Em reunião a portas fechadas (11 de janeiro), uma comissão bipartidária de congressistas americanos discutia uma possível reforma nas leis de imigração com o Presidente Donald Trump. A Administração havia recentemente declarado o fim das autorizações temporárias de trabalho dadas a imigrantes de determinados países. De repente, a bomba: Trump supostamente chamou o Haiti, El Salvador e partes da África de “shithole” – literalmente “buracos de merda” ou “latrina”.
O comentário, inicialmente vazado à imprensa por uma “fonte anônima” (hoje, sabe-se que a informação procedeu do senador democrata Dick Durbin) abriu os portões do Hades sobre a América: âncoras da CNN apareceram literalmente chorando diante das câmeras; celebridades e políticos, ouriçados, esbravejavam indignados, chamando o Presidente de “racista”; diplomatas americanos na África se viram em maus lençóis ao serem convocados pelas autoridades locais para dar explicações; jornalistas militantes, na tentativa de desmoralizar o Presidente, ignoraram os padrões éticos mais básicos do jornalismo e repetiram o termo ad nauseam em horário nobre, causando uma chuva de reclamações junto ao FCC (agência reguladora equivalente à ANATEL) por parte de pais furiosos cujos filhos haviam sido expostos ao linguajar, considerado chulo. Por dias, a palavra “shithole” entrou para os trends no Twitter. Um vocábulo de oito letras foi a pequena faísca que “incendiou Roma”.
Trump, em reunião com membros do Congresso, discute o futuro dos chamados ‘Dreamers’ nos EUA. À direita do Presidente, o senador Dick Durbin (Illinois).
O contexto em que o Presidente teria se utilizado do termo foi uma pergunta: “Por que há tantas pessoas destes ‘países de merda’ imigrando para os EUA?”. De acordo com a imprensa, Trump jogou sal na ferida ao prolongar o soneto: “Por que não trazemos mais pessoas de países como a Noruega, por exemplo?” – algo que a esquerda automaticamente interpretou e noticiou como um comentário racista (traduzindo: “Trump quer trazer imigrantes brancos para os EUA e expulsar os negros do Haiti”).
Os EUA, de fato, não precisam de mais estatistas loiros importados da Noruega. Já bastam os californianos. Os que dominam a língua inglesa e ouvem Trump sabe que ele está longe de ser o Presidente mais articulado a ocupar o Escritório Oval. É preciso reconhecer que sua escolha de palavras, pronunciadas diante de adversários políticos, não foi a mais sábia; que situações como estas municiam a Guarda Pretoriana do Partido Democrata (CNN, MSNBC, The New York Times, The Washington Post e afins) que instrumentaliza polêmicas como estas para criar uma cortina de fumaça, ocultando do público o grande momento de prosperidade econômica vivido desde que Trump assumiu a Casa Branca.
Por outro lado, a falta de sofisticação de Trump é, por vezes, seu maior trunfo – algo que o establishment político e midiático não compreendeu durante a campanha presidencial e parece não ter entendido até hoje. Trump reproduz, ipsis verbis, aquilo que uma boa parcela dos cidadãos comuns pensa e fala na sala de estar e nas conversas de bar, mas que seus representantes eleitos não têm coragem de dizer publicamente. Foi justamente esta característica que mesmerizou parte das massas que – fora dos populosos redutos progressistas na Califórnia e em Nova Iorque – elegeram Trump como Presidente.
Nesse sentido, o comentário em questão pode não ter sido politicamente correto, mas não deixa de ser correto. Alguém poderia afirmar, com seriedade e em sã consciência, que partes da África, Haiti e El Salvador – regiões devastadas pela miséria e pela violência – não são verdadeiros infernos na terra? Se não são, por que a esquerda americana se utiliza das mazelas sociais destes países para fazer encenação de virtude e, em nome da “compaixão”, defender a entrada indiscriminada e a permanência de seus cidadãos nos EUA?
Como alguém que já visitou alguns países no Caribe e na América Latina, posso afirmar que o povo caribenho/latino-americano é, em geral, composto por pessoas dignas, amáveis e hospitaleiras – em vários aspectos, semelhantes ao povo brasileiro. Não obstante, a crítica se enfoca em sistemas de governo que transformam nações em usinas de opressão, não na raça ou no caráter de seus habitantes.
No intuito de amplificar a controvérsia, a imprensa militante, convenientemente, omitiu parte do comentário feito pelo Presidente. Trump não perguntou “por que não trazemos mais brancos da Noruega?”, mas disse “por que não trazemos mais pessoas de países como a Noruega e da Ásia?”. A omissão da Ásia na maior parte dos meios de comunicação foi claramente proposital, feita para alimentar a narrativa de que o Presidente é um supremacista branco. Ao citar a Ásia, porém, Trump deixa claro que não está pensando em trazer mais “imigrantes loiros” aos EUA, mas sim imigrantes qualificados, com grau superior, que possam beneficiar a nação com suas habilidades, que sejam autossustentáveis e não uma carga ao sistema de bem-estar social – fatores que destacam europeus e asiáticos nos EUA, em comparação com imigrantes vindos da América Latina (infelizmente). Os asiáticos são, atualmente, o grupo étnico com maior renda per capta nos EUA, acima até mesmo da maioria anglo-saxã.
Os asiáticos são o grupo étnico com maior renda per capta nos EUA, acima da maioria anglo-saxã.
Não há dúvidas de que muitos imigrantes do México, Guatemala e Honduras encontram nos EUA oportunidades que não tinham em seus países de origem e, uma vez libertos das amarras que os detinham, tornam-se pessoas produtivas e prósperas. Porém, as estatísticas apontam que mais da metade dos imigrantes oriundos destes mesmos países vivem na pobreza e dependem do sistema de bem-estar social americano, algo extremamente injusto para o pagador de impostos – o que demonstra que, de um ponto de vista fiscal e estatisticamente falando, o país de origem é um fator relevante quando o assunto é imigração. Dizer isso tornou-se politicamente incorreto, mas não se trata de “racismo”, do mesmo modo que afirmar que, nos EUA, negros cometem mais crimes do que brancos. Ambas as afirmações são apenas a constatação de fatos baseada em estatísticas.
Os EUA são, provavelmente, a única nação desenvolvida para onde as pessoas imigram simplesmente por terem sido sorteadas em uma loteria de vistos, onde imigrantes ilegais acham que passam a adquirir direitos por tempo de permanência (ilegal) no país, para onde as pessoas imigram simplesmente por terem um irmão vivendo aqui (coisas estas que Trump pretende mudar). Nações como a Austrália, a Nova Zelândia e o Canadá possuem um sistema de imigração extremamente seletivo, orientado por méritos calculados de acordo ao nível de educação e domínio do idioma local por parte do imigrante.
Sabe-se, no entanto, que o Partido Democrata não está interessado em imigrantes legais, com formação superior, que sejam autossustentáveis, que conheçam o idioma e se assimilem à cultura americana. Sua sobrevivência política depende da constante existência de uma subclasse de marginalizados, segregados em seus guetos étnicos, que olhem o Partido como “o salvador da raça oprimida pela maioria branca”. A luta dos democratas pela anistia de imigrantes ilegais nos EUA não é motivada por compaixão – trata-se apenas de um investimento político. Para a esquerda americana, cada imigrante ilegal hoje equivale a um voto democrata amanhã. A estratégia está claramente delineada em um memorando interno do Partido Democrata vazado recentemente, escrito por Jennifer Palmieri, estrategista política e uma das diretoras da falida campanha presidencial de Hillary Clinton. Nele, Palmieri diz que a luta pelos chamados dreamers (“sonhadores”: pessoas trazidas aos EUA ilegalmente por seus pais quando ainda eram menores de idade) é “um elemento crucial para o futuro do Partido Democrata” sem a qual “o futuro dos democratas nas eleições de 2018 e posteriores será prejudicado”. Para Palmieri, a anistia de aproximadamente 800 mil dreamers (e posteriormente de seus pais e irmãos, uma vez que esta parcela de imigrantes ilegais já estiver legalizada) determinará a sobrevivência política de seu partido.
Ironicamente, professores esquerdistas na Harvard – Universidade que se gaba de seu baixo índice de admissão (5%) – e CEO’s de gigantes da tecnologia como Google e Facebook – notoriamente seletivos na contratação de seus profissionais – financiam os arautos de um “mundo sem fronteiras” na política e, conformando-se à ditadura do politicamente correto, opõem-se a uma reforma que torne o sistema de imigração americano mais meritocrático. Em caso de uma anistia geral, quantos imigrantes ilegais seriam admitidos pela Harvard ou contratados pela Google? Por que o seletivismo, comumente aplicado no mundo corporativo/acadêmico, torna-se uma heresia quando orienta as políticas de imigração do país? Seria a nação, cujo sistema permite que seus empreendimentos prosperem, menos importante do que as corporações gerenciadas por esta elite de progressistas?
A imigração é comumente vista por esquerdistas – e até por parte dos liberais – como um fator intrinsicamente benéfico a uma nação. Qualquer oposição à imigração ilegal ou a políticas que a incentivem (como a anistia a 11 milhões de imigrantes ilegais) é taxada por muitos como “racismo” e “xenofobia”. “Os EUA são um país de imigrantes” é um clichê exaustivamente utilizado para normalizar a política globalista de fronteiras abertas. Entretanto, imigração em si não é um fenômeno intrinsicamente positivo ou negativo e somente se torna benéfica quando: 1) atende às necessidades da nação hospedeira; 2) acontece de forma seletiva e organizada; e 3) promove o respeito aos valores e a assimilação à cultura local. A exceção – o asilo político ou humanitário em ocasiões específicas e esporádicas – deve existir, mas não orientar a formulação de leis imigratórias. Como regra, qualquer fluxo de estrangeiros que viole os princípios acima se trata de uma invasão – não imigração – e representa uma ameaça à soberania nacional.
A imigração só é benéfica quando serve aos propósitos da nação hospedeira, acontece de forma seletiva e organizada e promove a assimilação cultural.
Independentemente da escolha de palavras do Presidente, Trump trouxe para o centro do debate um ponto no qual nenhum político de carreira, republicano ou democrata, havia ousado a tocar: o sistema de imigração dos EUA tem como alvo principal beneficiar os americanos, não aliviar ou importar a pobreza do mundo. Trump defendeu o direito do povo americano de escolher quem entra nos EUA e o perfil de imigrante que se estabelecerá no país, algo que se perdeu em meio a todo o ruído feito pela imprensa militante. Como bem disse o então candidato Trump, “uma nação sem fronteiras não é uma nação”, é somente mais uma província governada por elites globalistas que abominam o conceito de Estado Nação. Mas, sob a liderança de Donald Trump, esta República, que nasceu banhada no sangue de uma revolução contra a “Tributação sem Representação”, certamente não abrirá mão de sua soberania sem uma boa peleja. America First.