aos prantos, ficaram horrorizados com a vitória de Bolsonaro: homossexuais diziam que seriam perseguidos, feministas temiam o recrudescimento da violência contra a mulher, corruptos apavorados com presas. Por todos os lados, uma choradeira democrática sem precedentes. Todos esses temores, obviamente, não se confirmaram.
Agora, o cenário é outro. Lula candidato é como aquele sujeito que vai a uma festa somente para importunar aqueles que querem se divertir. Sua presença nas eleições é sinônimo de algazarra. A esquerda gosta dessa bagunça, da agitação, da insegurança, do terror. Lula visita traficantes, justifica pequenos furtos de delinquentes, promete abertamente caçar os seus opositores, se restar vitorioso. A direita e os conservadores que se preparem.
Numa recente entrevista de Leonardo Boff, um esquerdista da velha guarda que se posta como líder espiritual, afirmou com todas as letras que conversa seguidamente com Lula e que o discurso do descondenado é moderado. Sim, “moderado”. Se ele vencer, de acordo com Boff, o bicho vai pegar. Eles falam isso abertamente e muita gente custa acreditar.
A democracia nos custa, a cada dois anos (levando em consideração as eleições municipais), muitas noites de sono. Ponto para Dom Beltrand. Mesmo que Lula perca, a dor de cabeça foi muito grande.
Já se passou o tempo em que defender ex-presidiários era sinal de imoralidade. Eva Lorenzato é uma amostra destes tempos
Lula esteve na Europa recentemente. A agenda incluiu o presidente da França, Emmanuel Macron, o futuro chanceler alemão Olaf Schulz, a prefeita de Paris, Anne Hidalgo, que disputará as eleições presidenciais francesas, o ex-premiê da Espanha José Luís Zapatero e o prêmio Nobel de Economia em 2001, Joseph Stiglitz. Na Espanha, com o atual premiê espanhol, Pedro Sánchez.
Em Madri, Lula participou na quinta, 18, da abertura de um seminário de cooperação multilateral e recuperação em um cenário pós-Covid-19. Na ocasião, defendeu a quebra de patentes de vacinas para ampliar a igualdade no acesso aos imunizantes.
Em Paris, o ex-presidente foi recebido no Palácio do Eliseu com honras de chefe de Estado por Macron, um desafeto de Bolsonaro. Ao francês, Lula defendeu uma nova governança global e discutiu ameaças à democracia e aos direitos humanos. E por aí vai…
Eva Lorenzato (PT) não perdeu a oportunidade de enaltecer a participação do ex-presidente no cenário europeu. Para ela, o mundo inteiro reconhece o trabalho do Partido dos Trabalhadores e do PT: “Muito orgulho nós temos do estadista que Lula está sendo”. Veja:
Tchequinho (PSC), que não poupa críticas para se referir ao ex-presidente: “Ficou 16 anos saqueando o Brasil, e agora fica dando palestra dizendo que vai resolver os problemas do país”. Veja:
Durante o 9.º Fórum Jurídico de Lisboa, o ex-presidente do Supremo afirmou que hoje o Brasil vive um “semipresidencialismo com um controle de poder moderador que hoje é exercido pelo Supremo Tribunal Federal. Basta verificar todo esse período da pandemia”. O evento foi organizado pelo supremo magistrado Gilmar Mendes.
Para Candeia, essa afirmação é o mesmo que dizer que houve uma mudança constitucional sem a participação do Congresso Nacional. Veja: