Eleições 2022

Em Passo Fundo, o candidato a deputado federal mais rico também é o que mais recebe dinheiro do Fundão

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Alguns defensores do Fundão dizem que o dinheiro “financia a democracia”. Na prática, não é bem assim

O dinheiro do Fundo Especial de Financiamento de Campanha, mais conhecido pela alcunha “Fundão”, nada mais é do que dinheiro público oriundo dos impostos indo parar na mão de políticos para financiar campanhas. E para as eleições de 2022, foram reservados cerca de R$ 4,9 bilhões para a prática, fora outra fonte similar, o Fundo Partidário, que é de quase 1 bilhão.

Em Passo Fundo, Luciano Azevedo, candidato a deputado federal pelo PSD, é o político que mais recebeu verbas do Fundão até o momento. Com um depósito de R$ 810 mil do doador “Direção Nacional – Partido Social Democrático”, CNPJ 13.629.827/0001-00 e fonte “Fundo Especial”, Luciano arrecadou mais que a soma de todos os outros concorrentes locais.

Luciano Azevedo também é o mais rico entre os candidatos por Passo Fundo, com patrimônio declarado para o TSE de R$3.396.750,63. No outro extremo da lista estão Claudete Neves (PSDB), Ingra (PSOL), Jose Monteiro (PSC) e Vivi da Saúde (PP), sem bens declarados.

Os principais candidatos do PSD a deputado federal no Rio Grande do Sul: o partido mandou R$ 810 mil para cada um. 

Entre os extremos – ainda com dados da Justiça Eleitoral – estão Badaco (Avante) com R$ 939 mil, Kujawa (PT) com R$ 163 mil, Lu Borowsky (UB) com R$ 108 mil, Ada Munaretto (PL) com R$ 71 mil, César (PDT) com R$ 12 mil e Iriel Sachet (Podemos) com R$ 370,00. Os valores foram arredondados, retirados do DivulgaCand em 12 de setembro.

Defensores do Fundão

A candidata à Presidência da República Soraya Thronicke é um ótimo exemplo de argumento “ainda é necessário, pois financia a democracia”. Em seu duelo com Felipe D’ávila (Novo) no debate da Band do último dia 28 de agosto, quando indagada sobre a excrescência do Fundão, respondeu:

“Candidato, nem todos têm o patrimônio que o senhor tem, e que muitos doadores da campanha de vocês têm, pra tocar uma campanha que é cara, muito cara. Se nós não tivéssemos o Fundo Eleitoral pra financiar a democracia, nós nunca, principalmente nós, mulheres, jamais teríamos acesso à política”.

 

Se Thronicke conhecesse Passo Fundo, veria que a nossa “democracia” eleitoral é qualquer coisa menos algo financiável com dinheiro público.

Mas e aí? Dá pra assumir a campanha sozinho?

Sim. Há um limite imposto por Lei para um candidato financiar com recursos próprios a campanha eleitoral. O valor é de 10% do teto de gastos para o cargo, definido pelo TSE. O limite legal de gastos para deputado federal em 2022 é de R$3.176.572,53. Sendo assim, dá para tirar da conta mais de R$ 300 mil e sair comprando bandeiras. Em alguns casos, mesmo quem tem posses prefere pegar dinheiro público para financiar a campanha, evitando colocar o patrimônio em risco.

O Fundão e o custo moral

 

Há quem use o Fundo no modo Thronicke, sem culpa, mas outros candidatos até bradam diminuição do Estado e menos impostos, mas recebem o dinheirinho com uma aversão anódina: eu não queria, mas o partido ou as realidades do nosso tempo obrigam. Talvez o modo Kogos seja mais honesto: o libertário ancap, de família rica e candidato a deputado estadual em São Paulo pelo PTB, Paulo Kogos já pegou R$ 125 mil de dinheiro público para financiar a campanha. Dizem que ele fala abertamente que é para acabar com o sistema usando o próprio sistema, uma sandice juvenil que parece mais séria que a nossa realidade sobre o Fundão.

 

 

 

 

 

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