Passo Fundo

Passadas as eleições, o Estado coloca a força policial para controlar os cidadãos nas ruas. Próxima parada: sua casa?

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O coronavírus entrou em uma segunda onda em Passo Fundo, corroendo o tecido social enquanto os políticos incompetentes continuam com imunidade

Corre pelas redes sociais um vídeo que mostra a ação da polícia e prefeitura na Rua Independência – principal ponto de bares da cidade – abordando um cidadão sem máscara, no último final de semana. Logo de início, é possível ouvir que uma parte indaga o abordado “Tu tem uma vaga especial pra ti no hospital? Tu tem uma vaga pra tua mãe no hospital se ela ficar doente de COVID?” que então responde “Cara, eu já peguei COVID” e o diálogo segue com “Mas a minha família não e eu tenho que ficar aqui te aturando”.

Esta conversa na beira da calçada deixa evidente a situação terrível em que se encontra a relação entre o governo e os cidadãos, após quase um ano de pandemia. Curiosamente, um comportamento muito diferente de poucas semanas atrás, época de campanha eleitoral e sorrisos de candidatos para a arrecadação de votos, aglomerados ou não, com o sem máscara (a de pano, não a moral).

O Leviatã ataca em Passo Fundo, no mês do Natal.

Um aparato de viaturas das forças policiais, prefeitura, recursos humanos e possivelmente horas-extras está intensificando as ações contra as aglomerações, por hora em ambientes públicos. Com a aproximação do Natal e das festas de Final de Ano, não é de se duvidar que estas mesmas ações se intensifiquem e comecem a invadir residências pelos bairros da cidade, separando amigos e parentes de suas celebrações, em volume muito superior ao que já foi visto por aqui.

Passadas as eleições e o perigo imediato da impopularidade

A população esperou com fé e prejuízo a reação do governo durante todo o ano fatídico de 2020. Cada cidadão que perdeu o emprego ou o negócio por conta de limitações por decreto ou força da lei, colocou fé de forma compulsória na boa condução da crise e do aumento significativo da capacidade hospitalar. Muitos tomadores de decisão passaram incólumes concorrendo nesta eleição, baseados no clima da terra arrasada do COVID, do “não há o que se fazer”, portanto não há o que ser criticado.

Situação dos leitos de UTI em Passo Fundo: dados oficiais do Governo RS.

Hoje, o Governo do Rio Grande do Sul se gaba no site oficial de ter aumentado em mais de 100% o número de leitos de UTI SUS (de 933 antes da pandemia para 1884). A taxa de ocupação ficou entre 75% e 80% desde o dia 22 de novembro, data mais antiga divulgada no Mapa de Leitos. Paralelamente, o Governo Federal enviou bilhões de Reais para estados e municípios gastarem, na maioria, como bem entendessem. Tudo errado. Faltou um investimento colossal em capacidade hospitalar, de leito a capital humano – um verdadeiro novo normal – não o fique em casa para sempre, esperando a vacina e vivendo de auxílio.

O chamado pela responsabilidade individual

Tanta falta de pulso firme e até honestidade por parte de prefeitos e governadores colabora para o fortalecimento de teorias da conspiração, “negacionismo” sobre a severidade da doença para uma faixa importante da sociedade e a criação de um clima de denuncismo (prática, aliás, realmente fortalecida por governos).

Canal para denúncias divulgado pelo governo gaúcho.

As discussões sobre o enfrentamento do COVID tendem sempre a acabar na polêmica sobre capacidade hospitalar, centradas no esgotamento dos leitos e no colapso do sistema de saúde. Com bom senso, talvez seja a hora de virar a chave para a responsabilidade individual, deixando para que as pessoas assumam os próprios cuidados, já que com ou sem estabelecimentos fechados, o vírus não sumirá como em um passe de mágica. É preciso relaxar restrições onde as pessoas vão por livre e espontânea vontade (restaurantes, casas noturnas, parques) e reforçar os cuidados onde públicos com pensamentos heterogêneos sobre a pandemia frequentam por obrigação (supermercados e farmácias). Já os hospitais, que estes sejam realmente melhorados, sem medidas cosméticas. É preciso amadurecer, antes que alguém decida por você quem estará na ceia de Natal.

 

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