Contrapondo a fala do vereador Tchequinho, que criticou duramente o uso de verbas federais para a compra de computadores, Nharam de Carvalho justifica a importância do gasto
Na semana passada, na matéria “Prefeitura de Passo Fundo compra computadores com dinheiro do COVID e Bolsa Família“, o articulista Jesael Duarte da Silva descobriu e denunciou, conforme dados disponíveis na Transparência, que a prefeitura municipal de Passo Fundo havia utilizado recursos destinados à pandemia e ao programa Bolsa Família, para realizar a compra de computadores. Muito embora a compra não seja ilegal (as referências podem ser encontradas no próprio artigo), é um tanto imoral o destino da verba, ainda mais com constantes reclamações da população com a falta de medicamentos e outros itens essenciais.
Conforme consta na matéria, 20 computadores desktop e 5 notebooks da Lenovo foram adquiridos para a Secretaria de Cidadania e Assistência Social (SEMCAS) com recursos federais, ao custo total de R$ 124.800,00. Cada computador desktop Lenovo ThinkCentre M720q custou R$ 4.800,00 e os notebooks Lenovo ThinkPad E14 ficaram por R$ 5.760,00 cada.
Na Sessão Plenária desta segunda-feira (14), o vereador Tchequinho (PSC) não poupou críticas à compra realizada (VEJA). O vereador Nharam de Carvalho (DEM), logo em seguida, usando seu espaço na tribuna, deu a seguinte declaração (o trecho com a fala do parlamentar consta na sequência):
“Eu não acompanhei toda a demanda do dinheiro que veio do governo federal, mas eu te digo que computadores fazem parte do atendimento à saúde. Então, por isso, se justifica a compra de computador.” [sic]
É importante destacar que a primeira função de um vereador, como membro do Poder Legislativo, é averiguar denúncias, e não correr em defesa do Poder Executivo, sem ter averiguado nada, como foi o presente caso. Isso deveria ser óbvio, mas não para a velha política de Passo Fundo. O vereador Nharam, depois de admitir não ter feito o seu trabalho de fiscalizar o uso dos recursos, justifica que “computadores fazem parte do atendimento à saúde”. Só por que computadores PODEM fazer parte do atendimento à saúde isso se justifica? Será que são necessários computadores de R$ 5.000,00 cada? Este computadores estão sendo usados realmente para este fim? O dinheiro do COVID deveria ter sido utilizado para este tipo de aquisição?
Estas são algumas dúvidas que vem à mente da população de Passo Fundo, mas parecem não fazer parte do imaginário de vereadores como Nharam. O embate entre Tchequinho e Nharam simboliza um pouco do que há de pior na nossa política local e pode dar o tom da próxima legislatura. Um triste caso de “passada de pano” para ações do Executivo, no lugar da defesa do interesse da população.
De folha de pagamento até ajuda para grupos artísticos, muito dinheiro vai para a conta do vírus na cidade
Lá se vão quase 900 dias desde o primeiro caso de COVID-19 na cidade de Passo Fundo, mas o problema financeiro parece longe de acabar. A “Transparência COVID” da prefeitura aponta um gasto empenhado de R$ 7 milhões em 2022, até o dia 6 de setembro. Deste valor, foram pagos R$ 6,88 milhões.
A lista de beneficiados em 2022 com dinheiro público tem 260 nomes. Há pagamentos para empresas fornecedoras da saúde, como esperado, mas a maioria entrou como folha de pagamento (R$ 4,1 milhões). Passo Fundo ainda pagou R$ 800,00 para 203 pessoas a título de “Auxílio a Pessoas Físicas”, dentro de programas culturais em parceria com o governo do Rio Grande do Sul.
Acima: habilitação da Prefeitura de Passo Fundo em edital para cultura no governo do estado. Publicação do DOE completa, aqui.
Entidades tradicionalistas foram contempladas através da Lei 5564/2021, criadora do auxílio específico para o setor. A Lei do Executivo projetou um impacto financeiro de R$ 270 mil. As entidades receberam valores entre 5 e 20 mil Reais e precisam prestar contas das despesas autorizadas, que vão de pagamentos de aluguéis até despesas com instrutores.
Câmara aprovou
É bom lembrar que os gastos extras com dinheiro municipal passaram pela Câmara de Vereadores de Passo Fundo, com aprovação. Tema delicado, mas que exige uma avaliação profunda da casa para que fiscalize a destinação dos recursos, prestação de contas e o real impacto no orçamento de Passo Fundo, seja para mais ou para menos: se a cidade ficará prejudicada por falta de recursos que foram aplicados nos auxílios ou se o gestor teve liberdade para realizar gastos – perante a folga – que não realizaria em tempos normais. Que aliás já são normais faz tempo para quem não ganha dinheiro público em época de eleição.
Listão
Direto da transparência da Prefeitura de Passo Fundo, a lista com as pessoas e entidades beneficiadas com auxílio ou que tiveram produtos ou serviços pagos na “Conta COVID” no ano de 2022 (até o dia 6/9). Acesse aqui o PDF.
Recentemente, o Ministério da Saúde brasileiro decretou o fim do estado de emergência sanitária nacional. Na tribuna, Rodinei Candeia (REPUBLICANOS) apontou os erros e acertos dos órgãos públicos durante a pandemia de Covid-19.
“Eu vejo que essas entidades que se dizem protetoras dos direitos humanos em verdade usam as suas posições para impor o entendimento verdadeiramente político-ideológico sobre o comportamento das pessoas, querendo sobrepor a competência que tem o Executivo Municipal para tratar dessas matérias.” (Candeia)
Poucas semanas atrás, o prefeito de Passo Fundo Pedro Almeida se manifestou nas redes sociais acerca do uso obrigatório de máscaras na cidade. Na ocasião, disse que achava prudente a liberalização do uso em locais públicos, posteriomente promulgando decreto. Ocorre que muitas pessoas já não estavam usando máscara em locais públicos, embora muitos respeitassem as exigências relacionadas a ambientes fechados. Acabou sendo mais discurso do que uma ação efetiva sobre essa questão na cidade. Na prática, no entanto, muitos deram aquela interpretação lato sensu para o decreto, deixando até mesmo de usar máscaras em ambientes fechados.
Nesta história, é certo que alguns grupos, sobretudo aqueles que marcaram seu posicionamento “pró” tudo o que estava relacionado a covid e suas medidas autoritárias e restritivas, não deixaria o assunto por isso mesmo. E foi o que fez a Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo.
Então a CDHPF protocolou ação civil pública, a fim de obrigar a população a voltar a utilizar máscaras. Na Sessão Plenária do dia 30 de março, o vereador Rodinei Candeia criticou a postura da entidade:
“Eu vejo que essas entidades que se dizem protetoras dos direitos humanos em verdade usam as suas posições para impor o entendimento verdadeiramente político-ideológico sobre o comportamento das pessoas, querendo sobrepor a competência que tem o Executivo Municipal para tratar dessas matérias”.
Veja, a seguir, o trecho em que o parlamentar trata do assunto na tribuna: