Candidatos dão satisfações para o eleitorado no segundo turno e escolhem apoiar Jair Bolsonaro, entre os princípios e a estratégia política
Postados no mesmo dia 10 de outubro mas com mais de 9 horas de diferença, os vídeos de apoio para o candidato Jair Bolsonaro (PSL) por parte de José Ivo Sartori (MDB) e Eduardo Leite (PSDB) – os finalistas gaúchos para a disputa ao Piratini – dão satisfações para os eleitores e militância de formas bem diferentes.
Na frente, Sartori declara no vídeo postado às 11h07 que nunca foi omisso e sempre tomou uma atitude, mesmo nos momentos de desconforto pessoal. O material tem meros 23 segundos e mostra uma sequência de cortes de um vídeo maior. Acompanhando o vídeo, o texto a seguir:
Para governar é preciso postura e posição. Por isso, decidi acompanhar a decisão do meu partido, o MDB, de indicar o voto em Jair Messias Bolsonaro no segundo turno. Em mais de 40 anos de vida pública, nunca me omiti. Sempre fiz o que precisava ser feito. Não é hora de ficar em cima do muro. #RSnoRumoCerto #Sartori15
No final da noite, às 20h34, a postagem de Eduardo Leite vem inteiramente em um vídeo longo com mais de 3 minutos e acompanhado da frase No 2˚ Turno para presidente: #PTNão e as hashtags #VamosRioGrande e #BoraFazerRS.
A nota do candidato declara um apoio a Bolsonaro com a tônica de negativa ao petismo, desfiando um rosário de alegações e posicionamentos. Segue a transcrição:
Hoje eu quero falar com vocês sobre a minha posição neste segundo turno para Presidente. Os gaúchos não aceitam quem não se posiciona. Mas também não aceitam a falsidade, a covardia de quem não defende os seus valores e o vale-tudo em troca do voto. O gaúcho tem palavra, tem honra, tem brio e tem coragem. E como gaúcho, os meus valores e os meus ideais não estão à venda e nem disponíveis para troca. Eu jamais votei no PT e não vai ser nesta eleição que eu vou fazer isso. O Presidente da República que busca conselho na cadeia, o partido que patrocinou o maior escândalo de corrupção do país e que ataca a Lava Jato e o modelo econômico que gerou 13 milhões de desempregados. Eles não merecem voltar ao poder. Por isso eu digo com todas as letras: o PT, não. Por isso, neste segundo turno, para evitar a volta do PT, eu vou dar o meu voto ao candidato Bolsonaro. É um gesto democrático acompanhando inclusive a decisão coletiva dos partidos da minha coligação. Mas o fato de não querer a volta do PT não significa a minha adesão incondicional ao que não traduz a minha visão de mundo , na política e na vida. Os gaúchos, na sua maioria, votaram no Bolsonaro no primeiro turno, e eu respeito isso. Por isso, sei que apoiá-lo seria um gesto natural de quem deseja vencer esta eleição. Mas eu não quero vender a eleição e perder a alma. Eu tenho sim uma posição firme: a de não arredar pé dos meus princípios e dos meus valores. Eu defendo uma política feita com amor, e não com ódio. Um país mais igual, com respeito às diferenças e a crença na cooperação como caminho para superarmos os desafios de hoje e do futuro. Da mesma forma que eu não vi nenhuma autocrítica do PT sobre a corrupção, eu tampouco vi a autocrítica do Bolsonaro sobre frases e pensamentos que não respeitam a democracia e a existência pacífica e natural de outros seres humanos. Eu gostaria de ter visto isso e já me deixaria mais confortável. Mas eu não vi. Da mesma forma que eu sei que existem gaúchos que votam no Haddad e são contra a corrupção, eu sei que existem gaúchos que votam no Bolsonaro e que também não estão 100% confortáveis com as suas posições. E eu sou um deles. E sei também que existem gaúchos que não aguentam mais esta guerra, este clima de ódio e radicalismo que tomou conta do país, nas redes sociais, nas conversas com os amigos ou em família. A estes gaúchos eu gostaria de pedir uma reflexão: eu quero ser o governador de todos, com todos e para todos os gaúchos. Eu não quero e não vou alimentar este clima de guerra que se tornou a política do nosso país. Eu não faço política com outro sentido que não seja o de missão, para transformar a vida das pessoas pra melhor. Acredito numa forma diferente de fazer política, com a união das pessoas, semeando esperança e não raiva. Se é para fazer política do contra, que seja contra a miséria, que seja contra o autoritarismo, contra a ditadura, contra a corrupção, contra os privilégios, contra as negociatas, contra o poder pelo poder. Contra aqueles que fazem qualquer coisa pelo voto. Eu acredito que é possível sim ter firmeza sem desrespeitar ninguém, ter lado sem querer destruir quem não pensa como eu. Como eleitor, o meu voto no plano nacional vai ser o mesmo de quem não quer o PT. Como líder de um projeto que busca governar o Rio Grande, aqui no Estado eu quero discutir propostas, visão de futuro e um jeito diferente de fazer campanha e de governar. Por que o Brasil é importante, mas o Rio Grande também é. E o que vai mudar a sua vida é a forma como nós vamos governar o estado onde nós moramos nos próximos 4 anos. Eu acredito na nossa capacidade de união pra vencer desafios. Eu acredito na nossa vontade de construir mudanças e de superar diferenças. Eu acredito em nós.
A declaração de Eduardo Leite tem potencial para entrar para a história do marketing político como o apoio mais negativo já realizado, com uma espécie de “vou votar mas não gosto deste homem e o que ele representa”, com destaque também para a isenção forçada ao usar figuras de linguagem que inserem no discurso todas as palavras-gatilho que significam, soltas ao vento, oposição ao candidato apoiado. Encerra com paz e amor e um toque de serenidade contra o ódio, dignos de um bom candidato do PSOL.
Do ponto de vista da audiência nas redes sociais, o post de Sartori é um fiasco frente ao conteúdo de Eduardo Leite: são 5700 curtidas, 620 comentários, 1094 compartilhamentos e 91 mil visualizações para o primeiro contra 21 mil curtidas, 5400 comentários, 18600 compartilhamentos e 757 mil visualizações para o segundo, entre o dia 10 e elaboração deste artigo. Ambos investem oficialmente dinheiro no Facebook para o impulsionamento das postagens (não é possível determinar quanto cada post recebeu).
Finalmente, o título deste texto não faz justiça aos fatos. Enquanto Sartori apoia mostrando sinais de convicção (espalhando os motivos também por outros conteúdos nas redes), Leite diz que não quer o PT e seu voto é cheio de receios, comparando até mesmo os escândalos bilionários de corrupção do partido com frases e derrapadas de Bolsonaro ao dizer que não viu autocrítica de ambos. Entre a convicção e o resultado das urnas, o segundo falou mais alto.