Entre em contato

Cultura

Opiniões para quê?

Publicado

on

Você lembra a última vez em que deixou de dar a sua opinião por perceber que desconhecia o assunto tratado?

Por ocasião do lançamento do filme Os Donos da Verdade, do canal Brasil Paralelo (que, até o momento em que escrevo, tem mais de 1,35 milhão de inscritos e 535 mil visualizações do filme), vale a reflexão que segue.

Faça a experiência de listar 5 assuntos polêmicos da atualidade, que envolvam uma tomada de posição, e pergunte a 10 pessoas o que elas pensam a respeito. Possivelmente, o número de pessoas que irá se abster de responder por sentirem-se pouco capacitadas ou entendidas no assunto será pequeno. Não é uma hipótese, trata-se de um traço cultural: a internet nos mostra claramente muitas pessoas opinando sobre assuntos sérios dos quais elas realmente não têm lá muito conhecimento, mas apenas uma impressão momentânea, baseada em sentimentos, de como ela acha que as coisas são ou deveriam ser. Muitas discussões surgem deste nível de opinião.

Isto não quer dizer que essas pessoas não tenham o direito de expressar suas opiniões. A liberdade de expressão deve ser defendida e irrestrita, absolutamente. Doa a quem doer. O filme do Brasil Paralelo mostra justamente as consequências nefastas ao limitar esse direito. Mas aqui não se trata de liberdade. Pressupondo que um dia vençamos essa batalha contra os donos da verdade, a questão se volta para a responsabilidade ou o grau de comprometimento das opiniões.

Quanto de esforço e estudo você admite para formar uma opinião? Informar-se com notícias é o suficiente para você constituir uma opinião própria? Acompanhar redes sociais? Ler livros? Ou suas impressões e convicções atuais são suficientes para formar uma opinião sobre um assunto atual?

Na Grécia Antiga, o filósofo Aristóteles sempre começava os seus estudos considerando tudo o que já havia sido dito, até aquele momento, sobre o assunto que estava tratando, para só depois avaliar e se posicionar. Essa atitude acabou se cristalizando dentro da história da filosofia como o procedimento responsável para todo indivíduo que pretenda entrar em uma discussão séria.

Mais tarde, com o florescimento das universidades medievais, uma das principais características da educação era a noção de autoridade, não no sentido de cargo, mas no sentindo de conhecimento. Nas soluções para um problema intelectual, normalmente apelava-se para 1) as Escrituras Sagradas, 2) a Aristóteles e 3) aos grandes intérpretes tradicionalmente instituídos. Ficava excluído, inicialmente, o espírito de livre exame. E isso não era nenhum prejuízo. Aquele que no debate se metia deveria saber a origem e o desenvolvimento do assunto com o qual lidava, o status quaestionis, de modo que a discussão se mantinha em um nível e grau de seriedade básico, apelando-se muito pouco as emoções juvenis baseadas no gosto disso, não gosto daquilo, considerando um patamar básico de conhecimento que todos os envolvidos deveriam conhecer. Todo estudante acabava vivenciando, por imersão, a virtude da prudência diante do conhecimento – o próprio sistema de ensino a favorecia.

 Agora considere a quantidade de opinadores e seus respectivos horizontes de consciência, tratando de questões das quais realmente desconhecem as origens e os fundamentos, partindo tão somente das suas impressões subjetivas, emocionais e momentâneas, utilizando frases de efeito e slogans como recurso de argumentação.

Aquém do poder autoritário de alguns que atentam contra a liberdade de opiniões, o desconhecimento das origens e do desenvolvimento das ideias circulantes, por parte de muitos que estão envolvidos nos debates públicos, serve como um grande termômetro do real apreço pelo conhecimento. De opinadores a youtubers de cabelo colorido e socialmente engajados, muitos acabam sendo colocados em tal evidência que se tornam pontos de referência ao debate público, sendo as suas opiniões consideradas mais relevantes do que o próprio assunto tratado. Esquecemos da história nos deslumbrando com a trama.

Trabalhos como o filme Os Donos da Verdade, nos quais se traça precisamente como chegamos até aqui em termos da liberdade de expressão, mostra justamente o modo prudente que o apreço verdadeiro pelo conhecimento deveria despertar. Fora isso, muito da gritaria atual parece um balaio de gatos histéricos.

Continue Lendo

Cultura

Prefeitura vai levar estudantes e professores da rede municipal para Europa. Custo estimado: R$ 300 mil

Publicado

on

Embora o projeto tenha sido aprovado, os vereadores criticaram o reduzido número de estudantes em relação ao custo anual. Para outros, o valor poderia ser aplicado para melhorar a infraestrutura das escolas

Regina dos Santos (PDT), na Sessão Plenária do dia 17 de agosto, usou a tribuna para criticar postagem nas redes sociais da Prefeitura em que o Poder Executivo anunciava intercâmbio cultural de alunos da rede municipal de ensino pela Europa, quando ainda não havia sido aprovado pela Câmara de Vereadores.

Para ela, isso mostra o desrespeito do Executivo com o Legislativo. Além de previamente estar determinando as regras do intercâmbio, o Executivo enviou sob regime de urgência para votação, o que costuma ser bastante criticado pelos parlamentares, pois dificulta o debate e a análise adequada do projeto:

“Fazer propaganda de projeto que sequer tramitou em todas as comissões. Eu me sinto desrespeitada pela administração municipal. Nós devemos primar pelo bom uso do dinheiro público.”

 

Na Sessão Plenária do dia 24 de agosto, as duas matérias que tratam do programa “Missão Cidade Educadora” foram aprovadas. A primeira é o Projeto de Lei nº 80/2022, que autoriza a sua inclusão no programa e ação no Anexo do Plano Plurianual (2022-2025) para destinação de verba e adequando o projeto ao PPA. Na justificativa, ressalta-se a “finalidade de ampliar o conhecimento e desenvolver nos alunos da rede pública municipal a capacidade educativa formal e informal, através do aprendizado vivencial com cidades e pessoas das mais variadas culturas”.

Já o Projeto de Lei 81/2022 cria o Programa de Intercâmbio Cultural Internacional – Missão Cidade Educadora. De forma gratuita, a alunos regularmente matriculados na rede pública municipal será ofertado intercâmbio cultural internacional, supervisionado e custeado pelo Poder Público, o qual, de acordo com a justificativa, “visa ampliar o conhecimento e desenvolver nos alunos da rede pública municipal a capacidade educativa formal e informal, através do aprendizado vivencial com cidades e pessoas das mais variadas culturas”.

A equipe será composta de cinco estudantes com um acompanhante cada, mais cinco representantes do projeto e seis professores da rede municipal de ensino. Segundo o texto da matéria, o Executivo se encarregará de selecionar os representantes do Programa a integrarem a equipe.

A discussão dos projetos pode ser conferida no vídeo da Sessão abaixo (16:25 – 32:26):

Continue Lendo

Cultura

Por que a esquerda odeia tanto a beleza?

Publicado

on

Jennifer Lopez

Foto recente da cantora americana Jennifer Lopez repercutiu em texto passivo-agressivo de colunista brasileira da Vogue. Até quando?

A cantora e atriz americana Jennifer Lopez postou uma foto nua em um ensaio para comemorar seus 53 anos de idade. Até aí, tudo bem. Ela fez o mesmo (com um pouco mais de roupa – um biquini) no ano passado. É do jogo.

As implicações do fato cruzaram as fronteiras e foram parar nas páginas digitais da edição brasileira da revista Vogue. A colunista Cláudia Lima publicou um texto que podemos chamar amadoristicamente de passivo-agressivo, tamanha a quantidade de afirmações que variam da raiva até a suposta admiração pela atriz, distantes poucas linhas umas das outras.

O escrito gerou uma curiosidade jornalística. Na primeira publicação, saiu com o título “Jennifer Lopez e o desserviço às mulheres de 50, 60, 70…”. Horas depois, foi trocado para “Jennifer Lopez: precisamos ter o corpo perfeito sempre?”, mas o endereço da postagem no site permaneceu o mesmo, passado também entregue pela transcrição em áudio (um recurso extra presente no site da Vogue) que ainda tem o conteúdo antigo. A parte retirada era assim:

Jennifer Lopez e o desserviço às mulheres de 50, 60, 70… – Ensaio de sua marca de beleza é retrocesso na luta das mulheres pela aceitação de seus corpos, de sua imagem e contra os preconceitos em relação a idade. [sic]

Depois, o primeiro parágrafo começa com “eu amo a Jennifer Lopez” e o texto desfia um rosário de olhares típicos do feminismo sobre o caso de uma mulher que ousou mostrar as curvas perfeitas. Poderia ser a sua vizinha, mas é a Jennifer Lopez. Release the Kraken do lacre! Pra já! A ordem é oprimir a atriz que ousa trabalhar para a indústria que insiste em oprimir… as mulheres!

A peça acaba (depois de definir fronteiras para a liberdade e criticar indiretamente até a ética da atriz) com “Sejamos nós, sempre! Livres!”.

Irreal.

O mesmo sentimento foi replicado em outra coluna, desta vez para o UOL, por Nina Lemos. Entre outras linhas, dispara a colunista:

“Mas essa semana JLo pisou na bola. Ela publicou uma foto nua fazendo campanha para sua marca de cosméticos (a JLo Beauty). Se fosse só isso, maravilhoso. Precisamos mesmo ver mulheres de mais de 50 mostrando seus corpos. Só que tem um detalhe: o corpo exibido por JLo nas redes sociais é completamente fora da realidade de qualquer mulher de 50 anos”.

Sim, ela meteu essa: qualquer mulher de 50 anos. Se você é mulher e tem 5o ou mais, com curvas lopezianas, você nasceu em outro planeta.

Cláudia e Nina compartilham gostos e apoios políticos muito semelhantes e bem expostos em seus perfis do Instagram, deixando confortável o título do nosso texto. Feminismo, Lula, #ForaBolsonaro, a cartela inteira está lá nas imagens.

O motivo de tanto ódio pelo belo por parte da esquerda e suas ramificações pode ser explicado por diversos autores, de Roger Scruton a Jordan Peterson. Este último teve a ousadia de dizer recentemente que a modelo na capa de uma revista esportiva não era bonita. E a turma do lacre foi ao desespero. Transportando estes pensamentos sobre beleza no geral para o efeito causado especificamente por curvas de uma atriz e cantora americana de 53 anos em um ensaio, há que se imaginar que o ódio pode ter muitas razões: da inveja ordinária sustentada por embasamento de ciência social de botequim, pela irritante proximidade da natureza e seu criador ou pelo simples uso da celeuma como ferramenta de luta de classes.

 

 

Jennifer Lopez cometendo o mesmo crime no ano passado, ao postar o corpo dos 52 anos.

 

Para o lado de cá da história, resta reafirmar aos seus que ainda caem nestes discursos que o caminho para aqueles que apresentam problemas com a beleza alheia não é xingar a sociedade e sim procurar ajuda especializada, o quanto antes.

Continue Lendo

Cultura

Das lições de Olavo de Carvalho: A importância da Literatura

Publicado

on

Por que a literatura é uma maneira de amadurecer a visão e compreensão da realidade? Em seu Curso Online de Filosofia, o professor Olavo não se cansava de lembrar que “a base da formação cultural é a extensa leitura atenta de literatura, pois esta é uma maneira de amadurecer a visão da realidade”

Os ensinamentos e as obras do professor Olavo de Carvalho, falecido em 24 janeiro desse ano, certamente ainda serão muito estudados. Seu legado deixa lições valiosas sobre a unidade do conhecimento humano e o autoconhecimento individual. Uma dessas lições que urge ser propagada diz respeito à importância de ampliar nosso imaginário, através da extensa absorção dos clássicos da literatura.

Tendo assumido a missão de restaurar o cultivo da alta cultura em nosso país (esfacelada por décadas de obscurantismo acadêmico), em seu Curso Online de Filosofia, o professor Olavo não se cansava de lembrar que “a base da formação cultural é a extensa leitura atenta de literatura, pois esta é uma maneira de amadurecer a visão da realidade”. Mas o que isso quer dizer?

É preciso entender que ler muitos livros não significa que o indivíduo incorporou o essencial à sua alma. A leitura atenta é aquela que leva o indivíduo a incorporar, no centro da sua existência, as sutilezas e as possibilidades de experiência humana, narradas exemplarmente nas obras literárias.

 

Qualquer pessoa que já tenha lido um bom romance teve a experiência de sair, por um momento, das formas convencionais de expressar a vida humana. Considere, por exemplo, sentimentos como o amor e o sofrimento. Se você ler O Albatroz, de José Geraldo Vieira, ou Moll Flanders, de Daniel Defoe, ou Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, ou Romeu e Julieta, de Shakespeare, inevitavelmente perceberá diferentes graus e maneiras de expressar aqueles sentimentos, com todas as suas contradições, nuances e sutilezas. Você irá absorver modos diferentes de atenuar experiências, de realçar detalhes, de descrever sensações e situações de formas tão sutis, complexas e profundas que, inevitavelmente, irão expandir o seu horizonte de consciência sobre a vida humana. Considere por um momento o que o hábito de ler  boa literatura pode fazer a um indivíduo ao longo dos anos.

Nós jamais conseguimos ver além do nosso horizonte de consciência. Se esse horizonte for limitado, é muito provável que, em algum momento, o indivíduo se sinta mal por não compreender a si mesmo, o que acontece ao seu redor, ou não compreender as pessoas para além do que elas lhe aparentam. Por isso, alertava o professor Olavo, buscar ampliar a nossa imaginação através da absorção da boa literatura é aumentar a nossa capacidade de perceber, expressar e comunicar a experiência humana.

Esta era uma lição insistentemente lembrada por Olavo como um dos passos básicos para a restauração da alta cultura no país. Atualmente, a julgar pelas várias iniciativas e projetos sobre literatura encabeçados por ex-alunos do professor e afins, é preciso admitir que mais passos estão sendo dados e muitas pessoas estão tendo essa experiência de absorção literária. Os cursos e grupos de estudos do canal Formação do Imaginário; as análises e mentorias literárias do Matheus Araújo; os ciclos de leitura sobre literatura brasileira do historiador Thomas Giulliano; as análises literárias de Gabriel Santana; os encontros do Clube do Livro de Paulo Briguet e Silvio Grimaldo; os cursos de leitura e escrita do crítico Rodrigo Gurgel; as análises e leituras do canal Os Naufrágos, de Curitiba; a Sociedade do Livro, do grupo Brasil Paralelo; as análises e cursos do escritor João Filho; as análises e leituras no canal da tradutora Juliana Amato. Isso é uma breve lista de exemplos de iniciativas e trabalhos sérios que levam adiante o estudo e a leitura atenta da literatura como forma de ampliação do imaginário.

Todos esses projetos e trabalhos acabam atraindo muitas pessoas a seguir um caminho que não visa apenas certificados ou diplomas, mas um caminho que desperta algo mais valoroso e permanente: o verdadeiro apreço por expandir o conhecimento e buscar a verdade, por mais desafiador que isso seja. Para quem, felizmente, pode presenciar, essa foi uma lição que o professor Olavo não ensinou apenas com palavras e aulas gravadas, mas com a força da sua própria pessoa.

Continue Lendo

Mais Acessados

Copyright © 2021. Lócus Online.