A Lócus Online convidou o médico Dr. Guilherme Krahl, cirurgião cardiovascular de Passo Fundo, para escrever sobre suas impressões em relação às medidas tomadas para enfrentamento do Covid-19
Um professor de matemática já dizia que a álgebra é uma ciência exata, e a epidemiologia também, porém nesta a análise de dados pode facilmente ser usada para enganar os incautos. No português, o universo continua sendo o mesmo, se proibirmos proparoxítonas de levarem acentos. Na cabeça do bom analista, os números (desde que não manipulados) sempre expressarão a verdade. Os números da Covid já estão aí e análises já podem ser feitas para determinar, confirmando ou não, se o apocalipse viral ocorrerá.
Passamos a analisar os dados de Passo Fundo. A coleta dos dados que serão discutidos iniciou-se em 24 de abril, quando, nesta cidade, havia 79 casos diagnosticados, sendo que 62 estavam internados e já com 6 óbitos confirmados. Aterrador é pensar que quase todos estavam mortos ou internados. Setenta e poucos dias se passaram e, em 06 de julho, nesta mesma cidade, temos 80 internados (37 em CTIs), 47 óbitos e 2.094 casos confirmados com 1.743 pessoas recuperadas e um quadro muito mais animador: a mortalidade, que rondava 7,5 por cento, hoje fica abaixo de 2,3% – menos de 5% encontram-se internados.
Porém, os arautos da desgraça comentarão o aumento expressivo no número de casos. Há de se lembrar que números impressionantes temos de infecções por HPV, citomegalovírus, herpes simples, varicela, e tantos outros, nem por isso estamos rasgando roupas, arrancando cabelos ou pior, se escondendo em casa e saindo na rua com escafandros. Qualquer virose, em especial uma nova, tem um poder de disseminação extremamente alto, pois encontra facilmente hospedeiros não imunes (sem vacina ou contato prévio com a moléstia), fazendo sim com que o aumento do número de casos aconteça em progressão geométrica – e isto não é nenhum bicho de sete cabeças.
Na matemática do ensino médio, aprendemos que incrementos se comportam preponderantemente através de linearidade ou exponencialidade (progressões aritméticas e geométricas). Na aritmética, o aumento é constante. Um exemplo: a cada dia, realizamos em Passo Fundo 2 cirurgias; no final de um mês (trabalhando no mesmo ritmo sábados e domingos), realizar-se-iam 60 procedimentos; em dois meses, 120; e em um ano, 730. Num gráfico o comportamento seria uma linha reta.
No coronavírus, o comportamento é de expansão geométrica: a cada 14 dias víamos dobrar o número de casos, isto ainda no início do ano em vários outros países ou em Passo Fundo, nas primeiras 8 semanas. A partir desses dados, projetar-se-iam casos que, a cada mês, quadruplicariam e, no final de 2 meses, iniciando com 100 caso numa cidade hipotética, teríamos 1.600 casos e, em 4 meses, 25.600. O gráfico mostraria uma curva. E então? Fique em casa? Quando ficamos em casa, tínhamos ao final da quarentena um fator (o número que multiplicamos a cada 14 dias) em torno de 2. Após 6 semanas, sem a quarentena, Passo Fundo apresenta um fator em torno de 1,45. Ou seja, ficando em casa não, desacelerou a curva, tampouco retomando o comércio piorou. Na verdade, foi inútil, e os números não mentem: a tendência será sim de aumento do número total de casos (claro é impossível diminuir quem já pegou muito menos quem já morreu, a curva sempre cresce), e cada vez mais a aceleração diminuirá, pois o vírus (o tão temido lobo-mau) começa “a soprar em casas de tijolos”, ou seja, tenta se espalhar entre alguns que já estão imunes e que não irão mais transmiti-lo.
Imagina-se que no mundo haja 5 casos assintomáticos para cada caso sintomático diagnosticado, o que faz supor que Passo Fundo tenha algo no momento em torno de 10 a 12 mil casos no total. Este número não contempla as crianças, que quase todas são assintomáticas e raramente testadas, podendo ainda gerar um número expressivamente maior de subnotificados.
Noventa e oito por cento da população mundial que se contaminar e que mostrar sintomas sobreviverá. Se usarmos dados da prefeitura de Passo Fundo, veremos que, na faixa etária até os 40 anos, esse número de óbitos aproxima-se do ZERO, mesmo esta população correspondendo a quase 2/3 de toda população da cidade. Já idosos com mais de 75 anos correspondem a ampla maioria dos casos fatais, mesmo formando uma pequena fração inferior a um em cada dez cidadãos passo-fundenses.
Urge que analisemos mais profundamente estes dados para avaliarmos com mais calma e racionalidade o desafio que esta epidemia nos lançou. Decisões baseadas na epidemiologia poderão salvar mais vidas, direcionar melhor os recursos e identificar melhor possíveis vítimas, prevenir para estes grupos e diminuir o impacto social que medidas descabidas podem ter ou podem ainda causar.
De folha de pagamento até ajuda para grupos artísticos, muito dinheiro vai para a conta do vírus na cidade
Lá se vão quase 900 dias desde o primeiro caso de COVID-19 na cidade de Passo Fundo, mas o problema financeiro parece longe de acabar. A “Transparência COVID” da prefeitura aponta um gasto empenhado de R$ 7 milhões em 2022, até o dia 6 de setembro. Deste valor, foram pagos R$ 6,88 milhões.
A lista de beneficiados em 2022 com dinheiro público tem 260 nomes. Há pagamentos para empresas fornecedoras da saúde, como esperado, mas a maioria entrou como folha de pagamento (R$ 4,1 milhões). Passo Fundo ainda pagou R$ 800,00 para 203 pessoas a título de “Auxílio a Pessoas Físicas”, dentro de programas culturais em parceria com o governo do Rio Grande do Sul.
Acima: habilitação da Prefeitura de Passo Fundo em edital para cultura no governo do estado. Publicação do DOE completa, aqui.
Entidades tradicionalistas foram contempladas através da Lei 5564/2021, criadora do auxílio específico para o setor. A Lei do Executivo projetou um impacto financeiro de R$ 270 mil. As entidades receberam valores entre 5 e 20 mil Reais e precisam prestar contas das despesas autorizadas, que vão de pagamentos de aluguéis até despesas com instrutores.
Câmara aprovou
É bom lembrar que os gastos extras com dinheiro municipal passaram pela Câmara de Vereadores de Passo Fundo, com aprovação. Tema delicado, mas que exige uma avaliação profunda da casa para que fiscalize a destinação dos recursos, prestação de contas e o real impacto no orçamento de Passo Fundo, seja para mais ou para menos: se a cidade ficará prejudicada por falta de recursos que foram aplicados nos auxílios ou se o gestor teve liberdade para realizar gastos – perante a folga – que não realizaria em tempos normais. Que aliás já são normais faz tempo para quem não ganha dinheiro público em época de eleição.
Listão
Direto da transparência da Prefeitura de Passo Fundo, a lista com as pessoas e entidades beneficiadas com auxílio ou que tiveram produtos ou serviços pagos na “Conta COVID” no ano de 2022 (até o dia 6/9). Acesse aqui o PDF.
Recentemente, o Ministério da Saúde brasileiro decretou o fim do estado de emergência sanitária nacional. Na tribuna, Rodinei Candeia (REPUBLICANOS) apontou os erros e acertos dos órgãos públicos durante a pandemia de Covid-19.
“Eu vejo que essas entidades que se dizem protetoras dos direitos humanos em verdade usam as suas posições para impor o entendimento verdadeiramente político-ideológico sobre o comportamento das pessoas, querendo sobrepor a competência que tem o Executivo Municipal para tratar dessas matérias.” (Candeia)
Poucas semanas atrás, o prefeito de Passo Fundo Pedro Almeida se manifestou nas redes sociais acerca do uso obrigatório de máscaras na cidade. Na ocasião, disse que achava prudente a liberalização do uso em locais públicos, posteriomente promulgando decreto. Ocorre que muitas pessoas já não estavam usando máscara em locais públicos, embora muitos respeitassem as exigências relacionadas a ambientes fechados. Acabou sendo mais discurso do que uma ação efetiva sobre essa questão na cidade. Na prática, no entanto, muitos deram aquela interpretação lato sensu para o decreto, deixando até mesmo de usar máscaras em ambientes fechados.
Nesta história, é certo que alguns grupos, sobretudo aqueles que marcaram seu posicionamento “pró” tudo o que estava relacionado a covid e suas medidas autoritárias e restritivas, não deixaria o assunto por isso mesmo. E foi o que fez a Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo.
Então a CDHPF protocolou ação civil pública, a fim de obrigar a população a voltar a utilizar máscaras. Na Sessão Plenária do dia 30 de março, o vereador Rodinei Candeia criticou a postura da entidade:
“Eu vejo que essas entidades que se dizem protetoras dos direitos humanos em verdade usam as suas posições para impor o entendimento verdadeiramente político-ideológico sobre o comportamento das pessoas, querendo sobrepor a competência que tem o Executivo Municipal para tratar dessas matérias”.
Veja, a seguir, o trecho em que o parlamentar trata do assunto na tribuna: