O Show da Vida “desvenda” as fakenews enquanto a GaúchaZH revira as cinzas da Queermuseu e debocha do pensamento crítico dos brasileiros.
A imagem de uma Hillary Clinton triunfante em um comício eleitoral ao som de Brave, da cantora Sara Bareilles, logo é cortada por um Trump eleito “de última hora”, por uma força estranha e inesperada. Esta é a mensagem que abre a reportagem “Fake news: estudo revela com nasce e se espalha uma notícia falsa na web”, exibida no Fantástico do dia 25 de fevereiro.
Este primeiro minuto de especulações serviu de alicerce para outros 16, em uma reportagem que mistura um suposto marqueteiro praticante de ilícitos protegido por imagem alterada, duas universidades públicas como “ferramenta técnica” e depoimentos de especialistas e autoridades. Tudo feito diretamente da sucursal da Globo em Nova York, coordenado pelo jornalista Felipe Santana.
Através do Skype, o jornalista mostra um experimento do Laboratório de Aplicações de Vídeo Digital da Universidade Federal da Paraíba. O professor responsável pelo Lavid, Guido Lemos, cria com seus auxiliares um site com notícias falsas, sustentado por outros dois endereços para reforçar a “credibilidade” da informação. Por notícia, um texto sobre um paranormal russo que teria adivinhado o resultado da Copa do Mundo de 2018. A “notícia” utiliza duas fotos: do místico realmente russo do período czarista, Grigori Rasputin, e da personagem Eleven, da série Stranger Things, da Netflix.
A equipe usa seus próprios robôs para espalhar os links na internet e paga para o Facebook divulgar os links, atingindo cerca de 200 mil pessoas. Esta façanha serve de argumento para diversas afirmações do tipo “será assim aqui no Brasil durante as eleições” e “é assim que criam os discursos de ódio”.
Estúdios da Globo nos EUA, cenário da reportagem: até a decoração é um fiasco.
Paralelamente ao experimento do Lavid, o marqueteiro bandido vai dando dicas de como são as coisas no submundo virtual, debocha da Polícia Federal e se gaba sobre uma lista de serviços já prestados ao Lado B (palavras dele) da política nacional. Um esquema de fazer inveja ao apresentador Gugu Liberato e seu famoso escândalo com a entrevista do PCC, em 2003.
O programa tentou mostrar como funcionam as fakenews (assunto que merece uma abordagem mais séria), mas precisou criar a própria mentira no laboratório de uma universidade pública.
A RBS segue a linha da emissora mãe.
O Fantástico citou as reações e confrontos populares no caso do Santander e sua Queermuseu como exemplo de conflito inflado por robôs da internet. O site GaúchaZH, poucas horas depois da atração, dedicou um texto ao caso, “comprovando” com um borrão colorido que o debate recebeu interferência externa. E chamaram até o curador Gaudêncio Fidélis para reforçar a versão de que tudo era uma farsa.
Assista ao agradecimento de Cesar Cavazzola, diante da repercussão do texto que denunciou a exposição do Santander Cultural – Queermuseu.
O GaúchaZH ignorou solenemente o fato de que o Lócus foi pioneiro na denúncia contra o Santander e este fato tomou proporções nacionais. Este pioneirismo foi comprovado até mesmo pela Revista Época e pela Folha, cada um ao seu modo, evidenciando uma reação autêntica da audiência e a indignação popular com imagens de crianças hipersexualizadas e símbolos religiosos profanados. Para os gestores do pensamento único, nada é autêntico: você está sendo manipulado por geradores de ódio da extrema-direita.
Veja aqui o artigo que denunciou a exposição da QueerMuseu.
De fiasco em fiasco, a população vai entendendo quem é quem no jornalismo brasileiro e o papel libertador da internet. Graças a dezenas de iniciativas independentes, ainda há espaço para a verdade, invertida no espelho da grande mídia como fakenews.