Seu voto tem o poder para mudar o país. Antes, muda radicalmente a vida dos escolhidos para ocupar cargos políticos, um problema sério em nossa realidade
Estamos em ano de eleição. O debate político está começando a “aquecer”; por enquanto, focado principalmente na disputa pela Presidência e nos prováveis concorrentes de Bolsonaro e Lula.
Para os gaúchos, o negócio é mais complexo. Existe a possibilidade de Eduardo Leite disputar a Presidência por outro partido (especula-se no momento o PSD de Kassab).
Cuidado com o seu voto para Deputado Federal em 2022 (e sempre)
Nosso assunto aqui é “mais embaixo”: lembrar o leitor sobre a importância do voto em bons candidatos para deputado federal.
São 31 gaúchos que vão para Brasília discutir os rumos do país, com ótimo salário, uma incrível verba para gastos extras e o poder até para contratar pessoas para trabalharem nos estados de origem, os famosos “assessores”, onde verdadeiros feudos de poder são montados nestes locais, que muitas vezes são confundidos com sedes de partidos. Tudo financiado por dinheiro público, obviamente.
Número de deputados por estado: 31 dos 513 deputados federais representam o Rio Grande do Sul. Fonte: Senado Federal.
A dança do acasalamento político começa aqui
A eleição para a Câmara Federal acontece bem no meio das legislaturas municipais. Muitos vereadores ainda nem mostraram “a que vieram” e já sonham em disputar uma vaga na Assembleia Legislativa, pelo cálculo de alguma chance real ou simplesmente para aproveitar os recursos disponíveis para colocar o nome na rua durante meses em panfletos, na internet e na TV, a fim de fortalecer a “marca”. Raramente vereadores tentam dar o pulo direto para Brasília.
O cálculo político para colocar um candidato na eleição, nos partidos médios e grandes, é complexo. De vereador para deputado federal? Segura a onda!
É aí que entra um dos primeiros suportes para a eleição de um deputado federal: a dobradinha. Ela pode ser feita com um candidato estreante, um atual ou ex-prefeito, ou vereador recentemente derrotado, ou um deputado estadual que tenta a reeleição.
O eleitorado verá os dois na campanha, ombro a ombro, em um “se você me conhece, vote também no fulano. Eu garanto”. Adicione aí políticos do passado tentando algum sucesso baseado no legado.
Claro que existe gente séria, mas uma parcela está nessa só pela promoção mesmo, ou para exercer o papel de cabo eleitoral de luxo. E os famosos outsiders – gente que nunca foi da política – são poucos.
O fator presidencial
Nas últimas eleições, alguns candidatos que fizeram campanha abertamente ligados ao então candidato Bolsonaro tiveram um sucesso inédito nas urnas, sacudindo as estruturas da política nos estados e deixando muita gente longe de Brasília ou Porto Alegre. Será interessante observar a manutenção ou o declínio deste sucesso, nas tentativas de reeleição em 2022.
As benesses
O salário de um deputado federal é de R$ 33.763,00 (se comparecer em todas as sessões deliberativas), além de moradia – ocupando um imóvel funcional ou recebendo um vale mensal de R$ 4.253,00. Há uma verba de gabinete de R$ 111 mil por mês para o deputado gastar com a contratação de até 25 secretários parlamentares, ganhando entre R$ 1 mil e R$ 15 mil.
Acabou? Ainda não. Existe a Cota Parlamentar, um valor que o deputado pode gastar com passagens aéreas e outros itens. Para um deputado federal do Rio Grande do Sul, a cota mensal é de R$ 40 mil. Não esqueçam também as diárias nas viagens em missão oficial, de R$ 525 dentro do Brasil e US$ 428,00 para o exterior (exceto América do Sul, que vale US$ 391,00). Confira todos os benefícios, aqui.
Os deputados federais eleitos pelo Rio Grande do Sul em 2018: 17 deles fizeram mais de cem mil votos. É uma campanha dura para a maioria, exigindo complicados arranjos locais nos municípios. Fonte: TRE-RS.
Depois que votou, já era
Sobram histórias de eleitores que se arrependeram dos votos em eleições passadas – e não adianta chorar pelo leite derramado. Antes de cometer um malfeito digno de cassação de mandato, um deputado pode fazer coisas completamente contrárias ao discurso eleitoral. Prometer austeridade nos gastos públicos e torrar dinheiro em diárias é uma, só para começar. Não criar um único projeto de lei digno do salário que ganha durante o mandato é outra. Ele vai ficar lá ganhando e dando poder para o seu grupo e você em casa chorando as pitangas.
O brasileiro tem uma tendência muito forte ao paternalismo presidencial, esperando que todas as soluções para os males do país venham da figura do presidente. O outro poder é negligenciado pelo eleitor e qualquer um com sorriso bonito, campanha cara e sucesso eleitoral no passado já vai ganhando o voto. Está mais do que na hora de mudar este quadro, ou tudo continuará a ser como antes.
Sucesso eleitoral não é sinônimo de sucesso político, não esqueçam. Os caminhos que levam um candidato à vitória não passam pela comprovação de competência. Eleição não é concurso público.
Bônus: Cinco perguntas para um candidato a deputado federal
Se uma comitiva eleitoral cruzar a sua vida nos próximos meses, não economize na curiosidade e despache logo estas perguntas, preferencialmente em público e com o celular gravando a cena em vídeo para a posteridade:
Qual é o salário de um deputado federal?
Qual foi o orçamento do governo federal para 2022?
Você usa fundo partidário para pagar a campanha? Concorda com o fundão?
O candidato a deputado estadual da sua dobradinha é uma pessoa capacitada?
Qual é o maior problema do Rio Grande do Sul no cenário nacional e o que você pretende fazer para mudar a situação?