O planejamento temerário da vacinação provocou filas enormes de pessoas e veículos, colocando em risco a saúde de grupos sensíveis ao coronavírus
Existe um motivo para as campanhas de vacinação contra o coronavírus darem prioridade aos idosos: eles são mais suscetíveis ao contágio e sofrem mais nas internações hospitalares.
A Prefeitura de Passo Fundo parece trabalhar ao contrário do óbvio, falhando no planejamento e provocando filas das pessoas que deveria proteger. Ironicamente, poucos dias após a publicação de um decreto do prefeito punindo com multas mais severas aqueles que organizam aglomerações.
Acima: Decreto 39/2021, penalizando responsáveis por aglomerações com mais de 20 pessoas. Disponível aqui.
O cronograma de vacinação publicano das redes sociais da Prefeitura de Passo Fundo.
Para este sábado, foram convocadas as pessoas que nasceram em 1955 e 1956 para a vacinação das 8h às 17h e de profissionais de segurança das 14 às 17h. Tudo concentrado no CTG Lalau Miranda.
A imprensa local divulgou imagens pelas redes sociais das enormes filas de veículos em direção ao CTG. Com origem no Centro, carros foram flagrados na Paissandú, na altura do Hospital de Clínicas. Pelo mapa, mais de 1000 metros até os portões da entidade. Perto do posto improvisado, centenas de idosos também faziam fila nas calçadas. Já sobre o atendimento em si, não há registro de problemas e as pessoas fazem muitos elogios nas redes. Descontadas as emoções do ato tão esperado, as reações sinalizam que o sistema funciona, o problema é chegar lá.
Acima: filas para a vacinação flagradas pela Rádio Planalto e Uirapuru, publicadas nas redes sociais.
Não foi a primeira vez
Em outras ocasiões, a concentração da vacinação do CTG Lalau Miranda provocou filas para acesso. Antes, na primeira tentativa de um esquema atendimento aos idosos ainda no centro, grupos de idade avançada também aglomeraram nas calçadas da rua Uruguai, nas proximidades do Hospital da Cidade.
Já aglomerou, vai aglomerar mais?
A Prefeitura de Passo Fundo já gastou muito dinheiro público em estudos e projetos que detalharam a distribuição populacional da nossa cidade, além de ter acesso a dados riquíssimos – em tempo real – para ajudar a determinar os melhores locais para atingir mais pessoas com o menor transtorno, levando em conta os recursos disponíveis e as particularidades da vacina.
A população de Passo Fundo dividida por sexo e faixa de idade. Dados do IBGE, 2010.
Com a chegada de faixas etárias mais jovens, aumenta a população atingida, como bem mostra a pirâmide publicada pelo IBGE, ainda com dados de 2010. Serão cerca de 10 mil pessoas para vacinar na faixa de 55 a 59 anos, por exemplo. Para sucesso nesta etapa, é preciso uma revisão geral dos métodos. Se há uma boa equipe na última milha do atendimento médico formada por bons profissionais da área da medicina e enfermagem, as cabeças pensantes no andar de cima estão deixando a desejar.
É claro que a “autopunição” sugerida neste artigo não passa de ironia, mas é bom lembrar que a mesma Prefeitura tinha na Administração Luciano 1 e 2 o programa “Bairro a Bairro” como menina dos olhos: uma estrutura com lona, palco, estandes para atendimentos, além de atípica convocação de funcionários e CCs para acompanharem o prefeito e secretários nos bairros da cidade. Se metade desta experiência fosse usada na estratégia das vacinas, a história seria outra.