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Bolsonaro no Roda Viva: o jornalismo de wikipedia preso mentalmente em 1964

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Os jornalistas que entrevistaram Jair Bolsonaro no Roda Viva estão presos mentalmente em 1964. Todo o primeiro bloco do programa foi dedicado a examinar um assunto que hoje é irrelevante para quase todos: o Período Militar. Boa parte dos questionamentos feitos envolveram a morte de Vladimir Herzog e a abertura dos supostos arquivos secretos do Período. Nada sobre desemprego, reformas econômicas, dívida pública ou política externa. O que faz a diferença na vida do cidadão foi escanteado em nome de uma pauta ideologizada.

Segundo dados do Censo de 2010, a média de idade no Brasil é de 32 anos. Trata-se de uma população constituída, em boa medida, de pessoas que nasceram depois da redemocratização. Para todos esses, os eventos de 1964 não são mais do que matéria escolar da aula de história. Não há qualquer tipo de “cicatriz” que deva ser fechada ou reaberta. O brasileiro de hoje não sabe quem foi Brilhante Ustra e só considera tortura o perigo de voltar para casa à noite por ruas escuras, cada vez mais dominadas pela violência. Se há algo que assusta não são os sargentões que atuavam nos porões do DOI-CODI, mas os assaltantes e traficantes que já dominam parcelas consideráveis dos centros urbanos.

A bancada do Roda Viva calibrou suas perguntas para agradar um nicho infinitesimal de pessoas que foram perseguidas ou tiveram problemas durante a Ditadura Militar: artistas, intelectuais e alguns jornalistas. A majoritária parcela da população, que gostaria de ouvir o candidato sobre temas relevantes, acabou ignorada. Mesmo quando se mencionava o combate ao crime, logo a conversa se voltava para referências aos coturnos e às fardas de outrora.

Se havia a expectativa de que Bolsonaro se revelaria despreparado, acabou frustrada. A mediocridade dos jornalistas presentes obnubilou qualquer eventual derrapada cometida pelo candidato no curso da entrevista. Bernardo Mello Franco, caudatário de um corolário francamente esquerdista, chegou a comparar Jesus Cristo com um refugiado. Daniela Lima disse que a Lei do Voto Impresso permitiria o eleitor levar um comprovante para casa. Thaís Oyama, que é autora de um livro sobre como entrevistar bem, questionou Bolsonaro sobre o tráfico com base em informações falsas. Por fim, Ricardo Lessa, nada menos que o moderador do programa, se valeu de um verbete da Wikipedia como fonte de informação.

Bolsonaro sabe muito bem que suas declarações sobre o Regime Militar e suas frases de efeito contra os criminosos não lhe tiram votos. Muito pelo contrário, reforçam a disposição da militância que o apoia. Nem bem tinha acabado a entrevista, trechos do Roda Viva com “mitadas” dos candidato já eram espalhados pelas rede sociais. Ele e seus eleitores fizeram a festa, que foi oferecida involuntariamente por um bando de entrevistadores ineptos.

Nesta terça-feira, o Instituto Paraná Pesquisas divulgou levantamento mostrando o candidato do PSL liderando as intenções de voto. Bolsonaro aparece com 23%. A possibilidade de ele chegar ao segundo turno não é pequena. O Brasil merece que ele seja entrevistado de forma técnica e, sobretudo, séria. Enquanto o jornalismo preferir a pauta da militância, vai escancarar apenas a sua própria miséria.

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