Documentos enviados ao TSE dão o tom sobre o que pensam para o futuro do Rio Grande do Sul os principais concorrentes ao cargo de governador
Item obrigatório, o Plano de Governo acompanha o registro dos candidatos ao cargo de governador e fica disponível no site DivulgaCand para informação dos eleitores.
Vamos fazer uma pequena review dos planos dos principais candidatos, poupando o leitor da tarefa. Os links para cada documento estão em anexo.
Edegar Pretto (PT)
O Plano de Governo da “Frente da Esperança” tem o título de “Com a Força da Palavra pra Vencer com o Coração” e tem, obviamente, uma retórica alinhada ao plano petista nacional e seu discurso sobre os principais tópicos sociais, políticos e econômicos, além de fazer um apanhado e promessa de retomada de ações durante os últimos governos petistas por aqui.
Os “Sete Eixos” do plano são: Trabalho, Emprego, Solidariedade e Oportunidades; Inovação, Sustentabilidade e Retomada do Desenvolvimento; Agropecuária e Desenvolvimento Agrário e Rural; Justiça Social e Pão na Mesa; Paz, Equidade e Igualdade; Políticas Transversais e Governo de Todas e Todos e Para todas e Todos.
O documento petista tem 36 páginas e uma apresentação simples, com arte de capa usando a bandeira do Rio Grande do Sul e cabeçalhos dos tópicos com bandeirinhas. A estrela petista não aparece.
Os tucanos (e o vice do MDB) se apresentam com o mote “Crescer Juntos” e colocam já na apresentação o indefectível “Para Melhorar a Vida das Pessoas”, sucesso – incluindo algumas variantes – nesta eleição em todo tipo de agremiação partidária. O discurso é fácil: elencar os feitos de Leite e Ranolfo e pedir para continuar mais quatro anos. Os cinco eixos do plano são: “Social e Qualidade de Vida”, “Ambiental e de Infraestrutura”, “Econômico”, “Gestão” e “Fiscal”, contendo cada um uma ou mais “diretrizes”.
O documento de 112 páginas dos tucanos é de longe o apresentado com maior qualidade entre os candidatos, com bons gráficos e clareza nas informações.
A Proposta de Plano de Governo de Onyx Lorenzoni tem o título “Para Defender e Transformar o Rio Grande – A Escolha Pela Transformação do Rio Grande”, destacando que é transparente, responsável e eficiente. Já na segunda página, o texto traz no rodapé o versículo repetidas vezes mencionado pelo presidente Bolsonaro: “E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32).
O plano é centrado em críticas ao governo Eduardo Leite, clamor por liberdade e transparência e menciona tópicos na área de Gestão, Responsabilidade Fiscal, Saúde, Habitação, Assistência Social, Educação, Segurança Pública, Desenvolvimento Econômico, Geração de Emprego e Renda, Melhoria do Ambiente de Negócios e Atratividade para Empresas, Inovação e Tecnologia, Agricultura, Infraestrutura e Turismo.
O documento enviado pelo partido é de baixa qualidade (exportado como imagem) e apresentação confusa. Ao conferir o documento no site do candidato, encontramos uma versão melhorada do visual, mas repleta de erros de ortografia que não estão presentes no publicado pelo TSE.
Heinze diz no seu “Para Fazer Acontecer” que começou a elaborar o seu plano ainda em 2021, ouvindo mais de 4 mil pessoas. São 194 propostas em 11 áreas: Agricultura, Cultura, Esporte e Desenvolvimento Social, Desenvolvimento Econômico e Inovação, Educação, Finanças, Governança e Gestão, Infraestrutura, Meio Ambiente, Municipalismo e Desenvolvimento Regional, SAúde, Segurança Pública e Turismo.
São 40 páginas e a qualidade da apresentação é boa. O conteúdo é um tanto “espartano”, já que algumas propostas não possuem mais do que duas linhas em uma folha com duas colunas.
Os dez candidatos ao governo gaúcho e seus Planos de Governo.
Quem não é capaz de apresentar um plano de governo de forma decente, tem capacidade para governar?
Se fosse na iniciativa privada, a chance de conseguir um emprego de executivo apresentando documentos do naipe de alguns aqui publicados seria mínima. Na política, o sistema permite que o candidato dê pouca atenção à forma e ao conteúdo do projeto que tentará comandar um estado com orçamento de R$ 50 bilhões (2022).
Menções honrosas, ou não
Entre os dez candidatos, focamos nos quatro que apresentam melhor desempenho nas pesquisas, mas há pontos a ponderar em outros. O candidato do Novo, Ricardo Jobim, é conhecido por fazer boas colocações sobre economia e gestão e denunciar o governo Leite, sempre com uma proposta liberal. Saindo desta esfera, o projeto de Jobim causa espanto ao dedicar parágrafos a temas típicos de esquerda na área de diversidade e inclusão. Já a turma da extrema-esquerda não decepciona: fim do capitalismo, estatização e até incursões “estaduais” no código penal estão presentes nas cabeças pensantes do PCB ou do PSTU. No futuro, alguém poderia criar uma espécie de Ficha Suja para quem sai da realidade, evitando estes constrangimentos ao cidadão minimamente interessado no processo eleitoral.
O segundo turno das eleições brasileiras foi motivo de festa para tucanos e petistas, mais próximos do que nunca
Já podemos apelidar de domingo vermelho o segundo turno das eleições para os gaúchos que serão governados de Brasília por Lula e de Porto Alegre por Eduardo Leite. Para Lula, um retorno triunfal “da cadeia para o Palácio” enquanto Leite faz a volta dos que não foram, oriundo de uma renúncia que – palavras dele – não quer dizer reeleição.
Com 99,99% das urnas apuradas, Lula tinha ao final da noite 50,90% dos votos válidos, contra 49,10% de Bolsonaro (60.340.930 contra 58.203.420). Os estados do Norte e Nordeste preferiram na maioria Lula.
O bolsonarismo apostou pesado nos benefícios financeiros pós-pandemia, pauta de costumes e lembretes permanentes da condição de ex-presidiário e ladrão do oponente, que se defendeu (quando quis) com a pauta pandemia, pobreza, fome e até armas, questão fortalecida sempre que algum evento na área acontecia do outro lado.
O caso Onyx Lorenzoni foi, de certa forma, surpreendente. Um homem que passou boa parte da carreira política batendo no PT com maestria e escreveu livros sobre o que chamou de “Máfia da Estrela”, quando teve a chance de chegar ao poder mostrou um desempenho pífio nos debates, virou meme e viu seu potencial político despencar a cada duelo. Não foi o fantasma do Caixa 2, foi a escolha incorreta de uma persona que pensou bastar ser o homem de Bolsonaro no Rio Grande e desprezar o oponente com todas as forças.
Tucanos e petistas, mais próximos do que nunca
Imagina contar para alguém da direita em 2014 que Lula seria candidato em 2022 com Alckmin de vice (via PSB) e apoio do FHC? Esta pessoa seria motivo de piada. Este frentão da esquerda ajudou e endossou Lula, deixando a divertida e hercúlea tarefa da desvinculação a qualquer custo para os políticos que ainda fazem parte destas siglas e tentam dialogar com o eleitor pela via – muita licença poética aqui – da direita.
FHC deveria pedir voto para Bolsonaro? Não. Mas o silêncio também é uma escolha.
Acima: recorte das postagens do Portal Uai e do Brasil de Fato: FHC gravou vídeo pedindo voto para Lula no segundo turno. Para melhorar a vida das pessoas (sim, você já ouviu isso em algum lugar).
Os números em Passo Fundo
Não deu Lule em Passo Fundo. Abaixo, os números para governador e presidente no primeiro e segundo turno das eleições de 2022, printados para você não perder tempo nos links do Resultados TSE:
Acima: Primeiro e segundo turno para governador. Leite virou tirando mais de 30 mil votos do saldo entre os derrotados no primeiro turno, especialmente petistas. Onyx levou Heinze e algo mais.
Bolsonaro ganhou nos dois turnos em Passo Fundo. Com 58 mil no primeiro e 66 mil no segundo, abocanhou uma parte bem maior do saldo, já que Lula foi de 49 mil para 51 mil.
O petismo em Passo Fundo não é desprezível
Os estrategistas políticos de Passo Fundo vão debruçar os braços sobre esta quantidade considerável de votos petistas na cidade. Petistas vão acordar da ressaca do domingo vermelho e olhar com carinho – quem sabe – para a companheira Eva Lorenzato, sonhando com 2024. Já o Bolsonarismo local vai ganhar um Lula para ser xingado durante mais 4 anos, motivo de afinação das retóricas de tribuna de Rodinei Candeia e Ada Munaretto, entre outros.
Novo documento do PT revela 13 propostas para inclusão digital e temas tecnológicos caso vença as eleições
Propostas de candidatos geralmente são publicadas com frases genéricas em assuntos mais complexos, como uma Miss dizendo que quer a paz mundial, sem explicar como vamos chegar lá. O PT está fazendo isso com a internet e suas complicações.
No documento “13 propostas de Lula para Transformação Digital com Inclusão Social”, o partido descreve ações para diversos tópicos. São eles
Inclusão Digital e Internet para Todos.
Capacitação Digital (Letramento Digital), Formação do Profissional do Futuro.
Primeiro Emprego em Tecnologias Digitais.
Serviços Públicos Digitais de Qualidade e Acessíveis a Todos.
Industrialização e Empreendedorismo Digital.
Cidades Inteligentes, Inclusivas e Sustentáveis.
Compras Governamentais Para Alavancar Empresas Brasileiras de Tecnologia da Informação e Comunicação.
Empresas Públicas de Tecnologias de Informação Fortalecidas.
Inovação com Base em Tecnologias Abertas, Dados Abertos e Software Livre.
Proteção de Dados de Cidadãos e Empresas Brasileiras Contra Fraudes, Roubos e Transferência Internacional Não Autorizada.
Defesa Cibernética.
Inteligência Artificial com Ética e Transparência.
O olhar socialista sobre o a Tecnologia da Informação segue o roteiro do software livre escolhido por razões muitas vezes puramente ideológicas e certa aversão ao uso livre de soluções, indo contra o que o mercado quer, usa ou precisa. Quem não lembra da época dos computadores Positivo obrigatoriamente com Linux nas escolas brasileiras? As crianças reclamavam muito.
Em tom nacionalista, o partido acredita em altíssima estatização das soluções de TI para proteção de cidadãos e empresas, com provedores públicos, além do dito fomento de soluções de hardware e software. Há também a promessa de fortalecimento das estatais de telecom. A política para a Inteligência Artificial quer tornar o país independente dos interesses das empresas estrangeiras, vejam só.
Lula, que não sabe nem dar o próprio arroba do Instagram em uma live, deve estar recebendo auxílio de assessores e apoiadores com envolvimento em TI, saudosos dos tempos petistas. Em caso de vitória socialista, corra para reservar seu nome de usuário “ponto gov”. Só não esqueça de ler os termos do serviço.
Patussi e Wesp foram os mais votados, mas com gastos eleitorais bem diferentes nas eleições de 2022
A eleição de 2022 foi amarga para os candidatos “de Passo Fundo”. Sem vitórias, conseguiram algumas suplências e voltaram para os comitês de mãos vazias, com boa parte dedicando este período “entre turnos” para apoiar Leite, Onyx, Bolsonaro ou Lula.
As campanhas para deputado estadual dos candidatos passo-fundenses arrecadaram de pessoas físicas ou receberam do fundão e partidos valores entre R$ 42 mil (Claudio Doro, PSC) e R$ 349 mil (Mateus Wesp, PSDB). Ao dividir o total efetivamente gasto nas campanhas pelo número de votos obtidos, obtemos o “custo por voto”, ou quanto dinheiro o candidato precisou gastar para ganhar um único eleitor.
É preciso conferir o gasto efetivo, pois alguns candidatos acabam por devolver dinheiro sem usar todo o valor arrecadado.
Concentramos a análise nos candidatos ditos “de Passo Fundo” que fizeram mais de dez mil votos nas eleições para deputado estadual, com campanhas mais estruturadas. Optamos por unir recursos estimáveis – quando um candidato recebe um serviço ou cedência de algo e contabiliza como dinheiro – e valores monetários declarados para o TSE no total recebido.
Estaduais e o contraste no topo
Os candidatos Marcio Patussi e Mateus Wesp foram os mais votados, com um resultado muito próximo: 23.185 para o primeiro e 21.054 para o segundo. Na afinidade com o eleitorado passo-fundense aparece a primeira grande diferença, com Patussi obtendo 11.901 na cidade (51,33%) e Wesp 7.482 (35,5%). O ex-brizolista e recém liberal venceu o tucano duas vezes.
Quando se fala em dinheiro gasto para fazer campanha eleitoral, a distância entre Wesp e Patussi é gigantesca. Wesp arrecadou quase R$ 350 mil (com gasto de R$ 345 mil), enquanto Patussi atingiu R$ 262 mil na arrecadação (gastando R$ 52 mil). Essa diferença fica bem destacada no cálculo do “custo por voto”, com R$ 16,41 para Wesp e R$ 2,27 para Patussi.
Em tempo: Wesp recebeu R$ 240 mil do Fundão e Patussi R$ 100 mil do Fundo Partidário – mais R$ 85 mil do Fundão, via doação de Giovani Cherini.
Os federais
A Lócus já deu destaque ao arrecadado pelos candidatos a deputado federal “por Passo Fundo” ainda no mês de setembro. A eleição foi finalizada com valores bem superiores em relação ao levantamento, especialmente pela arrecadação do candidato Luciano Azevedo, de R$ 896 mil para R$ 1,4 milhão.
Badaco foi o candidato com o voto mais caro entre os federais. Foram incríveis R$ 75,65 por cada voto, em uma campanha que gastou R$ 102 mil para receber 1.361 votos. Todo esse dinheiro veio através do Fundão.
Acima: os candidatos a deputado federal de Passo Fundo, as arrecadações, as sobras de campanha e o gasto efetivo. Após votação, o custo por voto: Badaco (Avante) R$ 75,65, Lu Borowsky (União Brasil) R$ 63,67, Cesar (PDT) R$ 62,73, Claudete Neves (PSDB) R$ 52,66, Luciano Azevedo (PSD) R$ 18,64, Jose Monteiro (PSC) R$ 17,65, Ada Munaretto(PL) R$ 5,87, Israel Kujawa (PT) R$ 2,95, Vivi da Saúde (PP) R$ 2,82 e Ingra (PSOL) R$ 1,17. A candidata do PSOL, se comparada aos outros abaixo de 10 mil votos, saiu uma pechincha.
Campanha eleitoral é algo muito complexo para os cargos de deputado, uma aventura que exige contatos em diversas cidades do estado. Ainda que muitos abusem do marketing “sou daqui”, é praticamente impossível vencer só com os votos da cidade; além disso, o trabalho exige muita viagem, visitas e acordos com líderes em diversas regiões. A bandeirinha da esquina e o post nas redes sociais são apenas a superfície desta estrutura. Infelizmente, poucos são os capazes para realmente disputarem uma eleição, outros parecem atuar apenas como cabo eleitoral de luxo de outros candidatos ou da legenda do partido, torrando dinheiro – muitas vezes público – para fazer votos por tabela.
Dados
Os números aqui exibidos foram retirados dos sites DivulgaCand e Resultados das Eleições 2022 (Divulga), que por sua vez foram fornecidos pelos candidatos para a Justiça Eleitoral, que julgará cada uma delas. Na lista abaixo, o extrato das prestações de contas dos candidatos ao final desta edição: