Ignorada por décadas, a educação baseada em evidências ganha mais espaço na educação brasileira
Se o lateral esquerdo do seu time erra muitos passes, cobra mal os escanteios e não é competente na marcação dos adversários, em quatro ou cinco jogos, certamente, você irá reclamar junto com um amigo diante da televisão. O brasileiro sabe perfeitamente o que significa perceber as evidências do que é eficaz quando se trata de futebol. Coisa que pouco acontecia quando o assunto era educação. Durante muito tempo, as evidências do que realmente funciona em sala de aula não eram motivos para as grandes mudanças efetivas, salvo casos de esforços isolados.
Durante décadas – e mesmo agora com a aprovação do novo FUNDEB (já explicado aqui na LÓCUS – https://www.locusonline.com.br/2020/08/06/entenda-pec-que-torna-o-fundeb-permanente/ ) – muito das energias gastas nas ebulições sindicais e discussões sobre a educação brasileira girava entorno de investimentos e salários. Incólume, o socioconstrutivismo ia muito bem, obrigado. Mas os desastrosos resultados dos estudantes brasileiros em provas internacionais como o PISA (prova que avalia capacidades em leitura, matemática e ciências), em todas as edições, desde 1999, mostrou à educação patronada por Paulo Freire aquilo que a pesquisadora sueca Inger Enkvist tanto insiste: não se trata do quanto o país investe em educação, e sim no que investe.
A chamada Educação Baseada em Evidências é um campo de pesquisa bem desenvolvido fora do país. Desde a década de 1960, pesquisas e meta-análises que procuram verificar os maiores efeitos na aprendizagem, através dos métodos aplicados em alfabetização, leitura, interpretação e apreensão dos conteúdos, são levados em consideração na formação de professores e na elaboração de reformas educacionais. Basta ler os estudos de Jeanne Chall nos EUA (The Academic Achievement Challenge, 2000), de Clermont Gauthier e Steve Bissonnette no Canadá (Ensino Explícito e Desempenho dos Alunos, 2014), de John Hattie (Aprendizagem Visível para professores, 2017) na Nova Zelândia, para ver o nível em que se encontram as pesquisas sobre métodos e abordagens eficazes em sala de aula (no Brasil, é possível encontrar estudos do Instituto Alfa e Beto, coordenado pelo pesquisador João Batista Oliveira e as pesquisas coordenadas pelo professor José Francisco Soares, da UFMG).
O caso mais emblemático dessa discussão talvez seja o caso dos métodos de alfabetização – a querela entre método global ou método fônico. O método global caracteriza-se por ser uma abordagem do todo para as partes, priorizando o contexto e o significado das palavras; o método fônico prioriza uma abordagem das partes para o todo, do simples ao complexo, priorizando o som das letras e fonemas até chegar as palavras. Na maioria dos países com altos índices de proficiência em leitura e interpretação, o método fônico é o utilizado. Além disso, muitas evidências científicas já foram apresentadas sobre a prevalência do fônico sobre o global – basta ver o projeto americano Follow-Through (estudo de larga escala, realizado entre 1968 a 1995, envolvendo mais de 70 mil crianças), livros como o de Jeanne Chall (Learning to Read: The Great Debate, 1967), pesquisas recentes como a de Stanislas Dehaene (Os Neurônios da Leitura, 2011), ou recentemente a de Kátia Benedetti (A falácia do socioconstrutivismo, 2020).
É por essa razão que o Plano Nacional de Alfabetização, lançado em agosto de 2019 pelo MEC, merece atenção e acompanhamento. Trata-se de uma mudança significativa na maneira de abordar um fenômeno vital do processo de educação. As diretrizes apresentadas no PNA têm como fundamento a educação baseada em evidências científicas e uma forte orientação para a abordagem fônica.
Até o presente momento, essas orientações do MEC encontram-se na fase de formação de gestores e professores da pré-escola aos primeiros anos do ensino fundamental. Lançado em fevereiro deste ano pela Secretaria de Alfabetização, sob os cuidados de Carlos Nadalim, o programa Tempo de Aprender, baseado no PNA, tem como objetivo enfrentar as causas de deficiências da alfabetização nacional, começando pela formação docente através de cursos online e presenciais, passando por fornecimento de material e recursos digitais, assim como medidas de verificação de desempenho. Até o momento de redação desse texto, mais de 3.800 municípios brasileiros já aderiram ao programa, constando mais de 3 milhões de acessos ao curso online gratuito sobre alfabetização.
Evidentemente que essa mudança de orientação não causa impacto imediato – resta acompanhar os rumos que esse novo plano de alfabetização trará para a educação básica brasileira. Os efeitos e os resultados em educação não são observáveis de imediato como imagens de novas estradas, pontes ou aeroportos: leva o tempo de uma ou mais gerações – assim como hoje sabemos que o resultado de décadas das orientações anteriores foram um fracasso retumbante.
Dicas de leitura:
– A falácia socioconstrutivista – Kátia Simone Benedetti
– Ensino Explícito – Clermont Gauthier
*Cidney Antonio Surdi Junior – Professor e pesquisador na área de história da educação, filosofia e cultura. Mestre em Filosofia pela UFPR. Criador do canal Filosofando Podcast e pai do Dante.
Entenda o que muda no educandário que receberá o modelo
Recentemente, Passo Fundo recebeu a notícia de que, em breve, contará com uma Escola Cívico–Militar. O educandário escolhido foi a Escola Municipal de Ensino Fundamental Georgina Rosado, localizada no bairro Lucas Araújo.
De iniciativa do Ministério da Educação, em parceria com o Ministério da Defesa, o Programa Nacional das Escolas Cívico-Militares (Pecim) apresenta um conceito de gestão nas áreas educacional, didático-pedagógica e administrativa com a participação do corpo docente da escola e apoio dos militares. A proposta visa melhorar o processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas, baseando-se no alto nível dos colégios militares do Exército, das Polícias e dos Corpos de Bombeiros Militares.
As Escolas Cívico-Militares (Ecim) são escolas públicas regulares estaduais, municipais ou distritais que aderirem ao Pecim. O Decreto nº 10.004, de 5 de setembro 2019, instituiu o Programa, cuja gestão será alcançada por meio de ações destinadas ao desenvolvimento de comportamentos, valores e atitudes, com vistas ao desenvolvimento pleno do aluno e ao seu preparo para o exercício da cidadania.
Também noutra matéria, publicada em março de 2020, foi noticiado que o MEC definira as 54 instituições de ensino que iriam implementar o projeto-piloto das escolas cívico-militares em 2020, espalhadas por 22 estados e pelo Distrito Federal, para promover um salto na qualidade educacional do Brasil. A lista foi divulgada pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub, no final de fevereiro daquele ano. No estado do Rio Grande do Sul, cinco escolas foram contempladas na ocasião:
Alvorada: Escola Est. de Ensino Médio Carlos Drummond de Andrade
Caxias do Sul: Escola Estadual de Ensino Médio Alexandre Zattera
Alegrete: Instituto Estadual Osvaldo Aranha
Bagé: Escola Municipal Cívico Militar de Ensino Fundamental São Pedro
Uruguaiana: EMEF Do Complexo Escolar Elvira Ceratti – CAIC
Em Passo Fundo, a discussão sobre o assunto ganhou coro nas vozes dos vereadores Ada Munaretto (PL) e Nharam Carvalho (DEM). Em 20 de agosto deste ano, um debate acalorado sobre o tema reverberou na tribuna da Câmara de Vereadores de Passo Fundo. Nharam Carvalho (DEM) criticou os ataques realizados por sindicatos e grupos de professores ao modelo de escola cívico-militar, já em curso no Brasil. Relatou que, em pesquisa própria realizada com famílias, foi unânime o posicionamento favorável à implementação do modelo. De acordo com o parlamentar, a proposta resgata valores patrióticos que as escolas deixaram de seguir. Além disso, a disciplina instituída aos alunos é alvo de muitos elogios, com mudanças de postura significativas por parte dos alunos. Ada Munaretto (PL) disse já ter visto inúmeros depoimentos de professores e diretores dessas escolas, nas quais os problemas de disciplina e aprendizagem foram solucionados a partir da ordem estabelecida. Para ela, as críticas não fazem sentido e são infundadas. Vereadora Eva Lorenzatto (PT) atacou o modelo, sugerindo que se fizesse um plebiscito sobre o tema para a população decidir. Rodinei Candeia (PSL), citando a situação com o Estatuto do Desarmamento, rebateu: “Vereadora, o seu partido não é exemplo em matéria de plebiscito. Em relação ao desarmamento, ignorou solenemente a vontade popular. Plebiscito, para vocês, é apenas quando os seus interesses são atendidos”.
Na Sessão do dia 19 de agosto de 2021, Ada Munaretto (PL) anunciou que a Escola Municipal de Ensino Fundamental Georgina Rosado, no Bairro Lucas Araújo, teria modelo cívico-militar implementado. A proposta foi aprovada por 100% dos membros da comunidade escolar.
O projeto a ser implantado em Passo fundo é o estadual, de autoria do deputado estadual tenente–coronel Zucco. O modelo já foi implantado em 25 municípios do Estado, e prevê, entre outras coisas, a gestão compartilhada entre a Secretaria da Educação e a de Segurança Pública. Já a gestão pedagógica, é de responsabilidade de pedagogos e demais profissionais da área da Educação.
Vereadora Ada Munaretto (PL), em reunião com o deputado estadual tenente-coronel Zucco, no mês de fevereiro, na Assembleia Legislativa do RS.
No entanto, as Escolas Cívico-Militares não são todas iguais. Em algumas unidades, há a Associação de Pais e Mestres, por meio da qual os responsáveis podem fazer a doação de algum valor para auxiliar no custeio dos itens, mas a contribuição é voluntária. As Escolas Cívico-Militares são sempre gratuitas, e o projeto estadual, o qual será implantado no município, é implantado em escolas municipais.
O processo para viabilizar a implantação na Escola Georgina Rosado partiu da vereadora Ada, que, no início do ano, entrou em contato com a diretora, Elizete Flores, e apresentou a proposta. Elizete então inscreveu a Escola para concorrer.
Em fevereiro, Elizete Flores, diretora da Escola Georgina Rosado, quando foi assinado o protocolo de intenção do educandário em adotar o Programa Cívico – Militar, ao lado da vereadora Ada Munaretto.
Anterior à inscrição da Escola na Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), demonstrando interesse em receber o modelo, foi realizada uma Audiência Pública com a comunidade escolar, onde foram esclarecidos diversos pontos referentes às ECM. De acordo com Elizete Flores, o modelo foi aprovado por unanimidade dos professores, pais e comunidade em geral. Posterior a isso, o prefeito Pedro Almeida encaminhou o interesse da Escola à SEDUC.
Conforme Ada, a possibilidade de trazer a Escola Cívico-Militar também foi possível a partir da indicação do modelo na Lei Orçamentária de 2022, aprovada recentemente na Câmara Municipal de Vereadores.
“A Escola Cívico-Militar é um compromisso de campanha alcançado. Logo no início do nosso mandato, estivemos em Porto Alegre em reunião com o deputado Zucco, após, conversamos com a Escola e aprovamos na LOA. Estamos muito felizes com a contemplação da Georgina Rosado”, declarou a vereadora.
O bairro Lucas Araújo, onde a Escola está localizada, é habitado por militares, filhos e famílias de militares, o que facilitou o entendimento e a aceitação por parte daquela comunidade.
Estão entre as principais ações estabelecidas pelo modelo Cívico-Militar, a presença de monitores militares da reserva, nas áreas comuns da Escola como corredores e áreas abertas. Os monitores não interferem no ensino pedagógico e dentro das salas de aula, sendo que, uma das funções da monitoria é a disciplina, ressaltar a importância dos valores como civismo, amor à pátria e respeito, entre outros. Os monitores serão escolhidos por meio de um processo seletivo e deverão cumprir uma soma de pontos para alcançarem a aprovação.
Outras escolas de Passo Fundo já demonstraram interesse em adotar o modelo, mas ainda não há nada oficial.
*Rafaela Branco é jornalista, a quem a equipe da Lócus Online agradece pela colaboração
Por melhor que sejam as intenções dos professores, o uso dos celulares em aula é um verdadeiro convite à distração, ainda que possibilitem maior interatividade e inclusão digital. Cada dia fica mais claro que um uso mais ponderado e atento da tecnologia digital dentro das escolas é uma necessidade, e não um obstáculo ou retrocesso.
A pandemia de 2020 forçou escolas, professores e alunos a se adaptarem a uma nova realidade de ensino, mediada totalmente pelo ambiente digital. Muitas escolas e professores se viram na obrigação de adquirir e desenvolver competências digitais, antes não priorizadas. Aulas online, utilização de plataformas digitais, manejo de aparelhos, câmeras e microfones se tornaram forçosamente aparatos educacionais. As circunstâncias impuseram ações necessárias, para o bem ou para o mal.
Muitas instituições, contudo, enxergaram nessas circunstâncias uma possibilidade para assumir de vez as possíveis vantagens que a tecnologia digital pode, enfim, trazer à educação. Inserção de material didático digital, atividades, exercícios e provas digitais, tarefas de casa online, tudo isso acabou sendo adotado por muitas escolas como o modus operandi, mesmo com o retorno das atividades ao sistema presencial. Mas, sobretudo, o uso de dispositivos digitais, como o celular, se tornou uma prática comum e intensificada dentro de sala de aula, sob o usual e conhecido argumento de que a educação deve acompanhar as novas tendências da sociedade. Da necessidade passamos a aceitar novas práticas.
Visto de fora, possivelmente muitos acreditam que a utilização de celulares e tablets em aula pode ser um fator de diferenciação escolar, seja por tornar as coisas mais interativas e atraentes, seja por ser uma forma de dialogar, seja por despertar o interesse dos jovens desta geração. Afinal, essa é uma geração de nativos digitais hiperconectados, muitos dirão.
Mas, então, por que os CEO’s das grandes empresas de tecnologia digital (como Apple, Google, e-Bay, Uber, Microsoft e Snapchat) colocam seus próprios filhos em escolas onde o uso dos celulares, tablets e computadores é restringido ou simplesmente proibido? Por que as escolas de elite mais procuradas do Vale do Silício, epicentro digital no Ocidente, priorizam o uso do velho lápis, borracha e papel, sem tela digital alguma? Por que grande parte das famílias desses CEO’s restringe absolutamente o uso de aparelhos digitais mesmo em suas próprias casas?
Como já mostrei em artigo anterior aqui na Lócus, o grau de dependência que o uso abusivo e recreativo dos celulares causa entre os jovens é muito alto. Tanto pelo aspecto fisiológico e neurológico (causando um real vício comportamental), como pelo aspecto psicológico e cognitivo (causando uma diminuição na capacidade de concentração e aumento da ansiedade), o uso abusivo dos celulares já é um problema a ser considerado a nível clínico e patológico. Cada vez mais, estudos mostram os impactos negativos causados pelo uso frequente e sem ponderação dos celulares em aula. Os CEO’s das Big Techs sabem precisamente disso.
Diante de um cenário em que a necessidade impôs a rendição a telas, muitas escolas acabaram por depositar suas fichas de redenção no investimento em tecnologia digital, firmando contratos com programas e plataformas, fornecendo notebooks e tablets aos seus jovens alunos ou incentivando o uso dos recursos digitais em sala de aula. No entanto, há uma lição a ser tirada das escolas no Vale do Silício. Todo frenesi tecnológico em educação, advindo ou não da necessidade, requer prudência. Um jovem que tenha a ocasião de utilizar um celular ou notebook para realizar alguma atividade online em aula estará à mercê da navegação irrestrita e das notificações que não cessam de aparecer em sua tela. O esforço para concentrar-se normalmente é dobrado, a atenção é multifacetada e a distração é impulsionada.
Por melhor que sejam as intenções dos professores, o uso dos celulares em aula é um verdadeiro convite à distração, ainda que possibilitem maior interatividade e inclusão digital. Cada dia fica mais claro que um uso mais ponderado e atento da tecnologia digital dentro das escolas é uma necessidade, e não um obstáculo ou retrocesso.
O livro “Nacionalismo em Perspectiva” será lançado no dia 3 de dezembro
A Escola Superior de Advocacia da Ordem gaúcha (ESA/RS) e o Grupo de Estudos em Direito Internacional e Migratório da ESA-OAB/RS lançarão, no dia 3 de dezembro de 2021, o e-book “Nacionalidade em perspectiva: estudos comparados à luz da experiência brasileira, europeia e possíveis reflexos nas políticas migratórias”.
Cesar Augusto Cavazzola Junior, colunista da Lócus, escreveu o capítulo “ASPECTOS GERAIS DA LEI DE MIGRAÇÃO”, o qual destina-se a apontar aspectos gerais da Lei nº 13.455, de 24 de maio de 2017, conhecida como Lei de Migração, publicada durante o Governo Temer, regulamentada pelo Decreto nº 9.199, de 20 de novembro de 2017, que revogou a Lei nº 818, de 18 de setembro de 1949, também a Lei nº 6.815, de 19 de agosto de 1980, conhecida como Estatuto do Estrangeiro. A intenção, portanto, limita-se no reconhecimento e alcance do novo texto, desconsiderando – sem negar a importância, contudo – a abordagem crítica ou revisão bibliográfica acerca do tema.
O lançamento terá transmissão no Portal da ESA e também no canal do Youtube da Escola, a partir das 14h.