Em texto publicado na Lócus em março de 2018, questionamos quem cederia aos encantos da esquerda para vencer as eleições. O tempo respondeu que ela foi a real vencedora. E agora?
Na época, eram quase certas as candidaturas de Luiz Carlos Heinze (PP) e Mateus Bandeira (Novo) como as opções de direita na disputa. O segundo foi alçado ao Senado depois de uma reviravolta dentro do Progressistas, deixando o novato do Partido Novo sozinho na defesa do estado mínimo, mas sem encantar o eleitorado digamos, não especializado.
Eduardo Leite era apenas um talvez na época deste texto, lembrado por sua associação e admiração pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Em um dos parágrafos, avisamos:
A tentativa de vitória “a qualquer custo” pode levar candidatos de direita a parcerias estranhas, geralmente apresentadas aos eleitores como um conjunto de esforços para um “estado melhor”, uma composição e sinal de maturidade com decisões acima desse negócio de “esquerda ou direita”. Alguns filiados – os primeiros a descobrirem os novos amigos em tempos de eleição – torcem o nariz. O eleitorado, por sua vez, vota com o pé atrás.
O texto encerra com:
Por último, o eleitor: a peça mais importante das eleições já não é mais a mesma. Anos de informação abundante em canais alternativos e a força da internet criaram um aglomerado de think tanks à brasileira, estrelas da política de hangout e líderes com muito carisma, despontando muitas vezes em suas áreas de atuação profissional (professores, jornalistas, policiais) cativando segmentos e fixando definições. Entre elas, a de que não basta bater em PT para ser de direita e que o roubo ou a corrupção não são os únicos males em um político.
Moral da história: cuidado com o abraço do afogado.
O abraço do afogado: o que era um perigo, virou o projeto vencedor.
Veio a eleição e a vitória quase esmagadora do projeto do “talvez” Eduardo Leite, um ambidestro ideológico confesso que embarcou até mesmo na onda Bolsonarista por conta de um “não-petismo” de ocasião. Poucos dias depois do resultado, os gaúchos conheceram os primeiros integrantes do time de secretários que irão acompanhar o governador nos próximos quatro anos. Entre eles, defensores da Queermuseu, ex-comunistas e vários socialistas. São escolhas pessoais do novo governador, por afinidade ou obrigação para a recompensa de eventuais apoios eleitorais. Existe ainda o problema do inchaço da máquina pública, com a previsão de 20 secretarias e a rápida movimentação prévia para garantir que o ICMS continue alto.
Quem pediu votos para Eduardo Leite pela direita, precisará dar satisfações sobre a sua saída pela esquerda. Candidatos e cabos eleitorais do universo tucano não pouparam elogios e defesas apaixonadas durante a campanha eleitoral. Protestar publicamente sobre as escolhas de nomes carimbados para secretarias e escalões secundários no novo governo é o mínimo que se espera de gente importante da política local, sob pena de ter a reputação manchada e planos para o futuro inviabilizados, se é que já não estão em risco, para o bem da boa política.