O uso da bandeira do Brasil por parte de uma facção política não é a adoção de um símbolo, é justamente o contrário: a renúncia a todos eles
A juíza Ana Lúcia Todeschini Martinez, titular do cartório eleitoral de Santo Antônio das Missões, no Rio Grande do Sul, disse em entrevista para a rádio Fronteira Missões que o uso da bandeira nacional na campanha de 2022 vai configurar propaganda eleitoral. O entendimento foi colocado em reunião com partidos políticos da cidade, para orientações legais sobre as eleições.
A informação ganhou destaque em vários sites nacionais e gerou resposta do presidente. Através das redes sociais, Bolsonaro disse:
“É absurdo querer proibir o uso da bandeira do Brasil sob justificativa eleitoral. Não tenho culpa se resgatamos os valores e símbolos nacionais que a esquerda abandonou para dar lugar a bandeiras vermelhas, a internacional socialista e pautas como aborto e liberação de drogas.”
É notório que os apoiadores de Bolsonaro usam e abusam do verde e amarelo nas manifestações e nunca adotaram uma bandeira específica de agremiação partidária ou movimento político nacional ou internacional. Já houve caso – lá no início – de um gato pingado aqui e ali portando uma bandeira de Gadsden, mas nada significativo e essa época já passou. Até o uso das bandeiras do PL é raro nas manifestações.
Bolsonaro verde e amarelo: a cor atribuída ao presidente do Brasil ganhou até as praias do país em forma de toalhas.
Este nacionalismo (tem gente que chama de nacional-populismo) renunciou a todos os símbolos e se abraçou na bandeira nacional mais por necessidade do que por estratégia. Bolsonaro nunca foi muito apegado a partidos e nem faz parte hoje da sigla pela qual foi eleito. Saiu o 17 do PSL e entrou o 22 do PL. Pelo caminho, a tentativa frustrada de fundar o Aliança.
Mesmo assim, não há como vedar o uso da bandeira nacional durante uma campanha eleitoral, por conta da afeição de um grupo ao que é de todos. Petistas e tucanos podem (e o fazem) abraçar a bandeira, ninguém os impede. Seria também uma insanidade considerar que essas forças antagônicas ao bolsonarismo estariam traindo aos seus se tocassem no pano verde. No meio deste tiroteio, o cidadão comum não pode ser privado de pendurar a bandeira do seu país na sacada no dia da eleição. O orgulho pode significar o próprio processo eleitoral e não candidato A ou B.
Se a bandeira brasileira é de todos, outros símbolos nem tanto. Seja a bandeira de Cuba que decorou o Palácio Piratini no primeiro governo petista do Rio Grande do Sul (1999) até a bandeira LGBT ou a do MST, todos sabem que são marcas indissociáveis da esquerda mundial, e seu expoente candidato é o Lula. A juíza gaúcha precisa proibir outros símbolos. Questão de justiça, isonomia, sem trocadilho.
PS. Para quem quiser ouvir a entrevista da juíza (que nem a rádio tem), o site Diário do Poder postou uma cópia em seu canal no SoundCloud.