A última vez que Geraldo Alckmin foi visto em uma campanha nacional, trajava um macacão com emblemas de estatais. Era o ano de 2006 e ele disputava a presidência com Lula. Envolvido na estratégia petista de demonizar as privatizações, o tucano pagou pedágio ideológico para o adversário. Se deixou pautar na eleição cujo principal tema era o Mensalão. O resultado foi uma derrota acachapante. Alckmin conseguiu a façanha de fazer menos votos no segundo turno do que havia obtido no primeiro.
Doze anos se passaram desde o maior vexame eleitoral da história da democracia brasileira. A morte política prematura de de Aécio Neves possibilitou a volta de Alckmin como pré-candidato a Presidente. Agora, entretanto, o cenário é bastante diferente. Naquela época, por falta de alternativas, o PSDB ocupava confortavelmente a totalidade do campo oposicionista ao PT. Mesmo sem discurso, o partido se beneficiava com o voto útil de uma parcela da sociedade que não gostava de Lula mas que estava órfã de representação. Sem esforço, e sem compartilhar a visão ideológica de seus eleitores, os tucanos disputavam o poder simulando polarizar com o PT.
O pleito de 2018 tem outros atores em cena. Na oposição ao petismo, veio Jair Bolsonaro, que ganhou simpatizantes vocalizando a frustração da população com a violência e a ojeriza generalizada pela classe política tradicional. Esse eleitorado, que quer lei e ordem, viu no ex-capitão do Exército o nome que personalizaria esses sentimentos, saindo do padrão de comportamento polido e politicamente correto que se tornou marca registrada de todos os demais candidatos.
O PSDB, que tem sua origem na mesma matriz política do PT, viu o bonde da história sumir no horizonte. Ao longo dos mandatos de Lula e Dilma, poderia ter se reformado, deixando a centro-esquerda de lado para vocalizar os valores da parcela mais conservadora da população. Por sua natureza, e acreditando que era seu destino revezar no poder com seu irmão ideológico, virou um partido sem personalidade, perdendo apoio assim que um nome forte o suficiente surgisse.
Não é a toa que hoje, patinando em todas as pesquisas eleitorais, Geraldo Alckmin tente atacar Jair Bolsonaro. O ex-governador de São Paulo quer debater segurança com o pré-candidato do PSL. Ainda que tenha bons números de sua administração para mostrar, o tucano dificilmente passará a ser o guardião dessa pauta na eleição. Em tópicos gerais, é Bolsonaro o nome visto pelo povão como defensor da redução da maioridade penal, favorável ao aumento de penas para criminosos e crítico do desarmamento.
Se o PSDB tivesse atacado o PT ao longo do tempo, talvez fosse Alckmin hoje o nome preferido do segmento social não esquerdista. Bolsonaro, afinal de contas, cresceu também no vácuo deixado pelos pretensos opositores do lulismo. É o desespero de quem não nunca conquistou os tão sonhados votos da esquerda e perdeu os votos da direita que sempre esnobou.
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