Há longa literatura que comprova o amor fraterno da sociedade brasileira pelo Estado. Um dos melhores livros a estudar essa relação emotiva é recente. Trata-se de “Pare de acreditar no governo: Por que os brasileiros não confiam nos políticos e amam o Estado”, do cientista político Bruno Garschagen. A obra estuda como o estatismo se entronizou na identidade de nossa população, fazendo dele uma das preferências nacionais.
O que se viu na greve dos caminhoneiros não foi nada mais do que um sintoma desse caldo cultural intervencionista. Em resumo, os manifestantes queriam privilégios e subsídios. O governo, que não soube lidar com a situação, aceitou tudo. Congelou por 60 dias a redução do preço do diesel na bomba em R$ 0,46 por litro, eliminou a cobrança de pedágio dos eixos suspensos de caminhões em todo o país, além de estabelecer valor mínimo para o frete rodoviário.
Como não existe almoço grátis, o resto do país terá de pagar a conta. Para compensar a desoneração de R$ 9,6 bilhões sobre o diesel, foi anunciada a elevação da tributação sobre exportadores e reduções de investimento em programas de áreas fundamentais como saúde, educação e segurança. Só a concessão de bolsas de ensino superior perdeu R$ 55,1 milhões em receita.
Para além da esfera financeira, que impacta diretamente na recuperação do país, sobraram também os efeitos políticos. A greve acabou por reabilitar o discurso esquerdizante de controle. A política de preços de combustível praticada no governo petista, e que ajudou a Petrobras a perder R$ 162 bilhões em valor de mercado apenas durante o governo Dilma, parece ter se tornado boa novamente.
Em momento algum se falou de redução de gastos públicos, privatização ou abertura econômica. Muito pelo contrário, a demonização do mercado foi reforçada. O discurso agora é que a Petrobras deve servir ao povo, não aos acionistas e especuladores. A receita que levou as contas da empresa para o buraco passou a ser apresentada como solução mágica.
Muitos interpretaram a greve dos caminhoneiros como um momento de ruptura, no qual a sociedade finalmente se emanciparia das esferas de poder. O que vimos foi o recrudescimento dos piores vícios nacionais. Uma casta sindical saiu fortalecida, um método de ação terrorista foi consagrado e a pretensa solução se deu pela ingerência política em uma empresa pública. O saldo da paralisação é uma verdadeira ode ao regressismo.
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