Deltan Dallagnol vai ficar de jejum nesta quarta-feira, dia em que o Supremo Tribunal Federal decidirá sobre o habeas corpus de Lula. Ele anunciou a decisão em sua conta no Twitter, ferramenta que transformou em tribuna política para desferir ataques a todos que eventualmente não compartilham de suas soluções para o país.
Não critico a religiosidade do procurador, que se define como evangélico, mas sim a instrumentalização que ele faz da fé para efeitos de afetação pública. Se tivesse apreço pelos textos bíblicos, ele daria uma boa olhada no que vai escrito em Mateus 16: 16 – 18:
“16 E, quando jejuardes, não vos mostreis contristados como os hipócritas; porque desfiguram os seus rostos, para que aos homens pareça que jejuam. Em verdade vos digo que já receberam o seu galardão.
17 Tu, porém, quando jejuares, unge a tua cabeça, e lava o teu rosto,
18 Para não pareceres aos homens que jejuas, mas a teu Pai, que está em secreto; e teu Pai, que vê em secreto, te recompensará publicamente.”
No tempo em que Cristo andou pelo mundo, parte dos judeus eram identificados como integrantes da tribo dos Fariseus – os seguidores diretos da Lei Divina (os Mandamentos). Estes eram conhecidos pela postura pública, que sempre buscava a ostentação da virtude. Usavam indumentárias especiais para ressaltar sua religiosidade, bem como escolhiam os melhores lugares na sinagoga. Quando praticavam jejum, faziam todos saber do ato, como que para publicizar sua fé.
Jesus veio para cumprir a lei de verdade. Quem faz jejum o faz para louvar a Deus e melhorar como pessoa. Por isso, quem faz jejum o faz com alegria, sem fazer cara de sofrimento e sinalizar virtudes. Deltan, entretanto, parece fazer jejum para pressionar o STF e alimentar sua imagem de mártir da ética nacional.
A Lava Jato trocou a produção de provas pela produção de teoria política. Agora parece descambar para a pregação. A operação, que começou mostrando a corrupção sistêmico que se instalou no Brasil, vai se transformando em uma pseudoreligião jurídica controlada por fariseus. Esses novos sepulcros caídos que exalam moralidade e altivez enquanto recebem auxílio moradia.
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