Edil quer criar um “Coral da Câmara” – com recursos de emenda autorizativa -para melhorar a representatividade da casa e valorizar os servidores. Com dinheiro público, é claro.
Chegou aquela época do ano: os vereadores de Passo Fundo votaram o Projeto de Lei Orçamentária Anual de 2019, um dos atos mais importantes da Câmara. Isso significa, grosso modo, orientar o destino de todo o dinheiro arrecadado dos pagadores de impostos durante o ano, em planejamento coordenado com o Executivo. Para 2019, o orçamento da cidade de Passo Fundo está estimado em cerca de R$ 660 milhões.
Por conta da Emenda Constitucional de 2015, os vereadores têm direito a decidir sobre o uso de uma parcela do orçamento da prefeitura. Desta vez, a cada um dos 21 vereadores coube a tarefa de decidir como e onde serão gastos R$ 340 mil. De modo análogo ao sistema de emendas parlamentares dos deputados, nestas ocasiões surgem aquelas famosas narrativas do tipo “com o dinheiro do político x, nossa entidade conseguiu comprar determinado equipamento”. Infelizmente, parte significativa da população reage como se o autor da emenda tirasse o dinheiro do próprio bolso em benefício de grupos em especial.
A maioria das emendas dos vereadores de Passo Fundo destina dinheiro para a área da saúde (Hospital Municipal e postos nos bairros), segurança e educação, via de regra destinados para as bases eleitorais de cada político. Fora da curva, é notável o empenho dos vereadores do MDB, Eloir Costa e Paulo Neckle, para fortalecer as atividades da Agenda 21 em Passo Fundo. Os dois colocam a destinação para a causa em suas emendas.
Mas o destaque fica para o vereador Mateus Wesp, do PSDB. em uma emenda autorizativa (o Prefeito não é obrigado a executar), ele propõe a criação de um Coral da Câmara de Vereadores, com o seguinte texto:
Associação a órgão de representatividade musical de âmbito estadual com a finalidade de criar um Coral da Câmara de Vereadores, a fim de incentivar a cultura e aumentar a representatividade do Legislativo perante a comunidade, valorizando os servidores efetivos e cargos de confiança do Legislativo municipal.
Nenhuma das emendas divulgadas pelo site da Câmara é acompanhada de valores específicos para cada ação e não é possível avaliar o gasto para a criação do Coral. Uma associação em entidade como a FECORS – Federação de Coros do Rio Grande do Sul – representa uma anuidade de R$ 477,00 em sua modalidade mais completa. Provavelmente, a empreitada precisaria de uniformes, instrumentos, professores, viagens, participações em eventos e tantos outros gastos compatíveis com um Coral.
Quero ver / Você não chorar / Não olhar pra trás / Nem se arrepender / do que faz / Quero ver o amor vencer / Mas se a dor nascer / Você resistir e sorrir… na apresentação do Coral da Câmara de Vereadores de Itajaí, em Santa Catarina. Inspiração?
Este ato de Mateus Wesp marca de certa forma a despedida do vereador conhecido por defender causas conservadoras na tribuna, ter apresentado destacada atuação na batalha contra a ideologia de gênero no Plano Municipal de Educação e participado de diversos eventos populares de rua contra a esquerda, como todas caminhadas pelo Impeachment de Dilma Rousseff ou a memorável movimentação que impediu a entrada de Lula na cidade. Convertida em projetos de lei, a passagem de Wesp pela vereança em Passo Fundo deixou leis assistencialistas (aluguel social) e de reserva de mercado (selo da cerveja), entre outros.
Em 2019, o Vereador Mateus Wesp passará a ser o deputado estadual de Passo Fundo. Eleito com mais de 28 mil votos (20 mil só em nossa cidade), contará com a graça e a maldição de ser do partido do governador Eduardo Leite. Projetos agora só na Assembleia Legislativa – que por sorte já tem coral.