A pandemia tem mostrado que é muito mais fácil um vizinho denunciar o outro do que uma pessoa afetada pela crise ser capaz de denunciar os abusos cometidos pelo Poder Público
Desde que as autoridades públicas optaram por um regime de “liberdade vigiada”, por assim dizer, grande parte da população comprou a ideia de que a pandemia oferecia um risco real sobre as suas vidas e que o confinamento social era a medida mais prudente a ser tomada naqueles dias. A cada quinzena, as medidas eram prorrogadas, e parece que o regime imposto pelos governadores e prefeitos veio para ficar. As autoridades públicas criaram canais de denúncias que parecem funcionar, pois as conhecidas “batidas policiais” têm aumentado semanalmente. No entanto, aqueles que precisam garantir seu sustento, abrir as portas do seu negócio, sair de casa para dar suporte para sua família têm sido alvo de constantes abusos e imposições normativas pelos órgãos públicos, sem que nada façam a respeito.
Em Passo Fundo, a terra que enche a boca para relatar que fechou suas entradas para impedir que Lula fizesse campanha em 2018, nada faz para que o prefeito Luciano Azevedo e o governador Eduardo Leite parem de agir arbitrariamente. Luciano parece ter acordado quando Leite passou a impor suas restrições sobre a cidade; para um prefeito centralizador, isso é pior que um puxão de orelha da própria mãe em público.
Quando a pandemia garantiu um salvo-conduto sobre as ações do poder público, muitos grupos se manifestaram contrariamente às medidas adotadas. Jair Bolsonaro quis resguardas as liberdades individuais da população que o carrega nos ombros onde quer que vá, mas o Supremo Tribunal Federal, o órgão que mais caiu no descrédito do povo nos últimos anos, deu poderes de gestão para governadores e prefeitos. A conta dessa história deverá ser paga, portanto, por ministros do STF, governadores e prefeitos – apesar de, maldosamente, a grande mídia insistir que as 100 mil mortes atuais são culpa única e exclusiva do Presidente da República.
Voltando a Passo Fundo, a equipe da Lócus recebeu uma série de denúncias, sobretudo de empresários, relatando os problemas ocasionados pelas medidas restritivas. Uma considerável parte fechou as portas, outra parte nada quase sem fôlego contra a correnteza, mas poucos são aqueles que mantiveram seus negócios sem que, direta ou indiretamente, fossem afetados pela situação imposta. O maior problema é que, das pessoas que procuram os meios de comunicação para denunciar, não querem aparecer, não querem colocar o rosto, não querem recorrer à Justiça, não querem formalizar qualquer reclamação. Todos temem que as consequências de falar serão piores do que se permanecerem calados, apanhando sem reagir, sendo insultados sem revidar. Quantos empresários se reuniram para tentar, ao menos judicialmente, garantir a permanência dos seus negócios? Podem ser contados nos dedos.
Quando a equipe da Lócus protocolizou o pedido de impeachment contra Luciano Azevedo, não ganhou coro público entre os empresários, apenas tapinhas nas costas: “Ótimo trabalho”. Mas o prefeito possui 17 dos 21 vereadores como base política. Luciano nem precisou se defender, pois sua base de vereadores, como cães de guarda, garantiram a sua segurança política. A imprensa local silenciou o assunto, com alguma exceção.
As pessoas mais afetadas pela crise deveriam juntar forças e mudar o curso da história, que está sendo guiado por figuras públicas incapazes de lidar com a situação. Transformaram uma crise da saúde numa briga política, diariamente emitindo decretos para mostrar que mandam em alguma coisa. Vizinhos apenas denunciam vizinhos, como num regime comunista repleto de informantes, criando uma situação de insegurança social sem precedentes nos últimos anos. É preciso resgatar o controle sobre a própria vida, garantindo a própria liberdade, e denunciando as autoridades públicas que estão excedendo seus poderes no meio desta crise. Os empresários e demais cidadãos afetados devem finalmente decidir, de uma vez por todas, se têm vocação para liderar ou para obedecer.