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Eduardo Leite no Flow – Análise da entrevista no Podcast

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O governador Eduardo Leite participou do programa em São Paulo na última sexta-feira, transmitido ao vivo pelo Youtube

O governador Eduardo Leite mais uma vez deu um tempo em suas atribuições palacianas para participar de programas nacionais. A escolha da vez foi o Podcast Flow, canal do Youtube com mais de três milhões de inscritos, conhecido por realizar entrevistas despojadas e longas. Leite falou por quase 3 horas para os apresentadores Monark e Igor 3K.

Apresentações, amenidades e discussões sobre como funciona o sistema eleitoral brasileiro e opções na democracia (como consultas populares) tomaram conta dos primeiros 30 minutos da entrevista. Então vem o primeiro ponto de interesse, a questão das drogas. Quando indagado sobre o que os gaúchos pensam sobre as drogas, Leite afirmou que é não é muito diferente do resto do Brasil, onde há aprovação para uso medicinal, mas existe ainda preconceito para o uso recreativo. Disse ainda que há muitos medos sobre isso e pouco esclarecimento, por isso é preciso promover o debate para formar consciência. Em tempo: o Flow tem um perfil jovem, um tanto debochado e o assunto é de interesse da casa. O próprio Monark se declara “maconheiro máximo”.

Então vem a razão das piadinhas sobre Pelotas. Leite sustentou a velha história sobre os filhos de estancieiros ricos produtores de charque que voltavam dos estudos na Europa como modos requintados. Em meio à habitantes rudes em pleno século XIX, criou-se assim a fama que todos nós conhecemos.

 

Leite em momento descontraído da entrevista, falando sobre Pelotas.

O assunto “governador gay” foi abordado em diversos momentos, com detalhes íntimos (1:44:00) sobre descobrimentos pessoais e namorados, a relação com movimento gay e a defesa de ideias de grupos organizados. Leite generaliza quanto à defesa de agendas, dando a entender que não levanta bandeiras de movimentos, mas seus governos defendem minorias. Citou ações governamentais como a adaptação de banheiros (já falamos aqui).

“A agenda estará presente, como sempre esteve, quando fui prefeito, sendo governador, e, se tiver oportunidade de ser presidente, também. Mas não é só a agenda LGBT, é a agenda da igualdade, de mulheres, de homens, trans, gays, negros, brancos, índios. A gente precisa fazer este país avançar do ponto de vista civilizatório”.

Eu fui muito sincero na campanha

Sobre o funcionalismo – especialmente no caso dos professores – Leite declarou que “foi muito sincero na campanha, não tem como resolver uma situação dramática nas contas com soluções simpáticas ”. Espantado, o apresentador pergunta “tu falou isso na campanha e ganhou?”. Sim, pode consultar, diz o então candidato que prometia para senhoras de idade em vídeo que pagaria o salário em dia no primeiro ano de governo.

Eduardo Leite Presidente

O governador, ainda que levemente comedido neste momento, quer ser candidato enfrentando Dória e outros grandes nomes do PSDB nas prévias (dias depois desta entrevista, Tasso Jereissati abandonaria a corrida interna para abrir apoio a Eduardo). O cenário mostrado na entrevista coloca a possibilidade do nosso governador ser o candidato tucano para enfrentar Bolsonaro em 2022. No conjunto de propostas, luta contra desigualdade social, defesa de crianças, desburocratização, reforma tributária e transparência.

Críticas ao presidente Bolsonaro

Em vários momentos, entre uma conversa e outra, Bolsonaro é considerado divisor, despreparado, antidemocrático, burro (em outras palavras) e agente que ajudou a desequilibrar a economia e aumentar o “preço do gás da Dona Maria”.

Outros destaques

Leite continua celebrando bons números da segurança pública, com diminuição de vários índices nos últimos anos e jogando na conta unicamente de suas boas ações, sem considerar o período de pandemia.

Há uma ambiguidade constante nas narrativas da entrevista: algo é importante para um governante, minutos depois é considerado menor – frente aos outros problemas mais imediatos – e um pouco mais tarde é novamente relevante. Isso fica bem claro na questão das agendas progressistas e identitárias.

Muita coisa ainda vai rolar

A linha “nem Lula nem Bolsonaro” dá o tom no embate pré-eleitoral na já bem estudada estratégia do nosso governador. Leite não quer conflito, focando nos problemas reais do país e tentando convencer o eleitor “centro-direita pra cima” de que ele próprio não será um problema. Se do lado de lá existe a queima controlada de capital político ao discutir temas e propor soluções, do lado do eleitor mais preocupado existe o temor pela queima de capital moral. O que você aceitaria perder para ganhar um país melhor? Este sim, o xis da questão no pleito de 2022, para todos os lados.

Foi um bom programa, dentro da proposta do Flow, obviamente. Até meados da tarde de quarta, 29, o vídeo contava com 458 mil visualizações, 29 mil likes e 2,2 mil “dislikes”. Para comparar, outros convidados que por lá passaram estão assim: João Amoedo (372 mil), João Dória (971 mil) e Ciro Gomes (2,6 milhões, transmitido três meses atrás).

Eduardo Leite no Flow – o destaque dado pela equipe do governador para algumas falas

É interessante acompanhar os temas filtrados e destacados pelas equipes das redes sociais do governador. Das três horas de entrevista, estes foram os pontos publicados no Twitter, durante o evento:

“Espero vocês logo mais, às 20h, no Flow Podcast, para uma conversa descontraída e profunda sobre política, vida, ideais, sonhos, futuro, ideias para um Brasil mais justo e igual e transformações que estamos fazendo no Rio Grande do Sul.”

“Não se faz política pública no improviso. No Brasil é assim. Alguém pergunta ‘por que isso é feito desse jeito?’. A resposta é: ‘porque sempre foi assim’. Precisamos de dados e tecnologia para resolver os problemas, não de jeitinho.”

“Política não pode ser feita só pelo desejo pessoal. Não estou na política pelo que ela pode fazer para mim, mas pelo que ela pode fazer para os outros. E se é pra fazer uma politica do contra, que seja contra a inflação e o desemprego.”

“Num país que tem uma desigualdade brutal, combatê-la e gerar oportunidades é obrigação de um governo. No fim das contas, o que o brasileiro quer é trabalhar e ser feliz.”

“No Brasil, 17 milhões de pessoas vivem com menos de R$ 460. Há mecanismos de proteção para os adultos, mas não para as crianças. Falta dinheiro para comida e também para a compra de material escolar. O combate à pobreza infantil é uma necessidade.”

“A gente é criado num mundo que nos faz acreditar que ser gay é errado. Acredito que a pessoa tem que ser quem ela quiser, isso não interfere na vida dos outros. Não sou melhor por ser gay, mas não aceito que seja colocado como pior.”

“O Brasil não precisa de um terceiro polo de radicalização. Não quero fazer uma campanha contra o Lula ou Bolsonaro, mas a favor do Brasil. Quero falar das soluções que temos para o Brasil. Ir em frente pelas nossas qualidades e não pelos defeitos dos outros.”

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