Em julho de 2017, o jornalista Lauro Jardim veio com uma matéria bombástica. Em delação premiada, “como jamais foi feita na Lava-Jato”, Joesley Batista, proprietário da JBS, havia entregado ao Ministério Pública uma fita. Nela, o presidente Michel Temer aparecia “dando aval para compra de silêncio de Cunha”. A repercussão foi tal que quase derrubou o governo.
A revelação do conteúdo da gravação, entretanto, evidenciou a notícia falsa difundida ao público. O Presidente não havia anuído com nenhum tipo de silenciamento. No áudio, Joesley afirma estar “de bem com o Eduardo”. Imediatamente é respondido por Temer, que diz: “Tem que manter isso, viu?”. O que Lauro Jardim fez foi uma interpretação particular do sentido da conversa. O jornalista deu a esse seu entendimento uma manchete chamativa. De repente, dizer que é bom manter uma boa relação com determinada pessoa virou o mesmo que dar carta branca para o pagamento de propina.
O texto do referido colunista não foi publicado em nenhum blog ou site suspeito do submundo da internet. Foi publicado na prestigiada sessão de política do jornal “O Globo”, um dos mais tradicionais periódicos do país. Surpreende, portanto, que nem Lauro Jardim e nem “O Globo” tenham aparecido na longa matéria sobre fake news veiculada na última edição do programa “Fantástico”.
O mainstream jornalístico, do qual a Rede Globo é peça fundamental. Está empenhado em asfixiar a mídia alternativa que surgiu nos últimos anos. A principal linha de ação para atingir esse objetivo é jogar a sombra da suspeição sob os pequenos veículos, independente do trabalho que realizem. Por isso o sensacionalismo em cima das fake news e do papel que as redes sociais teriam em sua difusão.
Que não haja dúvidas: o problema das fake news é real. Ocorre que ele não é tratado com a devida seriedade. Pelo contrário, tornou-se instrumento de narrativa para a inviabilização da concorrência jornalística. A matéria do “Fantástico” é, na maior parte do tempo, um apanhado de generalidades. O único “caso” que é explorado é o da eleição americana, na qual se afirma que esse tipo de informação ajudou a alterar o resultado das urnas. Isso, entretanto, não passa de conjectura desprovida de base fática. Ninguém sabe, ou é capaz de calcular, se alguma fake news foi importante para que Hillary Clinton acabasse vencida por Donald Trump. Há inúmeros fatores que determinam o vitorioso em uma disputa presidencial, ainda mais em um país continental como os EUA.
Grandes organismos de comunicação não estão à margem da problemática das fake news. Muito pelo contrário. Em virtude de seu alcance e da credibilidade que ainda tem junto ao público, potencializam informações falsas que eventualmente divulgam. Na matéria do “Fantástico”, é dito que se você estiver lendo um texto que não foi “publicado em sites da imprensa profissional, o risco de ser boato é grande”. Que o digam Lauro Jardim e o jornal “O Globo”.
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