Durante os últimos dias de campanha, Fernando Haddad fez apelos incisivos para conseguir uma declaração de voto de Ciro Gomes. O ex-candidato do PDT, que ficou em terceiro lugar no 1° turno, poderia ser uma peça importante na segunda etapa da disputa, já que adquiriu enorme capital político, mesmo tendo sido derrotado. O PT contava com seu apoio entusiasmado ante a possibilidade de Jair Bolsonaro vencer a eleição. A decepção não foi pequena quando Ciro decidiu viajar para a Europa, ficando fora de toda a parte decisiva da eleição.
O movimento de Ciro se seguiu ao episódio envolvendo seu irmão. Em evento de apoio a Fernando Haddad, Cid Gomes protagonizou uma troca de farpas com parte do público presente. Chamou de “babacas” os militantes petistas que gritavam o nome de Lula, além de dizer que uma potencial derrota do PT seria merecida pela arrogância do partido. Seu vídeo viralizou nas redes sociais, para deleite dos bolsonaristas.
Fica claro o método da família Gomes, que durante muito tempo atuou em favor dos propósitos de Lula. Em entrevistas e sabatinas, Ciro já não escondia mais a incoformidade de ser instumento político alheio. Em diversas oportunidades, manifestou indignação por ter sido tratado com ingratidão. Antes de ser oficializado como nome do PDT, ainda durante o período da formação de alianças eleitorais, acabou sendo minado pela atuação do ex-presidente, que impediu sua coligação com o PCdoB e com o PSB.
No poder, Ciro não seria controlável como foi Dilma Rousseff ou seria Fernando Haddad. Nesse cenário, a esquerda brasileira teria uma nova liderança central pela primeira vez desde a redemocratização, quando Lula usurpou essa condição de Leonel Brizola. Era um cenário que o ex-presidente, mesmo preso, não poderia tolerar. Dessa forma, prefiriu desgastar o aliado, ungir um novo poste e apostar na narrativa de perseguido da Justiça.
O que Lula não parece ter calculado é que a eventual vitória de Bolsonaro lhe seria tão catastrófica que em muito ultrapassaria os efeitos negativos de não ser mais a peça central de um campo ideológico. Afinal, a eleição do candidato do PSL também serviria de condenação política do líder petista preso.
Em um eventual governo Bolsonaro, Lula ficará enfraquecido. Fernando Haddad, por sua vez, desapareceria, tendo em vista sua condição inequívoca de fantoche. É nesse vácuo que se insere Ciro Gomes, que conseguiu mais de treze milhões de votos, mesmo sendo atacado até mesmo pela esquerda. É por isso que, ao retornar da Europa, Ciro gravou um vídeo sem manifestar seu apoio explícito a ninguém. Preferiu dar uma declaração genérica e aguardar os resultados. Ciente de que Bolsonaro tem mais chances de vencer, está pronto para ser o protagonista da oposição ao novo presidente.
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