Os Pioneiros de Rochdale são considerados os pais do cooperativismo por terem criado em 1844 a Sociedade dos Probos de Rochdale, o primeiro modelo de cooperativa moderna, formada por 28 operários ingleses em uma época de pobreza e poucas oportunidades. Um rígido estatuto social ditava as regras da participação dos associados, a forma de comercialização dos produtos e o destino das receitas.
Vendendo suprimentos como manteiga, farinha, aveia, açúcar e velas, a cooperativa atraiu centenas de associados que enfrentavam desafios extremos para levar a produção até a cidade, como longas viagens à pé, realizando o transporte das mercadorias em carrinhos de mão. No ano de 1860, 3450 associados participavam da cooperativa, produzindo e colocando no mercado uma diversidade de produtos para a matriz e mais 5 filiais.
O cooperativismo é regido por sete princípios básicos: a adesão livre, administração democrática, participação econômica, autonomia e independência, “educação, formação e informação”, intercooperação e interesse pela comunidade. Nobres em sua existência e significado, mas esquecidos por muitos membros de cooperativas das mais diversas finalidades no Brasil.
Golpes e desmandos em cooperativas não são novidade e os gaúchos viram mais um triste evento ocorrido no estado, onde uma cooperativa de agricultores, a Cooplantio, foi acusada de desviar cerca de 17 milhões de um dos associados, vendendo soja depositada ao longo de 4 anos, sem repassar ao associado. A polícia investiga o caso e a Cooplantio emitiu nota negando veementemente as acusações.
Manter uma cooperativa é muito diferente de manter uma empresa, na forma legal da operação e especialmente na filosofia que, via de regra, deveria ser empregada na gestão e participação dos associados. Aos olhos do público, existem poucas diferenças além das tradicionais nomenclaturas e simbolismos, mas o princípio da falência de uma cooperativa está justamente nesta aproximação viciosa com a gestão empresarial padrão. Cooperados não podem esquecer que também são donos, partes do organismo e que respondem pelos sucessos e insucessos. O distanciamento, a entrega do poder total para presidentes e gerentes, através de assembléias que apenas “cumprem tabela” corrompem o cooperativismo, tornando a cooperativa uma “empresa” sem qualquer diferenciação além da constituição legal. Estes males são apontados em muitas das investigações das causas em problemas de quebras (as cooperativas no Brasil são regidas pela Lei 5764/1971 e não são sujeitas à falência).
Se nossas deficiências morais conseguem abalar e corromper esta associação – tão bem intencionada na origem e fruto da extenuante experiência humana na Inglaterra do século 19 – o que dizer do efeito em nossa política? Fala-se de uma crise de representatividade e de instituições que perderam o respeito, mas pouco se faz para reverter o quadro através da participação ativa do cidadão, que elege o político e renega o posto de “parte de algo maior”. Até mesmo quem tem participação direta na política municipal tem sua culpa, basta comparar a quantidade de pessoas que frequentam sedes de partidos em Passo Fundo neste momento com o número de interessados nas lidas da república e rumos do partido durante o período eleitoral.
Existe uma forte corrente que defende, com razão, que não há saída sem uma total reforma política, a adoção do voto distrital, maiores exigências para a disputa de cargos e rápida punição para envolvidos em crimes. De qualquer maneira, até a adoção de práticas mais transparentes e a criação de novas leis, muita coisa poderia melhorar pelo simples fato de fazer direito, dentro da realidade possível. Estamos parados, esperando pelo melhor. E este melhor tarda a vir por conta de nossa inércia. É um círculo vicioso.
Os pioneiros do cooperativismo na Inglaterra de 1840 e os congressistas brasileiros de 2017. A serenidade da auto-suficiência versus a crise da representatividade.
A história se repete. Se a Inglaterra da primeira metade do século 19 em meio ao caos da pobreza, fome e miséria material nos deu o cooperativismo, também assentou alguns tijolos na construção do pensamento marxista. E antes dos pioneiros de Rochdale venderem o primeiro tablete de manteiga, o movimento cartista exigia (vejam só) voto distrital e moralização da política, com pagamento justo para políticos eleitos.
Revisitar os ideais dos pioneiros cooperativos e o exemplo de vida destes sobreviventes ingleses pode jogar uma luz em nossos problemas atuais. Uma sociedade que toma para si a resolução dos problemas mais próximos, tem compromisso com as gerações futuras e coopera, tem tudo para sobreviver ao caos. Sejamos a luz de um novo cooperativismo e não a treva de uma nova ideologia especializada na divisão e na morte, em todos os sentidos.
Críticas à PMG de Passo Fundo acaba em discussão na Câmara. Petismo ataca novamente
Na Sessão Plenária do dia 18 de maio de 2022, Regina dos Santos (PDT) discutir recente projeto de autoria do Poder Executivo Municipal sobre a alteração do plano de carreira dos professores municipais.
Aproveitando a deixa, o petista Nicolau Neri Grando (PT) tira o foco do tema para tecer críticas à Procuradoria Geral do Município. De acordo com o parlamentar, os processos que passam pelas mãos da Procuradoria acabam atrasando o andamento: É um atraso em todos os processos que passam pela PGM”.
Wilson Lill (PSB), em seguida, manifestou o equívoco na fala de Gomes, pois apontou que em todos os processos a Procuradoria avalia o melhor caminho e busca encontrar soluções. Para ele, não é um debate de minutos, mas uma construção de diálogo que muitas vezes demandam meses de debates e alterações.
Nharam (União Brasil) pontuou: “A PGM não é um time invasor de terras lá do MST”. Janaína Portella (MDB), que em outra oportunidade já fez parte da PGM, disse que a análise segura dos pareceres jurídicos emitidos pela Procuradoria são imprescindíveis para a tomada de decisão dos gestores públicos. Nharam segue: “O senhor me envergonha com essas colocações. Acha que está falando do STF?!?”
Permitindo aparte, Gomes manifestou a intenção da sua fala referente à PGM:
Fake News se tornou um verbete comum no cenário político desde que Donald Trump o proferiu em alto em bom som, bem na cara da imprensa norte-americana. De lá para cá, como tudo que o ex-presidente americano faz ganha repercussão, esse ponto não ficaria para trás. Fake News são informações falsas com a intenção de enganar. Não é um engano culposo, mas doloso. Há intenção de enganar o público, apenas para marcar a narrativa.
Quando nos deparamos com as redes sociais de muitos políticos pelo Brasil afora, podemos ter a falsa impressão de que eles estão, de fato, resolvendo uma série de problemas da nossa sociedade, fazendo pautas importantes avançarem. Não é bem por aí…
“Encaminhamos um pedido de providência”
Vamos dar um exemplo do que ocorre em Passo Fundo. Ao ler “Encaminhamos um pedido de providências a respeito de…”, é comum ao leitor pensar que o problema está (ou num curto espaço de tempo estará) resolvido.
Um pedido de providência não passa de um encaminhamento, na maioria das vezes realizado pelos gabinetes dos vereadores, solicitando que o Poder Executivo Municipal realize determinada obra ou demanda de uma comunidade.
Se procurar, os pedidos de providência vão de trocas de lâmpadas até paz mundial (ok, estamos exagerando). Asfalto, pintura, limpeza de praças… por aí vai. Um vereador, neste ponto, acaba refém das próprias limitações que a lei lhe impõe. A execução de obras, enfim, é atividade do Executivo. Vereador legisla e fiscaliza (ou deveria fiscalizar).
Pedido de providência é um tipo de publicidade enganosa
Sobre pedidos de providência, muitos vereadores fazem a festa. Não queremos citar ninguém em especial. Infelizmente, poucos escapam dessa publicidade (enganosa) nas redes sociais.
Não estamos querendo dizer que o público está sendo dolosamente enganado: na verdade, o vereador faz o que a lei permite. Os pedidos, portanto, são realmente encaminhados.
O que dá a entender, por outro lado, é que o assunto está resolvido. Na maioria das vezes não está.
“Aprovamos um projeto”
Quando um político afirma “Aprovamos um projeto de minha autoria”, todo cuidado também é pouco. É difícil estimar precisamente, mas a falta de eficácia das leis no Brasil não é assunto para amadores. Talvez a vocação nacional seja descumprir leis. Não é de todo culpa do nosso povo: o nosso universo legislativo é um oceano inabarcável de normas.
Nesse sentido, uma parte considerável das leis aprovadas são “leis pra inglês ver”: elas existem no papel, mas não mudam a vida da população em nada (ou muito pouco). Lei aprovada, entendam, é papel; sua execução, é outra coisa.
Ao longo dos anos de trabalho na Lócus, foram inúmeras as referências que fizemos nesse sentido. Quase toda semana um vereador sobe na tribuna e reclama da falta de cumprimento de leis aprovadas. Para citar um único exemplo, da legislatura passada:
Toson abriu seu Grande Expediente fazendo uma críticas às cobranças recebidas pelos parlamentares sobre o número de leis propostas. Para o vereador, trata-se de uma distorção realizada sobre o trabalho legislativo.
No Brasil, conforme dados apresentados, há mais de 5 milhões de leis em vigor, segundo um estudo da Fiesp. Para Toson, há uma ideia de que, ao se criar uma lei, magicamente o problema estará resolvido no dia seguinte. Isto prova que, para a resolução de um problema da sociedade, a lei é apenas uma etapa, não o processo completo.
Para o parlamentar, a lei acaba sendo uma espécie de abstração para se criar uma ilusão que o problema está sendo solucionado, o que é muito distante da realidade. De acordo com um dos exemplos citados, há a lei que proíbe o consumo de bebidas alcoólicas nas ruas de Passo Fundo. O projeto havia sido proposto como forma de coibir as constantes denúncias de algazarras nas ruas do Município. O problema, no entanto, permanece.
Projetos em andamento: o marketing político desnecessário
Projetos em andamento também podem causar uma série de enganos no público. Veja, a seguir, recente postagem do deputado estadual Mateus Wesp (PSDB):
O que significa dizer que “um projeto foi aprovado numa comissão”? Nada além de que a pauta está tramitando, mas o caminho pode ser ainda longo (isso se for aprovado, é claro).
Nessa postagem de Wesp, o público percebe a notícia de outra forma, como se parte do problema já estivesse resolvido, mas não está.
Provavelmente esse projeto nem seja aprovado nesta legislatura. Pode ser que Wesp nem se reeleja deputado estadual. Pode ser que esse projeto reste engavetado. Pode ser que esse projeto seja esquecido. Pode ser que seja submetido à votação: pode ser aprovado ou não. Se for aprovado, pode ser que o Governador vete. Se vetar, os deputados poderão ou não derrubar o veto. Conseguem perceber parte do problema?
Por isso, não sejam enganados por postagens de políticos nas redes sociais. A palavra “lei”, no Brasil, está banalizada desde que éramos uma monarquia. Faça um favor a si mesmo e pare de ser enganado por esse tipo de postagem. E sobretudo pare de ser enganado por alguém com cara de bom moço, que fala bonito e que não tira o terço do pulso.
A petista segue a cartilha que ganhou coro nos últimos meses Brasil afora, falando em “pobreza menstrual”
A vereadora Eva Lorenzato (PT) protocolou duas emendas impositivas ao orçamento municipal para compra de absorventes para distribuição à população mais carente da cidade, além da promoção de uma campanha de conscientização quanto ao problema da pobreza menstrual. De acordo com a parlamentar:
“Com a renda per capita do povo pobre sendo de até R$ 87 por mês, se você é mãe, vai optar entre comprar um pacote de absorvente por R$ 15 ou comprar leite para seus filhos?”