Grupos de extrema-esquerda realizaram manifestações na terça, 13 de agosto, seguindo calendário nacional com o tema “cortes na educação”
Convocados por centrais sindicais e movimentos estudantis, grupos de extrema-esquerda de todo o país realizaram atos focados na defesa da “educação”. Na prática, um apanhado de pautas para combater os governos federal e estadual.
Em Passo Fundo, não foi diferente: manifestantes conhecidos da cidade caminharam durante a manhã até a porta da Coordenadoria Regional da Educação (CRE) e, posteriormente, finalizaram os atos na Praça do Teixeirinha. Durante a passagem pela CRE, o trânsito foi interrompido na rua Saldanha Marinho, causando transtorno.
Na CRE, os grupos tinham o suporte de um carro de som e abriram o microfone para diversos líderes, como o presidente do sindicato dos comerciários, Tarciel (aquele da briga com a Havan) e a turma do CPERS e outras letrinhas. O que se ouviu foi um show de “mais do mesmo” e xingamentos contra os governos Bolsonaro e Eduardo Leite (chamado de “leiteiro”).
Logo de início, as novas formas de gestão no governo Estadual foram atacadas: “quem quer fazer política empresarial, que vá trabalhar na iniciativa privada (…) este leiteiro e este Bolsonaro são canalhas da pior instância”, gritava ao microfone um dos participantes, não identificado.
A professora Cândida Rossetto, secretária geral do CPERS Sindicato, colaborou com “… nós gostaríamos inicialmente de lembrar que nós estamos com a peleia árdua. Quando denunciávamos o golpe com o impeachment da presidenta Dilma, nós dizíamos que iríamos chegar nestas crises que temos hoje: retirada de direitos. E também gostaríamos de lembrar que toda a luta que fizemos contra a reforma da previdência, não foi em vão. É uma luta… passou em primeiro turno… passou em segundo turno… e o governo já anuncia sim uma medida provisória para capitalização que atinge a todos. Os que estão aposentados, os que estão na ativa e os que ainda vão entrar no mercado de trabalho. Mas nós entendemos que não é em vão. O governo está fazendo o trabalho de destruição do estado. Tá fazendo o trabalho de vendilhão da pátria. Eles se enrolam na bandeira do Brasil, cantam o hino nacional e batem continência para a bandeira dos Estados Unidos. Entregam as nossas riquezas. E a nossa luta tem sido da denúncia, da politização. porque a sociedade está sim, discutindo qual é o papel do Estado. E qual é a nossa tarefa frente a esse governo fascista? Aqui no Rio Grande do Sul, colegas… e companheiros de luta… dos institutos federais, os estudantes que estão aqui, professores e funcionários da ativa e que estão aposentados, aqui não é diferente. O governo Eduardo Leite é um governo desumano, é um governo alinhado a políticas do governo central Bolsonaro. É a mesma política executada lá e aqui. Nós sentimos na pele a fome batendo nas nossas mesas, enquanto trabalhadores e trabalhadoras da educação. Amargamos quase 44 meses de atrasos nos salários, congelamento. E o governo age nos atacando, não só pelo bolso. Nos ataca nas mentes, nos ataca amedrontando, amedrontando a perda do emprego, amedrontando pelo fechamento das escolas, pela interdição, por vários meios, para que a gente se acue. A nossa resposta a este governo será outra. Hoje, no estado do Rio Grande do Sul, o CPERS Sindicato chamou e a categoria parou sim hoje. Nós temos informes de vários núcleos de que a categoria está parada. Pra dizer a este governo: vai ter muita luta. Nós não vamos nos encolher. Nós não vamos nos amedrontar. Aí nossa tarefa, como sindicato: recuperar, reunir as forças que temos, a vanguarda e a juventude. Eu acredito na rapaziada, sim. Vamos à luta, e fora governo Bolsonaro, fora Eduardo Leite, governo privatista e desumano.”
O estoque de bandeiras: “Ninguém Solta a Mão de Ninguém”, CPERS e outras siglas.
Tarciel da Silva, pelo Sindicato dos Comerciários de Passo Fundo, tomou o microfone e disparou:
“Nós precisamos lembrar algumas coisas que este governo anda fazendo nos últimos meses (…) um projeto que está sendo feito neste país a algum tempo. Primeiro passou a Reforma Trabalhista. Agora, a Reforma da Previdência. E hoje, a medida provisória que eu disse que tira todos os direitos dos trabalhadores. Volta a escravidão. Isso não é uma coisa tão simples, por que isso? Por que que ele vai tirar dinheiro da educação? Para os nossos alunos, pra educação do país não ter pessoas qualificadas pra ganhar bons salários. Pra vender para os Estados Unidos mão de obra barata. E não é à toa que ele botou uma pessoa muito estudiosa, muito competente, pra ser o embaixador dos Estados Unidos. E nesse país aí vem o Guido me discutir que aqui foi indicado um professor que é incompetente, ora… mais incompetente que o cara que vai ser embaixador do Brasil nos Estados Unidos, não vá pensar que o resto é tranquilo. E também neste país a educação não serve pra nada. A educação não serve por que ela não pode fazer estudantes universitários fazerem pesquisa, pra este país deixar de vender tudo que… toda essa tecnologia pra fora. Os maiores caras pesquisadores do mundo alguns são brasileiros. Mas estão tudo nos Estados Unidos, pela Alemanha e pela Europa. Por que não tem que pagar educação aqui pra este país. Este país vai ser um país de mão de obra escrava. Nós vamos voltar a ser colônia, como produzir o açúcar, como produzir o café, como produzir leite, o gado, é isso que eles querem. Por que isso que a educação é: a educação é uma libertação de uma nação. E o que eles estão fazendo é voltar a escravidão, sim, para o nosso povo. A diferença… não tamo dizendo que isso não vai acontecer. Mas pra acontecer nós vamos lutar muito. Vai sair muito caro para este governo. Vai ter muita luta na rua, sim. Os estudantes têm que entender que não é só a educação que tem que defender. Tem que entender que o próximo (…) no mercado de trabalho vai ser escravizado. Então, esta luta tem que ser maior e nós acreditamos, sim, quanto mais nos batem e mais nos atacam, mais nos tamos aí. E a ideia é o seguinte: não vamos dar trégua. E aí, temos vários pensamentos que dizem: aquele que nos atacam e nos atinge, não pode ter um minuto de sossego. Temos que incomodar dia após dia pra dizer pra eles que nós não vamos ficar abaixados para nenhum ataque do governo.”
Por fim, um jovem de cabelos azuis que se identificou como “Maria, representante do Diretório Central dos Estudantes da UPF”, declarou que estava na rua para denunciar o Future-se (programa do governo federal para colocar dinheiro privado na educação pública) como um um causador de vários retrocessos na educação e perda de autonomia das instituições federais. Maria – aluna da UPF – antes de largar o microfone, complementou que a educação não é mercadoria, que o governo Bolsonaro é ruim e que vai se unir com professores e outras categorias para barrar os cortes na educação e a Reforma da Previdência.
O protesto encerrou na CRE com outros líderes falando coisas muito parecidas e um senhor com uma lata de refrigerante na mão, explanando sobre a morte das abelhas. As velhas chorumelas da esquerda repetidas pelos representantes locais, com leve tempero gaúcho e passo-fundense. Declarações apaixonadas para conquistar novos corações e mentes que, a julgar pela quantidade de pessoas que acompanhavam a manifestação, o público que ainda aceita essas narrativas está cada vez mais escasso, ou talvez seja o frio siberiano daquela manhã em nossa cidade, afugentando a classe estudantil e operária, avessa ao clima que muito embalou a desgraça dos grandes personagens desta esquerda que ainda teima em fazer barulho.