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Cultura

Você sabia que o Brasil possui projeto de lei que criminaliza apologia ao comunismo?

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Câmara dos Deputados tem ainda outros quatro projetos no mesmo sentido

Embora seja muitas vezes tratado como uma questão histórica, outras como partidária, o comunismo é, acima de tudo, movimento, como Olavo de Carvalho não cansa de ensinar. Isso significa que, para alguém ser comunista – ou ter as características de um, não precisa estar necessariamente filiado a um partido dessa natureza. Essa confusão acaba pegando de surpresa muitos que se dizem conservadores ou direitistas, que acabam defendendo pautas dissociadas de sua verdadeira intenção, por desconhecer como funciona o comunismo enquanto movimento.

Para evitar qualquer delonga sobre questões históricas, que não é o objetivo do presente artigo, vale a referência de um dos principais livros traduzidos e publicados em solo nacional, apenas para uma breve noção do comunismo em números. “O livro negro do comunismo”, trabalho organizado pelo historiador Sthéphane Courtois, no qual um grupo de historiadores e universitários encarou o empreendimento – em cada um dos continentes e dos países envolvidos – de fazer o balanço mais completo possível dos crimes perpetuados em nome do comunismo a partir da abertura de inúmeros arquivos até então secretos, de testemunhos e contatos, catalogando locais, datas, fatos, vítimas e algozes. Partiram da matriz comunista da URSS de Lênin e Stalin, passando pela China e outros países pequenos, tudo a fim de responder porque o comunismo moderno surgido em 1917 se transformou numa ditadura sangrenta e depois num regime criminoso, o que era contrário aos seus primeiros princípios. Depois da realização desse trabalho hercúleo, chegou-se a um balanço considerado uma aproximação mínima que de acordo com as estimativas, a partir dos subsídios mencionados, permite concluir que a tentativa de instauração do regime comunista resultou em: 20 milhões de mortos na URSS, 65 milhões de mortos na China, 1 milhão de mortos no Vietnã, 2 milhões de mortos na Coréia do Norte, 2 milhões de mortos no Camboja, 1 milhão de mortos no Leste Europeu, 150.000 mortos na América Latina, 1,7 milhões de mortos na África, 1 milhão de mortos no Afeganistão, 10 milhões de mortos pelo movimento comunista internacional e partidos comunistas fora do poder, totalizando 100 milhões de mortos. Há quem afirme, por outro lado, que os números são muito maiores do que estes supracitados.

Uma série de mudanças na história, sobretudo na primeira metade do século XX, fruto do industrialismo e dos conflitos bélicos que assolaram a humanidade, fizeram surgir espaços para uma série de doutrinas de cunho socialista, influenciadas pelo pensamento marxista e pelo comunismo. A partir dessas ideologias sociais, que ganharam vozes com grupos de artistas e intelectuais, fascinados com as “promessas” de melhoria das condições de vida como um todo, promoveram conflitos ideológicos sobre os quais até hoje são debatidos, sobretudo pela formação de polos completamente opostos entre “esquerda” e “direita”. Assim como o modernismo, foi outra falsa promessa de progresso, afinal, o que é a ideologia senão colorir a realidade? Isso sem contar com as consequências geradas à humanidade com o surto de guerras e epidemias no século XX, lembrando também que, “ao tentar acabar com a exploração do homem pelo homem, o socialismo multiplicou-a indefinidamente”, nas palavras de Bruno Latour. A sociedade atual, por conseguinte, está diante de um momento no qual a revolução cultural está impregnada nas instituições, sobretudo nas culturais, e inserida de tal modo que, em muitos casos, é difícil percebê-la.

Nas eleições de 2018, o povo brasileiro, já instruído de alguma forma sobre o assunto, colocou sobre os ombros de Jair Bolsonaro a possibilidade de arrefecimento do movimento no Brasil. De qualquer sorte, justamente por se tratar de um movimento (sim, Olavo realmente tem razão!), essa questão será ainda assunto das próximas décadas nas eleições presidenciais. Nessa perspectiva, como tudo no Brasil acaba virando ou projeto de lei ou lei, algumas iniciativas pairam como nuvens sobre o céu de Brasília.

 

Homenagem aos 65 Anos do Esquadrão de Demonstração Aérea – EDA - Esquadrilha da Fumaça. Dep. Eduardo Bolsonaro (PSC - SP)
Eduardo Bolsonaro: “O comunismo é tão nefasto quanto o nazismo” (Imagem: Câmara dos Deputados)

 

A Câmara dos Deputados possui proposta que criminaliza a apologia ao comunismo. A medida está prevista no Projeto de Lei 5358/16, de autoria do deputado Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), cujo texto quer alterar a redação da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989 e da Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016.

O projeto quer alterar a Lei Antirracismo (7.716/89) para incluir entre os crimes ali previstos o de “fomento ao embate de classes sociais”. A pena prevista é reclusão de um a três anos e multa:

A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com as seguintes alterações em seus artigos 1º e 20, caput e § 1º, nos seguintes termos:

“Art. 1º Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional ou de fomento ao embate de classes sociais. (NR) (…)

Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional ou fomentar o embate de classes sociais. (NR)

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, a foice e o martelo ou quaisquer outros meios para fins de divulgação favorável ao nazismo ou ao comunismo.” (NR)

A proposição ainda visa alterar a Lei Antiterrorismo (13.260/16), para incluir o “fomento ao embate de classes sociais” como ato terrorista, quando cometido com a finalidade de provocar terror social ou generalizado. Sendo assim, quem fizer apologia a pessoas que praticaram atos terroristas ou a regimes comunistas será punido com pena correspondente ao delito consumado, diminuída de um quarto até a metade:

A Lei nº 13.260, de 16 de março de 2016, passa a vigorar com as alterações em seu artigo 2º, caput, a supressão do § 2º respectivo e a inclusão do inciso III ao artigo 5º, nos seguintes termos:

“Art. 2º O terrorismo consiste na prática por um ou mais indivíduos dos atos previstos neste artigo, por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião, ou de fomento ao embate de classes sociais, quando cometidos com a finalidade de provocar terror social ou generalizado, expondo a perigo pessoa, patrimônio, a paz pública ou a incolumidade pública. (NR)

(…)

§ 2º SUPRIMIDO (…)

Art. 5º ……………………………………………………………………………..

III – Fazer apologia a pessoas que praticaram atos terroristas a qualquer pretexto bem como a regimes comunistas. (NR)”

O projeto atualmente aguarda parecer da Relatora na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania (CCJC), a deputada federal Caroline de Toni (PSL-SC). Em conversa com a deputada, ela informou que os projetos são pautados pelo presidente da Câmara dos Deputados, para assim serem submetidos à votação. Para que ocorram sob regime de urgência, é necessário colher assinatura de 2/3 dos parlamentares, o que pode facilitar a votação, embora na maioria das vezes acaba dificultando.

Outros projetos no mesmo sentido foram apensados

Quatro outros projetos foram apensados ao do deputado Eduardo Bolsonaro por se tratar da mesma matéria, que são: PL 8229/2017;  PL 9756/2018PL 468/2020PL 4826/2019

PL 8229/2017 é de autoria do Professor Victório Galli (PSC/MT), apresentado em 09/08/2017, que altera a Lei nº 7.716, de 1989, para tornar crime qualquer forma de elogio, enaltecimento ou apologia ao “comunismo”:

Art. 1º – Altera o paragrafo 1º do art. 20 da Lei nº 7.716 de 5 de janeiro de 1989,

Art. 20 …………………………………………………………………………………………

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda que utilizem a cruz suástica ou gamada, para fins de divulgação do nazismo ou comunismo, inclusive em escolas publicas e privadas (NR).

O PL 9756/2018, de autoria do deputado Caetano (PT/BA), apresentado em 13/03/2018, que apenas modificou “comunismo” por “fascismo”, quer alterar a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, para tipificar a fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, para fins de divulgação do nazismo ou do fascismo:

Art. 2º O art. 20, § 1º, da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 20………………………………………………………………………………

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, para fins de divulgação do nazismo ou do fascismo. ………………………………………………………………………………..” (NR)

O PL 468/2020, de autoria de Márcio Jerry (PCdoB/MA), apresentado em 03/03/2020, também com sutil modificação, quer alterar a Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, para tipificar e crime de fabricação, comercialização, distribuição ou veiculação de símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, para fins de divulgação do nazismo, do fascismo ou de organizações de cunho racista, separatista e xenófobo.

Art. 2º O art. 20, § 1º, da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a seguinte redação:

“Art. 20. ………………………..

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propaganda, para fins de divulgação do nazismo, do fascismo ou de organizações de cunho racista, separatista e xenófobo. ………………………………………………………………………….” (NR)

Por fim, o PL 4826/2019, de autoria de Julian Lemos (PSL/PB), apresentado em 03/09/2019, quer alterar a redação da Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, para criminalizar o comunismo:

Art. 2º A Lei nº 7.716, de 5 de janeiro de 1989, passa a vigorar com a seguinte alteração no artigo 20, caput e § 1º, nos seguintes termos:

“Art. 20. Praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional.

Pena: reclusão de três a seis anos e multa.

§ 1º Fabricar, comercializar, distribuir ou veicular símbolos, emblemas, ornamentos, distintivos ou propagandas, para fins de divulgação e apologia ao comunismo.

Lei para inglês ver?

Levando em consideração que o comunismo é um movimento, capaz de impregnar não só nos partidos políticos, como também nas demais instituições sociais, e sobremodo no pensamento da sociedade, aprovando-se o projeto que for, a situação não irá arrefecer da noite para o dia. A sutileza do comunismo reside em transformar pessoas em simpatizantes do movimento sem mesmo que elas perceberem isso; esse fator garante a sua perenidade. Assim como foi com o projeto Escola Sem Partido, muita discussão irá varrer o Congresso Nacional, mas sem qualquer resultado efetivo. Cabe a cada um procurar entender as nuances do movimento comunista, como forma de garantir em todo ou em parte imunidade sobre esse vírus que a história provou ser o mais letal.

Cultura

Prefeitura vai levar estudantes e professores da rede municipal para Europa. Custo estimado: R$ 300 mil

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Embora o projeto tenha sido aprovado, os vereadores criticaram o reduzido número de estudantes em relação ao custo anual. Para outros, o valor poderia ser aplicado para melhorar a infraestrutura das escolas

Regina dos Santos (PDT), na Sessão Plenária do dia 17 de agosto, usou a tribuna para criticar postagem nas redes sociais da Prefeitura em que o Poder Executivo anunciava intercâmbio cultural de alunos da rede municipal de ensino pela Europa, quando ainda não havia sido aprovado pela Câmara de Vereadores.

Para ela, isso mostra o desrespeito do Executivo com o Legislativo. Além de previamente estar determinando as regras do intercâmbio, o Executivo enviou sob regime de urgência para votação, o que costuma ser bastante criticado pelos parlamentares, pois dificulta o debate e a análise adequada do projeto:

“Fazer propaganda de projeto que sequer tramitou em todas as comissões. Eu me sinto desrespeitada pela administração municipal. Nós devemos primar pelo bom uso do dinheiro público.”

 

Na Sessão Plenária do dia 24 de agosto, as duas matérias que tratam do programa “Missão Cidade Educadora” foram aprovadas. A primeira é o Projeto de Lei nº 80/2022, que autoriza a sua inclusão no programa e ação no Anexo do Plano Plurianual (2022-2025) para destinação de verba e adequando o projeto ao PPA. Na justificativa, ressalta-se a “finalidade de ampliar o conhecimento e desenvolver nos alunos da rede pública municipal a capacidade educativa formal e informal, através do aprendizado vivencial com cidades e pessoas das mais variadas culturas”.

Já o Projeto de Lei 81/2022 cria o Programa de Intercâmbio Cultural Internacional – Missão Cidade Educadora. De forma gratuita, a alunos regularmente matriculados na rede pública municipal será ofertado intercâmbio cultural internacional, supervisionado e custeado pelo Poder Público, o qual, de acordo com a justificativa, “visa ampliar o conhecimento e desenvolver nos alunos da rede pública municipal a capacidade educativa formal e informal, através do aprendizado vivencial com cidades e pessoas das mais variadas culturas”.

A equipe será composta de cinco estudantes com um acompanhante cada, mais cinco representantes do projeto e seis professores da rede municipal de ensino. Segundo o texto da matéria, o Executivo se encarregará de selecionar os representantes do Programa a integrarem a equipe.

A discussão dos projetos pode ser conferida no vídeo da Sessão abaixo (16:25 – 32:26):

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Cultura

Por que a esquerda odeia tanto a beleza?

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Jennifer Lopez

Foto recente da cantora americana Jennifer Lopez repercutiu em texto passivo-agressivo de colunista brasileira da Vogue. Até quando?

A cantora e atriz americana Jennifer Lopez postou uma foto nua em um ensaio para comemorar seus 53 anos de idade. Até aí, tudo bem. Ela fez o mesmo (com um pouco mais de roupa – um biquini) no ano passado. É do jogo.

As implicações do fato cruzaram as fronteiras e foram parar nas páginas digitais da edição brasileira da revista Vogue. A colunista Cláudia Lima publicou um texto que podemos chamar amadoristicamente de passivo-agressivo, tamanha a quantidade de afirmações que variam da raiva até a suposta admiração pela atriz, distantes poucas linhas umas das outras.

O escrito gerou uma curiosidade jornalística. Na primeira publicação, saiu com o título “Jennifer Lopez e o desserviço às mulheres de 50, 60, 70…”. Horas depois, foi trocado para “Jennifer Lopez: precisamos ter o corpo perfeito sempre?”, mas o endereço da postagem no site permaneceu o mesmo, passado também entregue pela transcrição em áudio (um recurso extra presente no site da Vogue) que ainda tem o conteúdo antigo. A parte retirada era assim:

Jennifer Lopez e o desserviço às mulheres de 50, 60, 70… – Ensaio de sua marca de beleza é retrocesso na luta das mulheres pela aceitação de seus corpos, de sua imagem e contra os preconceitos em relação a idade. [sic]

Depois, o primeiro parágrafo começa com “eu amo a Jennifer Lopez” e o texto desfia um rosário de olhares típicos do feminismo sobre o caso de uma mulher que ousou mostrar as curvas perfeitas. Poderia ser a sua vizinha, mas é a Jennifer Lopez. Release the Kraken do lacre! Pra já! A ordem é oprimir a atriz que ousa trabalhar para a indústria que insiste em oprimir… as mulheres!

A peça acaba (depois de definir fronteiras para a liberdade e criticar indiretamente até a ética da atriz) com “Sejamos nós, sempre! Livres!”.

Irreal.

O mesmo sentimento foi replicado em outra coluna, desta vez para o UOL, por Nina Lemos. Entre outras linhas, dispara a colunista:

“Mas essa semana JLo pisou na bola. Ela publicou uma foto nua fazendo campanha para sua marca de cosméticos (a JLo Beauty). Se fosse só isso, maravilhoso. Precisamos mesmo ver mulheres de mais de 50 mostrando seus corpos. Só que tem um detalhe: o corpo exibido por JLo nas redes sociais é completamente fora da realidade de qualquer mulher de 50 anos”.

Sim, ela meteu essa: qualquer mulher de 50 anos. Se você é mulher e tem 5o ou mais, com curvas lopezianas, você nasceu em outro planeta.

Cláudia e Nina compartilham gostos e apoios políticos muito semelhantes e bem expostos em seus perfis do Instagram, deixando confortável o título do nosso texto. Feminismo, Lula, #ForaBolsonaro, a cartela inteira está lá nas imagens.

O motivo de tanto ódio pelo belo por parte da esquerda e suas ramificações pode ser explicado por diversos autores, de Roger Scruton a Jordan Peterson. Este último teve a ousadia de dizer recentemente que a modelo na capa de uma revista esportiva não era bonita. E a turma do lacre foi ao desespero. Transportando estes pensamentos sobre beleza no geral para o efeito causado especificamente por curvas de uma atriz e cantora americana de 53 anos em um ensaio, há que se imaginar que o ódio pode ter muitas razões: da inveja ordinária sustentada por embasamento de ciência social de botequim, pela irritante proximidade da natureza e seu criador ou pelo simples uso da celeuma como ferramenta de luta de classes.

 

 

Jennifer Lopez cometendo o mesmo crime no ano passado, ao postar o corpo dos 52 anos.

 

Para o lado de cá da história, resta reafirmar aos seus que ainda caem nestes discursos que o caminho para aqueles que apresentam problemas com a beleza alheia não é xingar a sociedade e sim procurar ajuda especializada, o quanto antes.

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Das lições de Olavo de Carvalho: A importância da Literatura

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Por que a literatura é uma maneira de amadurecer a visão e compreensão da realidade? Em seu Curso Online de Filosofia, o professor Olavo não se cansava de lembrar que “a base da formação cultural é a extensa leitura atenta de literatura, pois esta é uma maneira de amadurecer a visão da realidade”

Os ensinamentos e as obras do professor Olavo de Carvalho, falecido em 24 janeiro desse ano, certamente ainda serão muito estudados. Seu legado deixa lições valiosas sobre a unidade do conhecimento humano e o autoconhecimento individual. Uma dessas lições que urge ser propagada diz respeito à importância de ampliar nosso imaginário, através da extensa absorção dos clássicos da literatura.

Tendo assumido a missão de restaurar o cultivo da alta cultura em nosso país (esfacelada por décadas de obscurantismo acadêmico), em seu Curso Online de Filosofia, o professor Olavo não se cansava de lembrar que “a base da formação cultural é a extensa leitura atenta de literatura, pois esta é uma maneira de amadurecer a visão da realidade”. Mas o que isso quer dizer?

É preciso entender que ler muitos livros não significa que o indivíduo incorporou o essencial à sua alma. A leitura atenta é aquela que leva o indivíduo a incorporar, no centro da sua existência, as sutilezas e as possibilidades de experiência humana, narradas exemplarmente nas obras literárias.

 

Qualquer pessoa que já tenha lido um bom romance teve a experiência de sair, por um momento, das formas convencionais de expressar a vida humana. Considere, por exemplo, sentimentos como o amor e o sofrimento. Se você ler O Albatroz, de José Geraldo Vieira, ou Moll Flanders, de Daniel Defoe, ou Sofrimentos do Jovem Werther, de Goethe, ou Romeu e Julieta, de Shakespeare, inevitavelmente perceberá diferentes graus e maneiras de expressar aqueles sentimentos, com todas as suas contradições, nuances e sutilezas. Você irá absorver modos diferentes de atenuar experiências, de realçar detalhes, de descrever sensações e situações de formas tão sutis, complexas e profundas que, inevitavelmente, irão expandir o seu horizonte de consciência sobre a vida humana. Considere por um momento o que o hábito de ler  boa literatura pode fazer a um indivíduo ao longo dos anos.

Nós jamais conseguimos ver além do nosso horizonte de consciência. Se esse horizonte for limitado, é muito provável que, em algum momento, o indivíduo se sinta mal por não compreender a si mesmo, o que acontece ao seu redor, ou não compreender as pessoas para além do que elas lhe aparentam. Por isso, alertava o professor Olavo, buscar ampliar a nossa imaginação através da absorção da boa literatura é aumentar a nossa capacidade de perceber, expressar e comunicar a experiência humana.

Esta era uma lição insistentemente lembrada por Olavo como um dos passos básicos para a restauração da alta cultura no país. Atualmente, a julgar pelas várias iniciativas e projetos sobre literatura encabeçados por ex-alunos do professor e afins, é preciso admitir que mais passos estão sendo dados e muitas pessoas estão tendo essa experiência de absorção literária. Os cursos e grupos de estudos do canal Formação do Imaginário; as análises e mentorias literárias do Matheus Araújo; os ciclos de leitura sobre literatura brasileira do historiador Thomas Giulliano; as análises literárias de Gabriel Santana; os encontros do Clube do Livro de Paulo Briguet e Silvio Grimaldo; os cursos de leitura e escrita do crítico Rodrigo Gurgel; as análises e leituras do canal Os Naufrágos, de Curitiba; a Sociedade do Livro, do grupo Brasil Paralelo; as análises e cursos do escritor João Filho; as análises e leituras no canal da tradutora Juliana Amato. Isso é uma breve lista de exemplos de iniciativas e trabalhos sérios que levam adiante o estudo e a leitura atenta da literatura como forma de ampliação do imaginário.

Todos esses projetos e trabalhos acabam atraindo muitas pessoas a seguir um caminho que não visa apenas certificados ou diplomas, mas um caminho que desperta algo mais valoroso e permanente: o verdadeiro apreço por expandir o conhecimento e buscar a verdade, por mais desafiador que isso seja. Para quem, felizmente, pode presenciar, essa foi uma lição que o professor Olavo não ensinou apenas com palavras e aulas gravadas, mas com a força da sua própria pessoa.

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