A esquerda brasileira, principalmente essa que se aboleta no meio universitário, carece de instrução. Conhecem Karl Marx de ouvir dizer. O pouco que sabem foi aprendido de orelhada em algum diretório de partido. São os marxistas de panfleto, que jamais passaram da página cinco de “O Manifesto Comunista”. O fato é que o chamado “progressismo” se encontra em avançado estado de deterioração intelectual. A maior prova disso é que uma figura como Márcia Tiburi virou referência teórica para eles.
Os incipientes liberalismo e conservadorismo brasileiros poderiam aproveitar esse momento para solidificar e popularizar seu ideário pela autoridade do conhecimento. Mas que nada. Parte considerável de seus militantes prefere copiar a esquerda no apreço que ela tem pela ignorância. Em boa medida, tornaram-se meros repetidores de chavões. Basta alguém dizer alguma coisinha que lhes soe agradável para que caiam de joelhos por constatarem o uso de seu palavrório mágico por alguém de destaque. Tivessem um pouco mais de preparo, não se deslumbrariam tão facilmente.
Quem amealhou uma porção de fãs no campo liberal foi o ministro Luis Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal. Não é incomum vê-lo falando sobre excesso de governo e ineficiência estatal. Na último final de semana, o magistrado palestrou no Brasil Forum UK, evento realizado por estudantes brasileiros no Reino Unido. Barroso descreveu nossa sociedade como “viciada em Estado”, e apontou que “qualquer projeto no Brasil depende do Estado, de financiamento do BNDES, da Caixa Econômica ou da ajuda do prefeito”. A observação é correta, por óbvio, mas daí a vê-lo como grande defensor da liberdade vai uma grande diferença. No máximo, Barroso é herói da liberdade de Cesare Battisti, o terrorista italiano que foi protegido pelo governo petista.
Não há uma única causa dita “progressista” que não encontre em Barroso seu mais devotado defensor no STF. O que destoa é sua posição no caso Lula. É importante entender a razão de seu alinhamento com os ministros que votaram por manter o ex-presidente na cadeia. Ele é peça fundamental na tentativa de reabilitação moral da esquerda depois da Lava Jato. Ao mesmo tempo em que defende a ética e ajuda a punir criminosos, também faz avançar a agenda cultural por meio de decisões judiciais.
Foi Barroso quem inventou a possibilidade de aborto até o terceiro mês de gravidez, mesmo isso não constando no Código Penal. Foi Barroso quem inventou o rito para o processo de impeachment de Dilma, ignorando o que havia na Constituição e na Lei 1079/50. E essas são apenas duas das inúmeras vezes em que ele ultrapassou suas atribuições, atuando como um legislador.
Ainda que controle os tais “movimentos sociais”, é fato que a esquerda não controla a sociedade, cujos posicionamentos são costumeiramente conservadores. É por isso que, no Congresso Nacional, não há votos e nem disposição para se mudar a legislação do aborto ou rever a política de combate às drogas (outro tema em que Barroso atua como militante). Desta maneira, o ativismo judicial surge como alternativa mais efetiva. Não é mais preciso mudar a lei, basta reinterpretá-la à luz das convicções ideológicas de turno. Eis a razão pela qual Barroso foi indicado ao STF.
Cegados pela sanha punitiva, certos liberais e conservadores não compreendem que executam o papel de idiotas úteis. Ao apoiar Barroso e elogiar muitas de suas declarações públicas, dão anuência ao modus operandi que o campo adversário utiliza para fraudar a democracia e sobrepor a vontade popular.
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