O Rio Grande do Sul deu uma amostra do sentimento que reside nos brasileiros em relação aos anos de bonança petista. Os cidadãos passo-fundenses foram um pouco mais longe: barraram a entrada de Lula na cidade e interrompem a caravana eleitoral do PT
A etapa sul da caravana “Lula pelo Brasil” iniciou na segunda, 19, pelas cidades de Bagé e Santana do Livramento. O esforço nacional do Partido dos Trabalhadores consiste em colocar o ex-presidente Lula em um ônibus e promover atos políticos em praças e prédios públicos por todo o país. Nestes eventos, muito discurso com as demagogias de sempre, luta de classes e bravatas de quinta categoria.
Roteiro da caravana “Lula Pelo Rio Grande”, divulgado pelo deputado federal petista Pepe Vargas, no Facebook.
Quase todo brasileiro já tem um bom conhecimento sobre as ideias e bandeiras defendidas no mundo petista, seus espantalhos e suas mentiras. Neste momento, é curioso observar os recursos ainda disponíveis para o PT gastar com aluguel de jatinho, ônibus e palanques, além da quantidade de políticos servindo como companheiros de pré-campanha (alguns em pleno exercício do mandato, como a senadora Gleisi Hoffmann) nesta caravana. É hora de guardar uma nota na agenda para se lembrar dos nomes locais que endossaram e tentaram acompanhar a caravana em seus compromissos aqui na cidade.
Em Passo Fundo, no dia 23, deu tudo errado para os petistas. Eventos simultâneos com grupos organizados e também indivíduos que saíram para protestar de forma independente, foram concentrados em três pontos da cidade. No centro, na esquina da Avenida Brasil com a Bento Gonçalves (insistentemente chamada de “Esquina Democrática” por alguns), na sede da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) e (o maior de todos) no trevo de acesso à cidade, no entroncamento das BRs 285 e 324 – rota para quem vem da região de Ronda Alta e Pontão – cidades na rota da caravana.
Os três pontos onde ocorreram manifestações contra Lula: trevo de acesso, Centro da cidade e prédio da UFFS.
Agricultores levaram os tratores para o trevo, queimaram pneus e montaram barricadas humanas para impedir a passagem dos ônibus e demais veículos da entourage petista. Houve confronto com a polícia, bomba de gás e pelo menos uma prisão. Esta resistência acabou por convencer os dirigentes da caravana a não continuar com o evento como previsto, seguindo para a próxima etapa, em São Leopoldo, pegando um atalho por Chapecó. Um avião fretado que aguardava os líderes petistas no aeroporto de Passo Fundo partiu sozinho para Santa Catarina, no final da tarde.
O ato oficial previa um ato no interior da UFFS, mas um pedido de liminar através de Ação Popular, no dia 21, partindo dos vereadores Mateus Wesp (PSDB), Roberto Toson (PSD), Renato Tiecher (PSB) e Ronaldo Rosa (SD), tentou barrar a realização do evento. Mesmo indeferida pelo juiz federal Rafael Castegnaro Trevisan logo no dia 22, a AP ajudou a chamar a atenção da população para a situação. Outro inimigo interno para a UFFS foi o seu próprio diretório acadêmico, autor de nota contra o evento nas dependências da instituição.
Nota oficial do Diretório Acadêmico Rudah Jorge, sobre o evento na UFFS.
A sexta feira começou com chuva e dúvidas: enquanto a deputada federal Maria do Rosário (PT) era recebida nas dependências da UFFS para uma conversa informal com o staff da instituição, as obras do entorno continuavam com o fluxo normal. Servidores acomodavam itens dentro do saguão e pareciam preparar o local para algo “maior”. Nos diversos grupos de WhatsApp dos manifestantes, ligações telefônicas e informações das emissoras de rádio, versões sobre a realização ou não do ato na UFFS ou sua transferência para o centro da cidade (onde o PT montou um pequeno palco) eram revezadas a cada minuto. E assim acabou o evento petista: sem ao menos começar. No final da tarde, coordenadores da caravana mandaram dizer que não entrariam em Passo Fundo.
Há quem diga que Lula nunca pensou em realizar evento no diminuto palco montado por seus apoiadores locais em frente ao Banco do Brasil. A manobra diversionista serviria apenas para desestabilizar os manifestantes que cercavam a UFFS, alvo desde sempre da ação do político. Nunca saberemos os bastidores desta história, mas a UFFS acabou “inaugurada” com direito a corte de fita e hino nacional – ali mesmo – pelo povo passo-fundense.
Um número incerto de pessoas saboreou a vitória própria ou dos seus representantes informais na grande batalha contra a infâmia. Um número muito menor (sorry, IBOPE) lambe as feridas nas sedes dos partidos alinhados com o PT, em algumas redações e até mesmo em salas de professores nas escolas da capital do Planalto Médio.