As restrições impostas ao público que consome carnaval de rua servirão de reflexão sobre o papel do governo na vida das pessoas?
Como já comentamos aqui, a prefeitura de Passo Fundo cancelou o carnaval de rua deste ano, por questões sanitárias. A festa, que tanto foi usada pelo marketing no início da administração de Luciano Azevedo, hoje virou apenas uma lembrança – literalmente – daqueles que vivem dentro do ecossistema do samba passo-fundense.
“Como alternativa ao evento, a Secretaria de Cultura está projetando ações menores em alguns pontos da cidade, apenas com performances de escolas de dança e artistas, para lembrar que o Carnaval é uma importante festa popular.”
Parte da declaração oficial da Prefeitura de Passo Fundo sobre o cancelamento, disponível aqui.
Com a chegada da data oficial do Carnaval no Brasil, o que se viu em Passo Fundo foi muita festa, mas em ambientes fechados e com gente curtindo em casas noturnas ou espaços alugados. Observando estes eventos, é possível estimar que o risco sanitário destas aglomerações é similar ao provocado por um possível carnaval de rua ou por aquele evento de consolação no Parque da Gare, realizado em outros anos.
Não há problema no carnaval privado, e podemos ir além: a movimentação de pessoas em festas neste final de semana é muito parecida com o já observado na recente temporada de formaturas e na vida noturna da cidade por estes dias.
Carnaval Popular de Passo Fundo, em reportagem da UPF TV, em 2018. Hoje, tal aglomeração seria mais perigosa para a saúde se comparada com, bem, qualquer coisa realizada em nossa vida noturna.
O cancelamento do Carnaval Popular da Gare foi vendido pela Prefeitura com enorme sinalização de virtude, pelo bem de todos. O procedimento cheira a traição, com uma significativa parcela da população dividida entre quem faz e quem consome o evento. Quantos políticos foram captar votos nestes círculos nas últimas campanhas? Até mesmo o grupo que está no poder no paço municipal, com certeza.
Sem importar o lado escolhido pelo leitor quando o assunto é pandemia, há que se convir que decisões sem lógica comprometem a confiança do povo no “sistema” que deveria ser o responsável pela condução da comunidade em momentos de crise. Mais um motivo para algumas cabeças serem abertas quanto ao relacionamento com políticos e dependência dos mesmos.
No Carnaval de Passo Fundo, só os libertários (não confundir com libertinos!) são felizes. Sorriso de ponta a ponta, com um enorme “eu avisei” estampado no rosto.