Há muito as HQ’s perdem espaço com propostas superficiais, como a lacração por inclusão e discussão de gênero. Tornam seu enredo cansativo e irritante, demonstrando a hipocrisia tanto da editora quanto dos críticos.
Para os aficionados por histórias em quadrinhos (HQ’s), o nome Joe Kent é bastante conhecido. Para aqueles que não acompanham esse universo tão de perto, Joe Kent é nada mais nada menos que filho de Kal El (o Clark Kent – Superman). Dois fatos relevantes sobre Joe: (a) ele herdou a capa vermelha, ou seja, agora nas HQ’s ele é o Superman; (b) em novembro, assumirá um relacionamento bissexual.
É certo que, para a maioria das pessoas, isso não significa nada. A opção sexual é um direito de qualquer pessoa – até mesmo dos personagens de ficção. De qualquer forma, o que decepciona é a reiterada necessidade da “lacração” – como dizemos – das editoras de HQ’s, procurando publicidade engajada sobre polêmicas e não no valor intelectual do produto. Não parece razoável pensar que, noutros tempos, os fãs adquiriam as histórias para ver Clark Kent beijar Lois Lane, tampouco para saber detalhes do casamento de Tony Stark. Também não parece razoável pensar que a atual geração de jovens busque gibis do Homem-Aranha para saber se ficará com a Mary Jane – parece mais provável que queiram vê-lo derrotar o Venon, o Duende Verrde, o Abutre, etc.
Romances nas HQ’s nunca (ou muito raramente) fizeram sucesso, a não ser que deles algo importante para o universo dos quadrinhos acontecesse. Poucos se interessaram pela paixão de Talia por Bruce, mas todos gostam de acompanhar o que o filho do Cavaleiro das Trevas com ela, o jovem Damian Wayne, apronta como novo Robin (inclusive matando Dick Grayson, o Robin original).
É de se pensar que, talvez, a criatividade esteja em baixa nesse universo de super-heróis, por isso que as editoras acabem apostando em temática social, inclusão e outras formas de lacrar. Qual é o sentido, afinal, de trazer à tona, justamente nestes tempos, debates sobre a opção sexual dos personagens? Há muito as HQ’s perdem espaço com propostas superficiais, como a lacração por inclusão e discussão de gênero. Tornam seu enredo cansativo e irritante, demonstrando a hipocrisia tanto da editora quanto dos críticos.
Ignoram que o retorno de He-Man na Netflix, o qual desde seu trailer chamou a atenção pela semelhança com o foco original da série, pela pancadaria, sangue, efeitos e pela trilha sonora nada convencional para os jovens de hoje, mas que causou arrepios nos fãs quarentões da série com a música “Holding out for a hero”, de Bonnie Tyler. O sucesso está no que sempre agradou. Tentar mudar o foco remete ao fracasso instantâneo, como visto no remake de She-Ra, com temática juvenil, lacração e superficialidade.
Leitores, fãs ou casuais procuram no novo Superman o que viam nos seus pais, alguém que lute pela justiça, promova os valores certos, não importando o que faz nos períodos de folga. Talvez uma boa dica para a DC Comics é manter Joe na luta contra inimigos do mundo, ameaças nucleares, tóxicas, extraterrestres, socar e chutar inimigos fazendo-os sangrar, aliando-se aos bons. Seria horrível vê-lo perseguindo quem postou algo ofensivo sobre seu namorado no Twitter.
É embaraçoso ver jovens idolatrando o Pantera Negra por ser um herói negro. Um herói do país fictício Wakanda, localizado numa posição geográfica onde, na realidade, tribos ainda são perseguidas e escravizadas na África Central. Um herói vindo da realeza com sangue azul que representa os pobres negros favelados? Um herói de uma nação nada inclusiva, que somente permitiu ao Buck (Soldado Invernal) morar numa casa isolada por ser estrangeiro e branco? Orgulho para os negros por ter sido criada na cabeça de dois quadrinistas brancos – Kirby e Stan Lee?
Mais inclusiva então é Asgard, a terra nórdica do Thor, que nos filmes tem pessoas de todas etnias, mesmo historicamente sendo uma terrra do panteão escandinavo, onde só deveriam ter habitantes brancos na maioria loiros.
E que tal a terra das amazonas da Diana, a Mulher Maravilha, onde se isolaram dos homens? É de se imaginar, na próxima temporada, sendo escolhida dentre as novas guerreiras uma transexual, que ganhará nas provas graças à testosterona que acompanhou-a durante a juventude, como já temos exemplos nos dias atuais.
Pior ainda a cena feminista – e talvez a única dispensável – no filme “Vingadores Ultimato”, a ceninha do “time das meninas”, na qual ridiculamente, durante alguns minutos, apenas heroínas se intercalaram para enfrentar o Thanos, algo impensável numa guerra, ao abandonar as linhas onde todos os heróis lutam em conjunto para provar algo politicamente correto – mesmo que signifique o fim do universo.
Não, ninguém quer esse tipo de discussões. O público quer é ver o Batman surpreendendo o Coringa, o Thor chegando em Wakanda e clamando pelo Thanos, a Capitã Marvel entrando na atmosfera e destruindo toda a nau capitania da invasão, a Arlequina com o sorriso macabro estrangulando o vilão com as pernas. Melhor é que o filho do Clark se preocupe em evitar a criptonita, chegar voando para salvar os inocentes – isto já está de bom tamanho.