Evento especial no Palácio Piratini teve música e declamação de poesias com temas sobre o negro na história gaúcha
“Um 20 de Setembro muito especial e marcante, com a força da mulher negra gaúcha representada pela patrona Liliana Cardoso”. Assim foi apresentado o último post no Facebook do governador Eduardo Leite, sobre o encerramento das reduzidas festividades farroupilhas em época de pandemia, no Palácio Piratini.
Liliana Cardoso foi escolhida Patrona dos Festejos Farroupilhas deste ano e, em paralelo, promoveu durante o evento o seu livro entitulado “A Matriz da Cultura Negra no Gauchismo”.
Em outro post, Leite luta por uma “sociedade mais justa e igual”, ainda no contexto das festividades farroupilhas.
Para não perder a viagem, comentários que remetem ao cenário nacional
Divulgando fotos da extinção da Chama Crioula, o governador adicionou:
Encerramos os #FestejosFarroupilhas 2021 com um importante e simbólico desfile, sem público e com número de participantes reduzido. Mas estes cavalarianos, homens e mulheres, representaram o orgulho que todos nós, gaúchos, sentimos pela nossa história.
Se há quase 200 anos o RS se levantava contra as injustiças, travando uma guerra em torno dos ideais farroupilhas, nos tempos atuais, o enfrentamento é outro. A coragem e a ousadia é justamente nos opormos à cultura da guerra, do enfrentamento que nos divide.
Que a chama da união da Semana Farroupilha permaneça acesa em cada um de nós e que as nossas façanhas possam sem construídas em torno da paz, do equilíbrio, da sensatez.
Desde o início da Semana Farroupilha, o governador tem aproveitado para “colar” suas ações governamentais, sempre divulgadas como certeiras e de sucesso, ao tema da revolução. No final, não foi diferente: até as pedras sabem o endereço de entrega de qualquer mensagem sobre “guerra e enfrentamento”.
Acima: governador Eduardo Leite e a Secretária de Cultura do RS Beatriz Araújo recebendo o livro “A Matriz da Cultura Negra no Gauchismo” das mãos da autora Liliana Cardoso. Foto: Itamar Aguiar / Palácio Piratini.
Aqui, outra visão sobre a cultura gaúcha em post da mesma secretária, em 2017, quando defendia a reabertura da Queermuseu, em Porto Alegre.
O governo Leite praticamente fundiu o movimento tradicionalista gaúcho com o movimento negro nesta edição da Semana Farroupilha. Nas comemorações finais e pela ótica do segundo, fez considerações sobre o papel do negro no Rio Grande do Sul, revisionismo do infame caso dos Lanceiros Negros durante a revolução e muito discurso que remete a luta de classes, com desejo permanente de representatividade. Pode ser apenas o acaso, mas também um capitulo da escalada de Eduardo Leite para se firmar entre minorias, rumo a outro palácio, o do Planalto.
PS. Apesar da limitada cobertura dos eventos com transmissão da TVE e postagens nas redes sociais do governador e do Governo RS, parece que não há, no contexto da celebração do papel do negro no RS neste evento, qualquer menção ao ex-governador Alceu Collares, primeiro governador negro do RS (1991-1995). Uma lástima.