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Cerca de 67% dos estudantes brasileiros de 15 anos não sabem diferenciar fato de opinião

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Cerca de 75,6% dos estudantes brasileiros com 15 anos encontram-se entre os níveis mais baixos de proficiência em leitura. E estamos falando de estudantes que passaram, no mínimo, 8 anos frequentando a escola.

De acordo com o relatório “Leitores do Século 21: Desenvolvendo habilidades de alfabetização em um mundo digital”, recentemente divulgado pela OCDE, cerca de 67% dos estudantes brasileiros de 15 anos não sabem diferenciar fato de opinião. O índice dos nossos estudantes estaria acima da média registrada de estudantes em outros 79 países, que foi de 53%. O relatório traz dados e resultados provenientes do PISA 2018 – avaliação que teve como foco a proficiência em leitura.

O desempenho brasileiro nas avaliações do PISA é bem conhecido e divulgado. Desde o ano 2000, figuramos entre os mais baixos rendimentos dos países analisados, acumulando deficiências, ano após ano, série após série. O desempenho brasileiro em Leitura no PISA 2018 pode esclarecer os recentes dados do relatório divulgado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).


A cada 3 anos, o PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) destaca um domínio cognitivo diferente – Leitura, Matemática e Ciências, respectivamente. A edição de 2018 teve foco em Leitura, com maior quantidade de questões voltadas a esse domínio. Nessa edição, a média dos jovens brasileiros em Leitura foi de 413 pontos, 74 pontos abaixo da média dos estudantes dos países da OCDE, que foi de 487. Esse desempenho deixou o Brasil em 55º, entre 78 países.

Para avaliar o desempenho dos estudantes, o PISA utiliza uma Matriz de Proficiência que procura estabelecer diferentes graus de complexidade e capacidade de entendimento, avaliação e interpretação de textos. A matriz é classificada em 6 grandes níveis, estabelecidos de modo progressivo, que vão desde a simples capacidade em dominar informações simples e literais até a compreensão e interpretação de textos complexos e informações elaboradas.

 

Leitores no Nível 1 conseguiriam entender, avaliar e interpretar o significado literal de frases, trechos ou passagens curtas de textos. Tudo aquilo que envolve alguma complexidade, sentidos duplos ou analogias não será facilmente compreendido nesse nível. Terá dificuldade de entender alguma piada implícita ou dúbia em gibis, por exemplo. Esse leitor tem a capacidade de leitura de mensagens e vocabulário simples, como mensagens abreviadas de Whatsapp, notícias rápidas em sites e jornais, frases em posts de redes sociais ou comandos e informações explícitas.

Já os leitores no Nível 2, conseguiriam entender, avaliar e interpretar textos de tamanho moderado, como uma redação. Estes leitores seriam capazes de identificar a ideia geral de um texto, interpretar informações explícitas e realizar relações básicas, como verificar alguma contradição na própria redação. Neste grau de domínio, a capacidade de leitura ainda se encontra no nível da literalidade – significados tênues ou analogias mais complexas não são compreendidos.

Seria apenas no Nível 3 em que encontraríamos capacidades mais elevadas de identificar informações para além do nível literal: os leitores conseguiriam realizar relações mais complexas do texto com a realidade. Isto significa que o leitor seria capaz de analisar, inicialmente, a veracidade das informações, identificar a expressão de fatos e distinguir sentimentos e opiniões. Ao ler um artigo, o leitor seria minimamente capaz de identificar se ali encontra uma opinião ou a descrição de um fato. Trata-se do início do domínio da linguagem – o leitor é capaz de ler livros, entender a mensagem e fazer alguma relação com o mundo.

De acordo com o PISA 2018, cerca de 75,6% dos estudantes brasileiros com 15 anos encontram-se entre os níveis mais baixos de proficiência em leitura – níveis 1 e 2. Apenas 25,6% dos estudantes encontram-se acima do nível 3, demonstrando capacidade de leitura mais desenvolvida. Estamos falando de estudantes que passaram, no mínimo, 8 anos frequentando a escola.

Diante dos dados detalhados da edição do PISA 2018, por que ficaríamos surpresos ao saber que 67% dos estudantes não conseguem distinguir fato de opinião? A educação é um processo lento que não desfaz erros acumulados em um ano ou três. Depois de décadas de métodos de alfabetização equivocados, ondas sobrepostas de ideologias que transformam a educação em tudo menos o desenvolvimento da inteligência, não será simples nem fácil elevarmos a qualidade da nossa educação. É possível, mas não é rápido.

Leia também: Colunistas da Lócus publicam artigo sobre domínio da linguagem na educação brasileira em revista científica

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