Empresa pública do município de Passo Fundo lança concurso para contratar até mesmo fiscais de estacionamento, operando de forma mais cara onde nem deveria estar atuando diretamente
Imagine uma empresa pública criada em parte para, declaradamente, competir com empresas privadas no município na área do transporte de passageiros e, de quebra, coletar lixo das ruas e ainda fiscalizar estacionamento. Esta é a CODEPAS, estatal que já foi assunto aqui na Lócus no texto CODEPAS, a experiência estatal em transporte público na cidade de Passo Fundo. Agora, a estrutura mantida com o dinheiro dos impostos pagos pelos passo-fundenses está prestes a inchar: um novo concurso foi anunciado para contratar, via CLT, novos funcionários.
As vagas são para: Auxiliar de Escritório, Auxiliar de Serviços Gerais, Auxiliar de Mecânica, Auxiliar de Limpeza, Borracheiro, Caixa, Coletor de Lixo Domiciliar, Cobrador, Chapeador, Frentista, Fiscal, Monitor de Estacionamento Rotativo, Mecânico Especializado em Mecânica Pesada, Motorista de Caminhão de Coleta de Lixo, Motorista, Recepcionista, Supervisor de Estacionamento Rotativo e Técnico em Segurança do Trabalho.
Boa parte dos cargos é para cadastro reserva, mas 5 monitores de estacionamento (salário de R$ 1.117,56 + R$ 530,00 de vale-alimentação) serão certamente contratados de imediato. Segundo o edital, são atribuições do cargo Monitor de Estacionamento Rotativo:
Fiscalizar e controlar os veículos estacionados na área azul. Realizar a fiscalização e o controle de tempo, por meio de planilhas, dos carros estacionados nas vias públicas com meio fio pintadas em azul, bem como auxiliar os usuários dos parquímetros a manusear o equipamento. Preencher e aplicar tarifa de regularização.
Já o cargo de Supervisor de Estacionamento Rotativo deve realizar:
Supervisão e controle dos monitores e verificação do funcionamento dos parquímetros. Supervisionar o trabalho dos monitores de estacionamento. Manter contato via rádio com a Guarda Municipal de trânsito, informando as situações irregulares e solicitando agentes para a aplicação da multa, se for o caso. Na falta dos monitores ou havendo necessidade, deverá fiscalizar e controlar os veículos estacionados na área azul, bem como auxiliar os usuários dos parquímetros a manusear o equipamento. Preencher e aplicar a tarifa de regularização.
Quase R$ 15 mil em custos mensais – ou 20 mil veículos pagando meia hora de estacionamento só para cobrir o custo do monitoramento.
O reforço no time de cobradores também denota a falta da bilhetagem eletrônica, historicamente travada por burocracias e questões judiciais, na esperança em uma futura licitação do transporte público na Cidade (que terá uma indecente reserva de mercado para a própria CODEPAS).
Aquele velho fenômeno da discurso sobre a situação nacional versus firmeza de propósitos dentro do próprio município é evidente no caso da CODEPAS. É mais fácil ouvir de um político local com intenções de lucro na onda da nova direita a repetição de bordões do tipo “privatiza tudo” e “vendam os Correios” do que declarações firmes e fortes sobre a atuação da estatal, sua redução de atribuições e até mesmo a completa extinção, com o argumento matador sobre a intromissão da prefeitura em assuntos da iniciativa privada. Na equação, a perda imediata de votos em segmentos do funcionalismo público e seus familiares e até mesmo protestos daqueles que defendem categorias sustentadas por impostos apenas por sinalização de virtude.
Não seja enganado por políticos que andam mamando na onda da direita liberal na economia e conservadora nos costumes que dão uma banana para os eleitores conquistados, logo depois da vitória na urna.
Portanto, fica o aviso: a máquina pública está inchando ao vivo e à cores, bem na nossa cara. Que a abertura deste edital seja uma porta de entrada para a discussão pública sobre as vantagens e desvantagens de todos nós estarmos no negócio de ônibus, lixo e parquímetros, sem chance de saída.