Ministra citou negativamente a modelo em entrevista de rádio e depois fez convite para a mesma ser “embaixadora” do Brasil lá fora. Como retorno, recebeu uma carta pedagógica.
A Ministra da Agricultura, Tereza Cristina, classificou Gisele Bündchen como exemplo negativo em uma entrevista na rádio Jovem Pan, no último dia 14 de janeiro. Após uma questão levantada por um dos participantes do programa – o especialista em agronegócio José Luiz Tejon – acerca das opiniões da modelo sobre desmatamento no país, a ministra devolveu que Gisele era parte de um grupo de maus brasileiros e deveria falar bem do país.
O ataque gerou uma nota no Twitter oficial da modelo (em português) e, posteriormente, uma longa carta oficial para a ministra, com detalhes sobre a atuação ambiental da “plataforma” Gisele Bündchen.
Já a carta, publicada na íntegra pelo jornal Folha de São Paulo, traz o seguinte conteúdo:
“Excelentíssima Senhora Ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Tereza Cristina
Escrevo respeitosamente à senhora para me manifestar em relação a alguns comentários que foram feitos e que dizem respeito à minha pessoa em sua entrevista no dia 14 de janeiro ao veículo Jovem Pan. Causaram-me surpresa as referências negativas ao meu nome, pois tenho orgulho de ser brasileira e sempre representei meu país da melhor forma que pude.
Primeiramente, gostaria de dividir com a senhora um pouquinho da minha trajetória. Sou uma apaixonada pela natureza e tenho uma conexão muito forte com a terra. Nasci no interior do Brasil, onde a agricultura sempre foi fundamental para a economia e desenvolvimento de todos os municípios do entorno. Meus avós também praticavam agricultura familiar.
Valorizo e prezo muito o papel tão importante que a agricultura e os agricultores têm para o nosso país e nosso povo, mas ao mesmo tempo acredito que a produção agropecuária e a conservação ambiental precisam andar juntas, para que nosso desenvolvimento possa ser sustentável e longevo.
Desde 2006 venho apoiando projetos e me envolvendo com causas socioambientais no Brasil (através da doação de parte da renda da venda de produtos licenciados com meu nome a diversos projetos relacionados à água e florestas até o apoio e realização de projeto de reflorestamento de mata ciliar na minha cidade natal). Já visitei a Amazônia algumas vezes e conheci de perto a realidade da região norte de nosso país. Em decorrência do meu trabalho relacionado ao meio ambiente fui convidada para ser Embaixadora da Boa Vontade da ONU para o Meio Ambiente e também pelo presidente da França para participar do lançamento do Pacto Global para o Meio Ambiente na Assembleia Geral da ONU nos Estados Unidos, além de ter participado de inúmeros encontros com presidentes de empresas, universidades, cientistas, pesquisadores, agricultores e organizações do meio ambiente, onde pude trocar informações e aprender cada vez mais sobre como cuidar do nosso planeta.
Tendo ciência, através de diferentes fontes de informação, do alto grau de comprometimento e irreversibilidade que algumas ações governamentais poderiam trazer ao meio ambiente, como cidadã brasileira preocupada com os rumos da minha nação resolvi, em algumas oportunidades que entendi críticas e merecedoras de atenção, me manifestar.
A Senhora mencionou a grande quantidade de áreas protegidas no Brasil. Lamento, no entanto, ver notícias, como a do final do ano de 2018, com dados do Governo Federal divulgados amplamente na imprensa, que o desmatamento na Amazônia havia crescido mais de 13%, o que representava a pior marca em 10 anos. Um patrimônio inestimável ameaçado pelo desmatamento ilegal e a grilagem de terras públicas. Estes sim são os “maus brasileiros”.
Precisamos usar a tecnologia e todo conhecimento científico a favor da agricultura e da produtividade para que evitemos que novos desmatamentos possam ultrapassar o ponto de não retorno em que a degradação em curso do clima ameno se tornará irreversível.
Vejo a preservação da natureza não somente como um dever ambiental legal, mas também como uma forma de assegurar água, biodiversidade e condições climáticas essenciais para a produção agrícola.
Cara Ministra Teresa Cristina, seu papel como ministra da Agricultura – em um país onde clima, agricultura e floresta têm papel chave para nossa economia – é fundamental. Sei do desafio que tem pela frente e torço para que em seu mandato possam ser celebradas ações concretas que resultem em um Brasil mais sustentável, justo e próspero.
Ficarei muito feliz em poder divulgar ações positivas que forem tomadas neste sentido.
Com respeito,
Gisele Bündchen”
A troca de mensagens termina com a resposta da ministra, via Twitter:
O que nem deveria ter começado, é melhor para todos que acabe por aí. É preciso entender que Gisele Bündchen não é simplesmente uma modelo famosa (talvez a mais famosa de todas) que nasceu no Brasil e volta e meia larga pitacos sobre questões ambientais. Gisele é uma modelo que usa sua plataforma para trabalhar como ativista ambiental e coloca seu nome, recursos e influência à disposição de vários grupos, ONGs, outras personalidades em sinergia e até a própria ONU. Gisele, portanto, já é uma embaixadora do ambientalismo radical.
Em seu currículo recente, estão apoios para o Amazônia 342, grupo que fez campanha aberta contra o então candidato Jair Bolsonaro, com pesadas declarações. É do grupo a postagem abaixo, no site oficial:
A eleição presidencial no Brasil pode ser decisiva para o futuro de toda a humanidade. Jair Bolsonaro, o candidato à frente nas pesquisas, não representa apenas a extrema direita na América do Sul. Ele representa a extrema destruição. Seu plano de governo é um ataque à maior floresta tropical do mundo: a Amazônia. E um golpe fatal para a esperança climática do planeta. PRECISAMOS DE VOCÊ. Agora mais que nunca. Essa é a mãe de todas as lutas. Junte-se a nós. #TodosPelaAmazonia #Resista
Gisele Bündchen faz parte de um ciclo de ativistas nascidos ou não nos setores que defendem e usam da fama para potencializar causas. Na questão ambiental, sucede os já consagrados Chico Mendes e a dupla Sting e Raoni, sempre denunciando malfeitos pontuais com ares de terra arrasada. Como “embaixadora” do Brasil no exterior, certamente colocaria condições compatíveis com a sua própria agenda para tal cargo virtual, renunciando com grande alarde (e prejuízo) ao menor sinal de – para usar a palavra batida da esquerda – retrocesso.
Gisele é uma cosmopolita nascida no Brasil que, além de possuir uma fortuna considerável, é uma pessoa influente. Como tal, o uso da sua liberdade para dizer o que quiser, suas verdades e mentiras, acertos e enganos, sem pagar pedágio para o governo brasileiro simplesmente por ser o que é, torna-se o melhor caminho para bem representar o país lá fora. Para os acertos, nosso obrigado. Para os erros e mentiras, desmentidos. Para a injúria – quando acontecer – a justiça.