O general Hamilton Mourão foi escolhido como vice de Jair Bolsonaro no limite do prazo de registro da candidaturas. Até o último momento, a advogada Janaína Pachoal era a mais cotada para a vaga. Em segundo lugar, correndo por fora, vinha o cientista político Luiz Philippe de Orleans e Bragança. Ambos seriam muito mais adequados e trariam maior estabilidade para a chapa. Parlapatão e ávido por holofotes, Mourão já causou mais problemas a Bolsonaro do que Geraldo Alckmin conseguiu com seus ataques no horário eleitoral obrigatório.
Recentemente, Mourão criticou a legislação trabalhista e qualificou o 13° e o adicional de férias como “jabuticabas brasileiras”. A fala ganhou ampla repercussão na mídia e no debate político. Ainda internado no Hospital Albert Einstein, Bolsonaro se apressou em desautorizar o general. Ressaltou a impossibilidade legal de se revogar o 13° e afirmou que “criticá-lo, além de uma ofensa à quem trabalha, confessa desconhecer a Constituição”. Depois disso, em entrevista na TV Bandeirantes, o candidato do PSL confirmou que ordenou ao seu vice que ficasse calado.
No mérito, Mourão não está errado. A legislação trabalhista brasileira está cheia de jabuticabas mesmo. Consiste em um conjunto de regramentos que engessam a economia, atrapalham a produtividade e geram lucros apenas para o Estado. O mencionado 13° cria a falsa sensação de que se tem direito a mais um salário no fim do ano. É dinheiro subtraído para pagar o suposto benefício e que poderia incrementar os vencimentos dos trabalhadores ao longo dos doze meses anteriores.
O momento não era propício a esse tipo de declaração. Faltando tão pouco para o primeiro turno das eleições, tudo pode prejudicar. Trata-se de um assunto espinhoso, que mexe com o bolso do cidadão comum. Ainda que seja uma doce ilusão, o fato é que o 13°, bem como o FGTS, é aprovado pela sociedade brasileira. Flertar com sua extinção pode representar a perda de uma quantidade significativa de votos. Muito mais do que matérias jornalísticas sobre disputas judiciais entre casais em processo de divórcio.
A ausência de Bolsonaro, vitimado por uma tentativa de homicídio, permitiu que Mourão desfrutasse do estrelato momentâneo. Em poucos dias, ele defendeu a promulgação de uma Constituição escrita por notáveis, afirmou que famílias sem pai e sem avô produzem desajustados e atacou a CLT. Os estragos foram se acumulando até que a coisa ficasse crítica e se fizesse necessária uma ação objetiva.
Esse episódio deixa claro que a campanha de Bolsonaro sofre com o amadorismo. Fosse de outra forma, as ideias expressadas por Mourão e por Paulo Guedes, que também foi silenciado, seriam harmônicas com as do candidato titular. O que existe, entretanto, é uma colcha de retalhos na qual cada um diz o que vem na veneta. O resultado são opiniões desencontradas que ressaltam a desorganização do grupo.
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